No
nosso calendário, entre todos os dias marcados como santos feriados,
o que mais me enternece é a sexta-feira da paixão. Fui criado numa
família religiosa, e durante a semana santa minhas avós, uma
portuguesa e outra mineira, vestiam-se em luto e jejuavam. Eu, meus
irmãos e primos, não entendíamos o que se passava, mesmo com as
explicações de nossas mães.
Na
sexta-feira da paixão, íamos até a igreja para as atividades
religiosas, que eram mais rígidas do que as que acontecem nos dias
atuais. Nos altares os santos estavam cobertos com panos roxo.
Algumas pessoas choravam, velas eram acesas, e em todos os rostos
podíamos ver que havia tristeza. Para mim, e creio que para as outras
crianças também, havia uma atmosfera um pouco assustadora.
Eu,
particularmente, ficava fascinado com todo aquele aparato e
emocionado quando mamãe, minhas tias e avós, se colocavam em
oração, à noite em nossa casa.
O
sábado de aleluia, era só alegria, acordávamos cedinho para ver se
haviam pendurado, em algum poste, um boneco – o Judas.
No
subúrbio onde minha família morava, era quase certo, que algum
boneco estaria pronto para ser malhado ao meio dia.
O
domingo de Páscoa, que não tinha o significado comercial da
atualidade, sem ovos e coelhinhos, apenas uma bacalhoada no almoço
(o peixe foi na refeição da sexta-feira) e à tarde o programa era
assistir no cinema do bairro ao filme sobre a Paixão de Cristo. Eu
ainda lembro que muitas pessoas choravam durante o filme. A criançada
ficava em silêncio, eu sempre fiquei comovido e também sofria
calado com o martírio de Cristo. Em minha cabeça de garoto ficava a
dúvida: “por que ele não reagia?”
Durante
muito tempo esta dúvida me acompanhou e a minha compaixão por
Cristo passou por um período de zanga. Cheguei a não querer ir mais
ao cinema, comecei a ter a minha própria paixão nas sextas-feiras
santas. Ficava amuado, triste e irritado. Meus pais não entendiam o
motivo da minha tristeza e inquietação.
Hoje,
percebo que o meu comportamento, era uma forma de manifestação do
meu amor pela figura de Jesus. Por admirá-lo e amá-lo, eu não
conseguia vê-lo sofrer. Ele transformou-se em meu herói, no dia em
que entendi os motivos que o levaram a sofrer tantos martírios.
Somente um grande homem é capaz de doar-se e dar a sua própria vida
para demonstrar amor pelos seus semelhantes.
Quando
chega a sexta-feira da semana santa, eu ainda sou capaz de sentir em
meu coração as dores da paixão por Cristo. É para mim o dia mais
sagrado do calendário, porque é neste momento que temos a
oportunidade de experimentar o maior amor do mundo.
Sexta-feira
da minha paixão, pelo Mestre dos Mestres, Jesus!
Edison
Borba
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