Do carnaval que passou
Voltar à realidade
Olhar
a própria imagem
Desnuda
frente ao espelho.Fantasias rasgadas, feita em pedaços, no chão.
Agora
só os mistérios dos meus abismos, solidão.
Volto
às trevas de uma neblina espessaDo que restou dos meus sentidos.
Cantei,
dancei por três dias.
Mostrando
meu rosto sem medo, no meio da multidão.Sem as máscaras sociais, enfrentei a agonia.
Sem
esconder minha face, fingi ser só alegria.
Hoje
sou defunto, sem túmulo, estou perdido e sem rumoSinto-me morto pra vida, estou ausente de mim.
Não
consigo lastimar, sei apenas escutar,
Ruídos,
murmúrios lamentos.Sinto a tristeza, tomar conta de meu corpo.
Minha
pele ressecada deixa claro minhas rugas
Fecho
os olhos pra não me verTranco os lábios pra não falar
Meus
olhos deixam lágrimas, pelo meu rosto escorrer.
Nunca
vivi um romance, dos que duram num sem fim.Apenas o carnaval me permite um enredo
E
consigo transformar pobre vida em poesia
Mas
quando acaba a folia, sinto que estou sufocando.Mergulho em profundo abismo de tóxicas realidades
Há
desgosto em minha alma, um torpor não sei porquê
E
quando sinto que a hora de morrer me é chegada, Ouço ao longe, tamborins, tambores e mil cantares.
É
carnaval novamente, tenho a vida prolongada.
Guardo
minha mortalha, por mais um ano, talvez.Minha desgraça adiada, ninguém terá que chorar.
Vou
pra folia dançar, viver com intensidade,
Mostrar
meu rosto lavado, branco pálido e tristonho.Deixar que pensem eu usar, a máscara da impiedosa morte
Por
dentro estou sorrindo, enganando vou vivendo.
Tenho
três dias apenas para fingir liberdadeMas quando a festa acabar,
Minhas
cinzas vão jogar em algum terreno fértil
Onde
irão crescer árvores, que darão frutas e flores Para homenagear a quem nunca teve e terá amores.
Edison Borba
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