Foi aos oito anos, na classe
primária da escola em que eu cursava a segunda série, que ouvi pela primeira
vez, essa observação.
A professora da turma, ao corrigir um exercício, que eu
não conseguia acertar, delicadamente, querendo me incentivar, falou: “-Tente
mais uma vez. Você vai conseguir. Você vai chegar lá!”
Sem entender claramente o
que significava aquele apelo, tentei e errei mais uma vez.
O tempo passou e já
adolescente, decepcionado por não ter conseguido uma vaga numa primeira
tentativa de trabalho, ouvi de meu pai: “Filho, não desanime, você um dia chega
lá!”
Dessa vez, não consegui
saber onde ficava o lá.
Onde seria esse lugar? O que
fazer para chegar lá?
Após muitas caminhadas, pela
cidade, seguindo roteiros de anúncios em jornal, consegui trabalho com a
carteira assinada.
Trabalho encontrado.
Resolvo, então, estudar à noite e
prestar vestibular.
Dias cansativos e noites mal
dormidas. Olhos vermelhos pelas horas de estudo e na primeira tentativa,
decepção. Diante do fracasso, ouvi de minha mãe, novamente a observação: “- Filho,
não desanime: um dia você chega lá!”
Confesso que dessa vez
chorei! Chorei bastante. E mais uma vez fiquei perdido diante das dificuldades
que ainda teria que enfrentar para um dia chegar ao desconhecido lá.
Como um menino perdido, eu
novamente encontrava-me sem saber o que fazer para chegar a esse jardim das
maravilhas. A terra prometida onde jorra leite e mel e a felicidade é constante.
Após algumas tentativas
consegui o diploma. Com o certificado profissional em mãos, acreditei que
chegar lá, seria mais fácil. Quem sabe o lá não é aqui? Pensei inocentemente.
Agora eu tenho o passaporte e poderei transpor as barreiras da terra do lá.
Concursos, recusas, portas
fechadas, currículos enviados e meus amigos sempre tentando me ajudar repetiam
constantemente: “Calma, um dia você irá chegar lá!”
Consegui um emprego para executar tarefas não muito
compatíveis com meus aprendizados, mas era um caminho para eu conseguir chegar
lá.
Os anos passaram e deixei de
pensar no lá. A questão era ser feliz aqui e agora. E foi com essa nova
proposta, que encontrei a pessoa que me despertou uma grande paixão. Surgiu em
mim um novo sentimento e acreditei que chegar lá seria uma tarefa a ser conseguida
em parceria. Não era uma estrada para se seguir sozinho. Finalmente havia
descoberto a maneira de chegar lá. Porém, paixão e amor só existem se acontecer
nas duas margens do rio. Mais uma vez
ouvi um não. E chegar lá, tornou-se impossível!
Envergonhado e não querendo
ouvir novamente a tão conhecida observação: “-Tente outra vez. Tente novamente
que você vai chegar lá”, chorei sozinho,
chorei baixinho. E mais uma vez perdido em meus pensamentos, não conseguia
entender onde ficava e como se deveria proceder para chegar lá!
Hoje, sob o peso da idade,
sou um homem que consegui desvendar o mistério.
Lá não é um ponto distante
no horizonte. Lá existe para nos provocar a vontade de alcançar os sonhos. Percebi que o
lá está dentro de nós. O lá é aqui. O lá acontece agora. Nunca iremos chegar lá
porque já estamos vivendo nele.
É tão simples! É tão fácil!
E ao mesmo tempo tão complexo!
Lá não é um lugar difícil
para se chegar, lá é um lugar difícil de estar.
Edison Borba
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