São 7h 14min, do dia 25 de setembro
de 2013, emissoras de televisão mostram ao vivo, intenso tiroteio
entre bandidos de quadrilhas rivais. A disputa pelo território passou a ser uma
constante entre traficantes que migraram de comunidades, ocupadas pelas UPPs.
Agora às 7h20min, os policiais chegam para intervir nessa batalha, tentando
impedir que o fogo cruzado continue, ameaçando os moradores do local
(Serrinha).
Em dezembro de 2011, abordei o tema “Migração
no Tráfico”, no livro “Complexo de Viúva e outras crônicas”.
Leiam e reflitam sobre o tema! Edison
Borba
MIGRAÇÃO NO TRÁFICO
“Hoje, sábado, dia 10 de dezembro, uma
emissora de televisão, apresentou em seu noticiário matinal, bandidos desfilando
pelas ruas de uma comunidade, portando armas de alto calibre. Apesar do bom
trabalho que as polícias do Rio de Janeiro, estão fazendo com as implantações
das UPPS (Unidades de Polícia Pacificadora) em diversas comunidades, ainda há
muito a ser vencido. A cidade e o estado do Rio de Janeiro possuem uma condição
geográfica, difícil de ser mapeada. Vivemos entre o mar, montanhas, lagoas e
rios e o crescimento populacional se fez de forma desordenada. Sem uma orientação
urbana, o aumento populacional, criou verdadeiros complexos difíceis de ser
percorridos.
Nem o labirinto, erguido pelo rei Minos,
em Creta, era tão complicado. E explicação, é simples, o labirinto grego,
foi criado a partir de uma estrutura bem
elaborada por Dédalo. Os do Rio de
Janeiro surgiram a partir das mais diversas concepções arquitetônicas.
As casas foram construídas conforme a
vontade e o poder aquisitivo de seus proprietários, que também foram os engenheiros das suas moradias. Foram
nascendo, coladas umas às outras formando incríveis becos e vielas das mais
diversas dimensões.
Os mais inteligentes e preparados
engenheiros e arquitetos do mundo, não teriam imaginação para construir em
lugares e situações absolutamente improváveis. Existem pequenos casebres que
desafiam as leis da gravidade. Equilibrados sob pilares, se equivalem à Torre
de Pisa.
A intercomunicação entre as casas
permite àqueles que residem na localidade, grande facilidade de deslocamento.
Enquanto que os “forasteiros” precisam apelar a Teseu para conseguir se
locomover neste incrível labirinto.
Existem
residências dos mais variados tipos. Madeira, papelão, zinco, cimento e tijolos
são materiais usados pelos “construtores” das comunidades. Casas bem elaboradas,
de bom padrão, misturam-se aos casebres
mais pobres, conferindo ao local uma incrível e variada concepção de “cidade”
bairro. Uma desordem organizada chega a fascinar nossos olhos.
Esse tem sido um dos problemas
enfrentado por nossos policiais. Outra questão refere-se ao conhecimento
territorial. Alguns “meninos” do tráfico nasceram e foram criados naquele
local. Conhecem cada cantinho, cada viela, cada rua e beco, além de estarem
familiarizados com os hábitos dos moradores.
Ainda
existem diversas comunidades dominadas pelos senhores do tráfico e por
milicianos.
Ainda existem ordens que se não forem
cumpridas, o castigo será o mais severo possível. A compra de botijões de gás,
o uso da eletricidade e até o número de propriedades está sob o controle da
máfia. Nenhum morador poderá ter mais de uma moradia. Caso tenha conseguido
construir uma segunda casa, essa última, passará às mãos dos senhores locais.
É impossível imaginar, as condições de
vida dos habitantes que ainda estão em locais controlados pelo “pó”. Os noticiários,
aos poucos vão repassando dados secretos, que não podem ser revelados sob pena
de morte.
Novos caminhos para a liberdade estão
sendo abertos. A prisão dos poderosos, a retirada de armas, a implantação de
serviços básicos reconhecendo as comunidades como bairros, com os mesmos
direitos de que mora em Ipanema, Méier, Leblom, Tijuca, Inhaúma, Jacarepaguá,
Pavuna ou em outras cidades é que irá transformar o nosso Estado, num local
onde todos os cidadãos merecem ser
tratados com dignidade e respeito”.
Edison
Borba – Livro: COMPLEXO DE VIÚVA E OUTRAS CRÔNICAS
Editora
All Print / S.P.
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