domingo, 11 de agosto de 2013

REENCONTRO

            Após muitos anos de sua partida, eu ainda sinto a sua falta. Creio que hoje, a saudade é bem maior do que era ontem, Sinto uma vontade de reencontrar, abraçar, conversar ou até ficar em silêncio, ao seu lado, sentindo o calor de seu corpo.
Tenho receio, que com o passar dos dias eu perca contato com os pequenos detalhes de nossa amizade.
De sua voz, pouco ficou, era um homem calado, digo até silencioso, a sua presença era tão forte, que seus gestos transmitiam as mensagens que eu precisava ouvir. Era alto, para mim, um gigante. Mãos calejadas transmitiam o quanto de trabalho ele executava. Seu avental era um símbolo do seu ofício. Não consigo visualizá-lo sem o seu uniforme manchado, indicando para mim o quanto esse homem produzia para manter a família. Havia em um dos seus dedos, na mão esquerda um anel de ouro com a imagem de São Jorge, santo de quem ele era amigo. Talvez, grande parte da sua força viesse da sua devoção ao santo guerreiro.
Cresci imaginando histórias sobre aquele homem, que saía de casa antes do meu acordar e que muitas vezes eu não  via chegar, pois o sono era mais forte do que meu desejo de vê-lo. Quantas vezes,  rezei para “Papai do Céu”, implorando para que a fada do sono, não viesse fechar meus olhos, antes do seu retorno. Algumas vezes fui atendido e lembro-me  da alegria de vê-lo abrir a porta, rosto cansado, mas sempre tranquilo. Numa sacola o pão, que nunca faltou em nossa mesa, à marmita e as suas ferramentas.
 Eu gostava de ver esta cena e o imaginava um gigante, um herói, e criava em minha cabeça cenas cinematográficas em que ele sempre vencia as batalhas.
Hoje, após tantos anos sem a sua presença, percebo que as minhas fantasias de criança, eram verdadeiras, ele foi um herói, todos os dias enfrentava como um gigante as árduas tarefas que seu trabalho exigia, para manter sua família, sua casa, seu lar.
Cresci  tornei-me homem e sai pelo mundo, levando comigo  os exemplos desse anônimo cidadão brasileiro. Nos momentos difíceis, sua imagem me animava e me ajudava a continuar. Pensava no anel, e pedia a São Jorge, que me ajudasse a vencer os dragões da maldade.
Certo dia, meu herói deixou o campo de batalha e seguiu  outra estrada. Levado por anjos ele caminhou por um caminho de luz.
Chorei como menino que caiu da bicicleta; zanguei reclamei e até desafiei a natureza por tê-lo tirado de minha vida.
Hoje, sonho com um reencontro. Sei que ele nunca deixou de cuidar de mim e de toda a família. Guardo em meu coração a sua imagem,  sigo seus exemplos e tento ser para os meus descendentes um cidadão de bem, um gigante, um herói, como o meu pai.
De Edison Borba para “seu” Oswaldo e para todos os pais do universo!

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