Há
anos converso com minha analista, sobre um problema do qual não consigo me
desvencilhar: a vergonha dos outros.
Frequentemente,
sou atacado por um sentimento de vergonha, de algo que eu não cometi. É uma
sensação ruim, uma indisposição que me deixa com problemas estomacais. Meu
fígado reclama, meus rins protestam, meu coração acelera, causando-me um
desequilíbrio fisiológico, difícil de controlar. Todo esse desarranjo orgânico
está diretamente ligado às “coisas” que eu não fiz e não faço.
Estou
me tornando uma pessoa solitária e incapaz de acessar os meios de comunicação.
Está difícil ler jornais e revistas, ouvir noticiários no rádio e também os
transmitidos pela televisão. É uma questão de sobrevivência.
Todas
as vezes que sou obrigado a tomar conhecimento de fatos tristes, sou acometido pelo sentimento
de vergonha dos outros.
Quando
os noticiários abordam o tema saúde. Quando
jornalistas entrevistam pessoas doentes, cidadãos nas filas
hospitalares, esperando há meses, por
uma consulta médica, meu rosto fica corado e quase morro de vergonha.
Minha
analista aconselhou-me uma viagem para a Europa, fazer uma imersão em algum
SPA, ou até frequentar grupos de apoio, mas nada resolverá o meu problema, pois
o foco está fora do meu corpo, à vergonha não é minha e sim dos outros.
Como
fazer, para “fazer” os senhores da política, sentirem vergonha pelo desperdício
do dinheiro público?
Como
não sentir vergonha, ao tomar conhecimento da precariedade no ensino
brasileiro?
Minha
crise alérgica aumenta todas as vezes que fico envergonhado com advogados
defendendo os envolvidos na quadrilha do mensalão.
Já
estive quase em CTI, por intoxicação, no mês das eleições. Tive que ser
medicado, cheguei usar remédios
controlados (os tarja preta), após assistir a um programa eleitoral. Aquele que
é chamado de espaço gratuito. Foi uma dose muito forte de falta de vergonha dos
outros, que eu quase explodi.
Tenho aumento de pressão, ao ver a cara de pau, de
alguns cidadãos formadores de opinião, pessoas que ocupam espaços na mídia, negarem-se a fazer o teste do bafômetro. Que
vergonha! Que vergonha! Que vergonha! Colocar à vida dos outros em perigo e
ainda não aceitarem fazer o teste que indica o teor de álcool no corpo é
simplesmente vergonhoso.
Creio
que estou sendo intoxicado pelo excesso de “desavergonhice” que está assolando diversos segmentos da
sociedade brasileira.
Busco
refúgio no consultório da minha analista, que sob a proteção Freudiana, me
fornece condições de continuar sobrevivendo com a falta de vergonha, dos
outros.
Edison
Borba
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