Durante
um espetáculo em que não houve restrições quanto ao uso de material
fotográfico, fiquei impressionado com o número de pessoas preocupadas em
registrar em suas câmeras, a apresentação dos artistas.
Próxima
à mesa que ocupava, uma jovem passou noventa por cento do tempo de show, com sua
máquina, captando imagens em sua pequena máquina.
Não
sendo ela uma jornalista ou fotógrafa profissional, me surgiu uma dúvida: o que
faria com aqueles registros?
Irá
colocá-los em sua página da internet para que seus seguidores saibam que ela
esteve naquela casa de espetáculos?
As
fotos irão comprovar a sua presença, apenas a presença física. Ela perdeu
momentos emocionantes. Deixou de ouvir a linda voz da cantora, o solo de violão,
o encontro do convidado com todos os músicos.
Ela
não conseguiu colocar em sua máquina, as emoções.
A
febre de imagens que assola o mundo é assustadora. Imagens, imagens e mais
imagens. Apenas imagens sem vida. Dezenas, centenas e até milhares de registros
captados e lançados em páginas e páginas de blogs e face-books, para serem
esquecidas.
Efêmeros
registros de nada servem. Algumas fazem “sucesso” ou causam impacto ou até mesmo escândalo, e nada mais.
Quantos
momentos são perdidos por nossos olhos. Quantas sensações deixam de ser
captadas por nossas almas. Quantas emoções perdidas.
Os
olhos são o registro da alma. Uma vez captado, eternizado ficará. Nossos
cérebros são o grande arquivo, que estão ficando vazios.
Arquivos
de fotos abandonados em computadores. Não podem ser levados no bolso e na
bolsa. As fotos não podem ser acariciadas e até beijadas.
Tenho
amigos que se orgulham de ter centenas de fotos em seus arquivos. Fica uma
pergunta: para que servem?
Eu
também tenho fotos em meu arquivo eletrônico. As mais significativas, passo
para o papel e as mais queridas estão exibidas em quadros (porta – retratos)
espalhados por meu apartamento. Às vezes troco. Mudo de posição ou até mesmo de
foto. Porém, elas estão ali perto de meus olhos e de meu coração. Outras,
arquivadas em meu cérebro. Às vezes posso revivê-las em minha alma. Quando a
saudade bate à porta do coração, deixo que elas escorreguem para que possa
sentir as emoções do dia em que foram registradas.
Estou
me lembrando da moça que estava no show, o que ela terá feito com tantos
registros?
Será
que ela guarda alguma emoção daquela noite?
Qual
a música que ela mais gostou?
Em
que momento o show foi mais romântico? Será que em seu coração existe algum
registro ou tudo já está abandonado em mais uma página da internet?
Edison
Borba
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