Tive o prazer de conviver na minha
infância, com duas adoráveis avós. Um delas mineira, bem tradicional. Mulher de
boa mão na cozinha, era capaz de transformar
feijão com torresmo num manjar dos deuses.
A outra, portuguesa, nascida no bairro
do Alfama, em Lisboa. Mulher que apesar de ter ficado viúva ainda jovem, manteve
o luto até o final de seus dias. Também uma excelente cozinheira, ninguém fazia
um caldo verde como o dela.
Cresci entre as histórias das Minas
Gerais e os “causos” portugueses. Provavelmente por ser o neto mais jovem de
uma grande família, eu tenha sido mais envolvido pelo carinho dessas duas
incríveis mulheres.
Ambas ultrapassaram a faixa dos noventa
anos. Faleceram de forma tão natural, que acredito foram levadas por anjos.
Não adoeceram não se tornaram
dependentes. Ambas viajaram para o plano superior, em suas casas, uma às
vésperas do natal, trabalhando nos pratos para a ceia. A outra, numa ensolarada
tarde de sábado, após ter servido o almoço para os netos.
Incríveis
viajantes, se foram sem atropelos,
confusões ou doenças. Tudo aconteceu com calma e tranquilidade.
Essas duas mulheres muito influenciaram
minha vida com suas histórias. Até hoje, lembro-me das observações. Tenho que
confessar a maior parte delas, vieram por vias mineiras.
Vamos lembrar algumas:
-
Colocar guarda – chuva deitado sobre a mesa, chama defunto em casa.
-
Deixar sapatos virados com a sola para cima, traz más influências para a
família.
-
Derramar sal sobre a mesa ou no chão provoca briga no lar.
-
Dormir com uma tesoura aberta em baixo do colchão corta dores no corpo.
-Assobiar
à meia noite chama alma penada.
-Trocar
as tampas das panelas faz a dona de casa ficar atordoada.
-Dizer
palavras ruins atormenta nosso anjo-da-guarda.
-Deixar
que um passarinho leve seu cabelo para o ninho causa dor de cabeça.
-Benzer
a panela antes de colocar o alimento para cozinhar aumenta a quantidade e a
comida fica mais saborosa.
-Se
for a um enterro, toda a roupa usada deve ser colocada para lavar e os sapatos
usados devem ser tirados do pé antes de entrar em casa.
-Passar
em baixo de escada dá azar.
-Sentar
à mesa sem camisa, para almoçar ou jantar, afasta o anjo-da-guarda.
Acredito
que essas e muitas outras crenças e crendices, eram usadas no processo
educativo familiar. Era uma forma sutil de passar regras relacionadas à ética e
aos bons costumes incluindo higiene.
Algumas
ainda fazem parte do meu cotidiano uso-as de maneira tranquila, misturando-as
com toda a tecnologia que existe no um mundo.
Apesar
de acessar computador, celulares e outras maquininhas, não custa nada fazer o
sinal da cruz, todos os dias ao levantar da cama para enfrentar um novo dia.
Edison Borba
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