Quando eu era criança, nos anos cinquenta, no bairro em que
eu morava, Inhaúma, no subúrbio do Rio de Janeiro, só havia um Posto de Saúde,
onde trabalha um médico clínico geral e um dentista, conhecido como Dr. Fortes.
Para problemas mais complexos, tínhamos que nos deslocar de
bonde, até o bairro Méier, para consultar o Dr. Vater B. Moreira, médico da
minha família e de vários dos nossos vizinhos.
A maioria dos problemas eram resolvidos em casa ou então
através dos conselhos e benzeduras de Dona Maria, a rezadeira.
Haviam os chás, os unguentos, as pomadas, as garrafadas, as
xaropadas feitos em casa de forma artesanal usando folhas de babosa, agrião,
mel de abelhas, açúcar queimado, leite, saião, manjericão, arruda e outros
produtos, muitos deles plantados nos quintais das casas.
Dona Maria, era parteira, conselheira e capaz de resolver
diversos problemas, como ventre virado, espinhela caída, mau olhado, nervo
torcido, cobreiro entre outros males.
As mães, incluindo a minha, mantinham os filhos sob cuidados
sérios, incluindo o uso de Óleo de Fígado de Bacalhau (Emulsão de Scott), uma
colher bem cheia antes das refeições. Uma vez por ano, geralmente no período
das férias escolares, todas as crianças eram submetidas ao óleo de rícino, para
limpar o organismo.
Havia cuidados para com o sereno da noite, fazendo com que
várias crianças tivessem que usar uma boina (eu era uma delas).
Quando a puberdade se anunciava, as garrafadas eram a
medicação usada, para fortalecer a meninada. Eram complexas misturas de ervas
que colocadas em uma vasilha maturavam por dias, depois maceradas e coadas,
obtendo-se a um “líquido” que era misturado ao leite.
Criança não escolhia a comida, que era colocada nos pratos
que deveriam ficar vazios. Carne, ovos, massas, agrião, batata, couve, quiabo e
muito mais produtos adquiridos nas feiras. Sobremesa: banana, laranja ou outra
fruta da época. Aos domingos, refresco de groselha era servido no almoço.
Nas escolas da rede pública municipal, haviam constantes
visitas de um ônibus com dentistas e também para fazer “chapa” dos pulmões dos
alunos. Lembro bem dos profissionais de saúde e das turmas, acompanhadas das
professoras, em fila caminhando para os exames.
Havia horário para acordar, dormir, brincar, fazer o “dever
da escola” e ajudar nas tarefas da casa. Nós participávamos dos cuidados
domésticos, colaborando com nossa mãe.
Não recordo de meus irmãos ou meus amigos doentes gravemente,
tomávamos as vacinas da época entre elas a da varíola, na época escolar. Todos
passaram pelo sarampo, catapora, coqueluche entre outras doenças consideradas
comuns na infância.
Naquela época, criança era criança, tratada como criança!
O que aconteceu com a gente?
Edison Borba
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