quarta-feira, 15 de agosto de 2012

FIM e INÍCIO

Respiração difícil. Olhos marejados. Pele amarelada. Lá estava ele deitado sob um velho colchão manchado e sujo. Um velho pijama rasgado  vestia o magro e esquálido corpo daquele homem. Tudo a sua volta é miséria.  O quarto, a casa, os móveis estão decadentes como a própria existência daquele cidadão.
Quem não o conhece, pode até imaginar se tratar de algum indigente. Alguém desprovido de condições culturais e sociais e que sempre viveu sob o estigma da pobreza.
O que poucos sabem é que deitado naquele mísero leito encontra-se um doutor. Um homem das letras, um erudito. Em tempos de ouro, era recebido em palácios e reverenciado por uma alta sociedade, que o acolhia e respeitava.
Poeta, escritor, senhor da literatura, versado em leis era capaz de entreter por toda uma noite dezenas de pessoas, com suas histórias e sabedoria.
O que fez aquele homem, mudar tão radicalmente a sua trajetória? Que motivo, fez dele um mendigo, um miserável?
Como nos romances, o amor pode ser considerado o fio condutor para a tragédia. Como nas mais famosas histórias escritas e cantadas, a impossibilidade de realizar o sonho de ter em seus braços a pessoa eleita por seu coração. Querer e não poder. Amar e não ser correspondido. Sonhar e ficar no vazio da solidão. Todas essas questões abrem espaços para que a desilusão gradativamente vá habitando um coração apaixonado.
Morrer de amor ou de amor se deixar morrer é algo mais comum do que possamos imaginar.
Como preencher um coração vazio? Como completar uma alma dividida?    
Deitado naquela cama humilde estava mais uma vítima do amor não correspondido. Um corpo em frangalhos, uma alma destruída, uma vida desperdiçada.
Como um marinheiro que naufraga junto com seu navio, aquele homem, afundou na solidão e se afogou no infinito mar da paixão.
Fim de uma vida que fez do amor uma arma apontada contra o próprio peito.
Morrer é preciso para perpetuar um amor impreciso.
Fim de uma vida. Início de uma história.
Edison Borba

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