Rose Araújo, professora, escritora, designer e quadrinhista, em seu livro “Iscola ... o crime”, nos apresenta uma série de nomes de alunos que passaram por suas aulas e também pelas salas de outros professores, que contribuíram para essa coleção um pouco diferente das que estamos acostumados a ver. Alguns foram criados pela junção dos nomes dos pais. Outros são homenagens a artistas ou pessoas famosas. Mas, todos, são bastante peculiares, fugindo à regra de se chamar Maria, João, Celina ou Valdemar.
Nas fichas de chamada, de diversas escolas, encontramos: Absórbe, Briiann, Cheyenne, Shayla, Fransbeckquembaldo, Neyfson, Merdoléia e Natanaelcenir. Esses e muitos outros fizeram parte do mundo encantado das nossas classes escolares.
A história que vamos contar está relacionada com essa questão. O nosso herói foi batizado com o incrível nome de Pelego. Durante a sua infância e adolescência, o número de apelidos que ele recebeu, são incontáveis. Mesmo assim, conseguiu chegar à idade adulta e trabalhar honestamente.
Funcionário público de excelência, Pelego sofria com esse nome. Desde que iniciou suas atividades naquela repartição, ouvia todos os dias as gracinhas sobre o fato do Pelego, ser ou não ser um pelego. Seus colegas chegavam a usar o dicionário para tornarem suas brincadeiras mais cruéis: “Capacho, subserviente, Pelego você não passa de um pelego”. Assim era a vida do nosso amigo. Sua namorada o chamava Pepê. Um apelido carinhoso que usava com alegria. Quando chegou o dia de ser apresentado à família de sua amada, ele teve que dizer seu nome completo: Pelego Pinto.
Seu futuro sogro imaginou se tratar de uma brincadeira de mau gosto. Foi preciso que Pepê mostrasse a sua identidade, para que o velho não o expulsasse de sua casa. Terminado o incidente, ficou combinado que naquela família ele seria tratado apenas como Pepê.
Em todos os lugares que compareciam era Pepê, ou Pepezinho. Mas Pelego nunca mais. Até seus amigos de trabalho esqueceram seu verdadeiro nome.
Desde o seu noivado que nunca mais ninguém brincou ou fez piadas com ele. Sua vida mudou. Passou a ser um homem alegre. A felicidade havia chegado para ele através da sua querida e amada noiva.
Como, quem fica noivo acaba casando, quem casa faz festa, quem faz festa convida e quem convida faz convite, nesse momento, a vida de Pelego voltou a ser um inferno. De que forma colocar no convite que a linda Rosana (este era o nome de sua noiva), se casaria com Pelego Pinto.
Isso causaria um constrangimento em todos os familiares, que já imaginavam as gozações. Chamar-se Pelego e ainda ter como sobrenome Pinto, não poderia haver nada mais constrangedor. O coração de Pelego Pinto não agüentou as gozações e brincadeiras quando o convite para o seu casamento foi distribuído.
Quem visitar o cemitério do Caju encontrará uma lápide, onde se pode ler: Pepê – amor da minha vida – saudades da sua eterna noiva Rosana.
Do livro DOIS EM CRISE – de Edison Borba – Editora All Print / 2010
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