Mais uma vez as
notas do ENEM, nos colocam diante da situação do ensino brasileiro. Quando os
percentuais surgem, eles denunciam a má qualidade do nosso processo de ensino e
aprendizagem. É necessário usar o
resultado deste exame para reflexões e ações no sentido de buscarmos alternativas
que possam diminuir a calamidade educacional que assola o País.
O Ministro da
Educação fez referências ao Ensino Médio, porém a questão é mais abaixo; nosso
problema educacional começa na alfabetização. É bom lembrar que o ato de
alfabetizar implica em ações neurológicas e psicomotoras que irão influenciar
em todo o processo de aprendizagem. Não basta pronunciar as palavras de um texto,
é preciso traduzi-las em forma de um real entendimento do que contém a
mensagem.
Alfabetizar é
estimular amor às letras, as palavras e
as frases, que irão resultar no interesse pelos livros. Sem amor à leitura,
diminui a curiosidade. Sem curiosidade diminui o
conhecimento e cultura. Sem essas bases,
o cérebro fica vazio não havendo como
desenvolver uma redação, independentemente do tema solicitado.
Infelizmente,
não há estímulos à leitura no Brasil, não amamos os livros, não estimulamos
nossas crianças e jovens a ler pelo prazer. Nas escolas, os livros, quando são
indicados, surgem como obrigações a serem cumpridas e o amor passa, cada vez
mais longe das salas de leitura.
Paralelamente,
acompanhamos famílias orgulhosas em divulgar que seus pequenos “rebentos”
usando e abusando da manipulação dos computadores e seus derivados. Sem dúvida,
a utilização destas maravilhosas máquinas, está cada vez mais contribuindo para
a “burrificação” do nosso país, diferentemente do que acontece com outros
povos, que sabem pensar e usar corretamente todos os novos veículos de
informação.
Estamos fazendo
o caminho inverso: primeiro é preciso aprender a ler conscientemente, para poder
traduzir os pensamentos através de qualquer veículo a
começar pela fala e escrita.
Os zeros nas
redações do ENEM são indício que estamos caminhando para um País em que o povo está com pouco conteúdo armazenado em seu
cérebro, portanto não há o que lembrar para escrever um texto.
Estamos cada vez
mais monossilábicos. Nossa comunicação está monopolizada por veículos de
comunicação que enaltecem a forma errada de pensar, falar e escrever.
Usar a internet,
passar torpedos sem ter formação e
informação cultural básica é condenar o País a tragédia de continuarmos no fim
da fila.
Infelizmente esta
situação está mais evidente naqueles que frequentam o ensino público. Sabemos que
muitas das melhores notas continuam nas mãos de jovens de classe média alta,
que detém o poder financeiro educacional. Temos claramente escolas de ricos e
escolas de pobres.
Não se trata de
condenar a escola pública, que precisa ser enaltecida e parabenizada, por
trabalhar com um universo diversificado de alunos, de diferentes condições
etárias, religiosas, moradia entre outros fatores. O professor que atua numa
escola da rede pública trabalha lutando para universalizar seus ensinamentos,
tentando não deixar ninguém excluído. Portanto, o resultado do ENEM, também
deve servir para refletirmos sobre a luta que o ensino público enfrenta ao ser
comparado com o ensino privado, que pode escolher seus melhores alunos e com
eles fazer um trabalho diversificado visando à preparação para o ENEM.
As salas de aula
no ensino público são democraticamente organizadas, infelizmente, os governos
não colaboram oferecendo melhores condições para a aprendizagem dos seus
alunos.
Não adianta
ficarmos maquiando a verdadeira educação
através de percentuais, buscando onde melhoramos. Enquanto não soubermos ler e
escrever, enquanto nossas crianças e jovens não forem seduzidos pela leitura e
amor aos livros, continuaremos sendo medíocres teclando besteiras e matando a língua
portuguesa. Continuaremos a ser massa de manobra nas mãos dos que aprenderam a “pensar”,
para subjugar o povão que vive mergulhado na ignorância.
É triste, é
muito triste, acompanhar a tragédia que a cada dia destrói mentes, que poderiam
ser brilhantes.
É triste! É
realmente muito triste!
Edison Borba
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