terça-feira, 12 de julho de 2011

UM ESTRANHO.

Aquele sorriso cativante  escondia algo que ninguém conseguia definir. Os olhos de um azul celestial  estavam marejados de lágrimas não derramadas por sentimentos de culpa. Ele era um jovem inteligente, possuidor  de uma beleza angelical, a quem o mundo deveria aplaudir. Em vez disso ele agia como uma fera ferida, olhando para todos com  ódio e uma fúria pronta para explodir. Com uma maestria incrível, conseguia disfarçar esses sentimentos, distribuindo sorrisos e causando sensações calorosas em todos com quem convivia. Sabia proferir palavras calorosas e envolventes, que deixavam homens e mulheres plenos de vontade de partilharem de sua intimidade. Quando alguém se aproximava além dos limites por ele estabelecido, encontrava alguma forma de congelar o admirador. Os mais atentos conseguiam perceber que as suas palavras calorosas ocultavam uma fria indiferença. Manipulava os outros, fingindo estar sensibilizado com suas histórias. Aqueles olhos, sempre úmidos, como se estivesse prestes a chorar, comovia principalmente as mulheres. Foi assim que conheci aquela criatura. Reservo-me  o direito de não classificá-lo como homem ou mulher, criatura é o que melhor pode traduzir aquele ser. Estava fadado e encontrá-lo durante uma festa. Ao avistá-lo rodeado de várias pessoas, me despertou a curiosidade. Quem seria? Por que tantos o admiram? Que fascínio ele consegue exercer sobre os convidados? Instintivamente fui atraído para a multidão que o adorava. Por alguns momentos, não consegui entender o que estava fazendo ali, junto com todos aqueles seres inebriados pelo anjo azul. Parece que quando a gente se sente confuso, nos vemos negativamente. E nos tornamos presa fácil para qualquer abutre. Foi dessa maneira que ele percebendo a minha insegurança, dirigiu-se a mim. Me senti, como se durante um jogo, o blefe do adversário, me tirasse a possibilidade de vencer, mesmo sabendo que estava sendo enganado. Inteligentemente, através de uma manobra elegante, ele se desvencilhou dos demais e ficamos apenas nós dois. Era um narciso diante de um patinho feio. Espantei-me por notar que jamais havia estado numa situação como aquela. Por alguns segundos não conseguia me defender. Fiquei com raiva de mim, da situação. Comecei a ficar aflito por me sentir aprisionado pelo anjo do mal. Ele percebendo a minha insegurança se aproximou ainda mais. Concedi-lhe alguns momentos para ordenar meus pensamentos. Vendo que eu não reagia do modo como ele esperava, ficou nervoso e eu fiz-lhe notar que ele estava se descontrolando. Finalmente a máscara do anjo estava prestes a cair. Uma lágrima brotou no canto de um dos seus olhos. Ele então se enfureceu. E através da raiva a verdade começava a surgir. O poderoso, o inflexível, o dominador finalmente se mostrava confuso e perturbado. E com a voz trêmula, perguntou:

- Você acha que eu gosto de enganar as pessoas?  Não reagi.
- Você me acha um farsante? Permaneci calado.

Ele respirou profundamente e relaxou. Não pude resistir à tentação, arrisquei dizer-lhe o que realmente pensava. Falei-lhe sobre a vida que, em minha opinião, ele estava tendo com os seus joguinhos e manipulações. Com suas atitudes não tinha um só amigo de verdade, e que seu maior medo era de se sentir só.
Ele ficou imóvel. Pensei que talvez tivesse sido duro demais com ele. Antes de começar a me apiedar, respirei fundo, e me afastei. Nunca mais tive notícias. Gostaria de poder afirmar que ele se transformou e que hoje sorri  sem esperar agradecimentos nem aplausos.

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