sexta-feira, 22 de julho de 2011

VIAJAR FOI PRECISO

Durante alguns anos, para atender a compromissos profissionais, viajei pelo Brasil de norte a sul e de leste a oeste. Viajar foi preciso, para que eu pudesse descobrir os Brasis que existem no Brasil. Como educador revi  e mudei conceitos. Imagens construídas a partir da leitura de romances, poemas e reportagens foram se desfazendo gradativamente da minha cabeça. De avião, ônibus, carro, barco, caminhonete, boléia de caminhão, canoa e muitas vezes a pé, cheguei a regiões que não fazem parte dos  tradicionais roteiros turísticos. Nunca imaginei que pudesse haver escolas funcionando em lugares tão diferentes daqueles que eu habitualmente conhecia. Em cada localidade visitada, encontrei professores, brasileiros como eu, que apesar de todas as diversidades, teimavam em manter suas atividades pedagógicas de forma digna. Mesmo sem apoio pedagógico, nem material especializado, as aulas desses heróis  exibiam criatividade. Apesar das situações desfavoráveis, tristeza não fazia parte  do convívio do seu programa escolar. Por mais simples que fosse o espaço, havia sempre algo colorido a estimular a garotada. Nas salas improvisadas, a alegria  era parte obrigatória das atividades e o processo educativo acontecia de forma adequada. Minhas observações,  detiveram-se nessas pessoas, diferentes – os professores. Não me refiro aos que conhecemos nas grandes cidades,  formados por instituições superiores, portadores de diplomas e títulos. Os pomposos, titulados e titulares, que trancados em seus saberes acadêmicos, perdem a consciência do seu compromisso com a sociedade.  Minha atenção é para aqueles que conseguem transformar sonhos em realidade. Os grandes  transmissores de saber. O perfil destes brasileiros é de otimismo, coragem, criatividade, tolerância e paciência. Não são alienados, conscientes de suas funções, conseguem manter a ética no ato de ensinar. São homens e mulheres inovadores e empreendedores, que mesmo sem dispor das modernas  tecnologias educacionais, não perderam o senso crítico e a capacidade de perceber as diferenças sociais vigentes em nosso país. Não são pessoas tolas ou de postura sacerdotal, são orgulhosos professores que sabem fazer a diferença. Apertados em pequenas salas, sob a copa de árvores ou atuando em escolas inundadas pelas cheias dos rios. Enfrentando forte calor, ou em temperaturas muito baixas, essa gente trabalha. Existe uma força genética, que os fazem mutantes na luta pela melhoria das condições de vida em nosso país. Eu que freqüentei grandes centros universitários, e que durante anos acreditei, que sem material didático pedagógico adequado, não conseguiria transmitir aos meus alunos os difíceis conceitos educacionais, me surpreendi diante desses mestres.  Sem dúvida, é produto genético! Acredito que sem esse fator seremos apenas diplomados ou profissionalizados, porém faltará aquele  algo a mais que faz de um simples cidadão, um artista. Os portadores desse dom, são lutadores incansáveis, formam um grande exército que é imprescindível na manutenção da hegemonia brasileira. Estão espalhados em todas as regiões. Apresentam-se sob as mais diferentes características físicas e sociais. Contracenei com eles, neste imenso teatro brasileiro. Contracenei mesmo! Troquei informações e aprendi o que é ser brasileiro.

Edison Borba – Professor / Coordenador do PINCE

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