Há setenta anos o mundo se encantava com a chegada de um anjo. Era um
anjinho um pouco diferente daqueles que estamos acostumados a ver representados
nos cartões e telas de grandes pintores. Esse não tinha a pele branca e nem os
cabelos dourados, era um anjo negro de cabelo carapinha, mas como todos os anjinhos, um olhar meigo e
profundo, daqueles que nos permitem ver a alma. Bochechudo como um cupido, ele
encantou a todos que o conheceram recebendo o carinhoso apelido de Bituca. Esse
travesso anjo, adotou o violão como o seu fiel companheiro e deixando a lira para
os seus irmãos celestiais. Dançou e cantou no tempo apaixonando o mundo com
seus sons.
Soube como ninguém, soltar sua voz
angelical, atravessando morros e mares, rios e lagos, cidades e campos,
levando os amigos do lado esquerdo do peito, pelas estradas da vida.
Mil tons ele criou e cantou. Belas
melodias e versos, criou. De esquina em esquina fez um clube e amigos. E lá foi
ele soltando a voz nas estradas
Menestrel sulamericano juntou seu clamor as Mercedes mulheres e Marias
e Marias para cantarem em rodas os problemas nossos.
Para Lennon e MacCartney
escreveu as desditas do lixo do sul da América. Com sua inspiração ajudou os
brasileiros a prantearem a perda da democracia na morte de Tancredo.
Com um eterno coração de estudante chega aos setenta como se tivesse
sete. Sempre recomeçando e abrindo novas estradas para além das Minas Gerais.
Com uma faca amolada fez sangrar nossos corações ao falar de amor e ao
revelar sua paixão por Elis – sua eterna musa.
Nos deu de beber num calix bento água de benzer e o sangue derramado
pelos heróis da liberdade, que tombaram em anos de ditadura.
Canta Milton, canta!
Solte sua voz nas estradas e, como o mágico da flauta, irás
juntando povo que te ama e que seguirá o som da sua voz pela eternidade!
Edison Borba
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