Em agosto de
2011, escrevi a crônica “ANDANDO SEM RUMO”, que foi publicada no livro “COMPLEXO
DE VIÚVA E OUTRAS CRÔNICAS”.
Após dois
anos, os profissionais da educação encontram-se novamente em greve. Na ocasião, apenas os da rede pública estadual estavam paralisados,
em 2013, os da rede municipal também estão parados.
O tempo
passou e as mudanças que estamos observando, foram apenas na forma de reprimir
o movimento grevista. Em 2013, o gás de pimenta foi acrescentado ao material
escolar. Os trabalhadores, já conheciam outras formas de repressão e
truculência, mas esse novo gás está sendo uma experiência inovadora.
Agora, temos
mais um motivo para chorar, além do magro salário, das condições precárias em
várias escolas, do descaso das autoridades com a educação no país, o gás de
pimenta foi acrescentado ao material escolar.
Foi triste,
foi extremamente triste, ver as imagens transmitidas pelos noticiários,
professores, sob forte chuva, sendo
empurrados e abatidos por policiais, que provavelmente foram alunos de escolas
públicas e devem ter filhos, sobrinhos e
amigos estudando nestas Unidades de Ensino.
Após tantos
anos de luta pela melhoria da qualidade do ensino em nosso país, ainda estamos
ANDANDO SEM RUMO, mas agora com os olhos lacrimejando pela pimenta, que nos
olhos dos professores é ...
Edison Borba
ANDANDO SEM RUMO
Agosto
de 2011.
Há mais de um mês,
os profissionais da educação do estado do Rio de Janeiro sustentam um
movimento, bem conhecido no Brasil, greve. Toda categoria trabalhadora, quando
não é ouvida e tem os seus direitos ameaçados, busca soluções através desse
tipo de ação, universalmente usado. Portanto, nada de novo está acontecendo, é
mais uma greve entre tantas outras.
A educação é uma
das áreas mais controvertidas. Desde que os jesuítas aqui chegaram, buscamos a
forma ideal para trabalhar com nossas crianças e jovens. Após várias tentativas
de mudanças, ainda estamos andando sem
rumo. Continuamos a cometer os mesmos erros.
As famílias de
maior poder financeiro matriculam seus filhos em instituições renomadas ou
então os enviam para outros países.
Quanto ao processo
educativo, oferecido pelo poder público, mesmo reconhecendo que houve
melhorias, ainda existe um longo caminho a ser percorrido. Sou do tempo do
curso primário, ginasial, científico e universitário. Após um grande reforma,
passamos para os graus: 1º. 2º e 3º, que sofreram modificações para ensinos
infantil, fundamental, médio e superior. Mudam-se as nomenclaturas, mas as
necessidades permanecem inalteradas.
Novas propostas
pedagógicas são previstas nos PCN’s. Discute-se interdisciplinaridade,
multidisciplinaridade, inclusões e mudanças na essência dos conteúdos. Projetos
são implantados e já observamos um movimento social mais consciente quanto ao
ensino público. Acredito na boa fé dos pesquisadores e dos legisladores mas ...
mas ... parece que existe algo que impede de avançarmos e por isso continuamos andando sem rumo.
Como está o ensino
no Brasil de Roraima ao Rio Grande do Sul? Como estão as escolas das pequenas
cidades? Não sou pessimista e nem alarmista, mas teimo em pensar no País como
um todo e não apenas o das capitais. Atuei como professor pela primeira vez em
1968, e a primeira vez a gente não esquece. Nesses mais de quarenta anos,
muitos passados na rede pública de ensino, da qual tive o orgulho de ser aluno
e professor, fui militante de movimentos, paralisações, greves, passeatas,
protestos, panfletagens, entre tantas outras formas de chamar a atenção para as
dificuldades do exercício do magistério. Ensino público de qualidade sempre foi
a grande meta. Melhorias nos prédios, nas salas, nos conteúdos e nos salários.
Confesso que não imaginava que, após tantos anos, continuássemos andando sem rumo.
Tenho orgulho de
pertencer a uma valorosa classe trabalhadora que não foge às suas
responsabilidades. Temos consciência dos problemas acarretados por uma greve,
mas ... mas ... o que fazer? Onde buscar apoio? Com quem reclamar? A quem
recorrer? É difícil deixar alunos sem os merecidos ensinamentos e conteúdos. É
muito sofrido sabermos que nossas crianças e jovens estarão em desvantagens na
luta pela colocação universitária e até mesmo na busca pelo primeiro emprego.
Dói saber que haverá prejuízo para aqueles a quem devotamos a nossa atividade,
carinho e amor.
Edison Borba – COMPLEXO
DE VIÚVA E OUTRAS CRÔNICAS – All Print Editora
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