Marília Pera, foi uma das mais
completas atrizes do Brasil. Não sei quantas vezes fui ao teatro para vê-la em
incríveis apresentações.
O espetáculo Elas por Ela, no
qual ela homenageia diversas cantoras brasileiras, eu assisti no Rio de Janeiro, pelo menos umas três vezes,
além de tê-lo visto em São Paulo e Brasília.
Mas, além das suas
representações, eu tenho lembranças da Marília, por alguns fatos, que marcaram minha ida ao teatro. Foram situações
que não estavam no texto e que a grande Dama da dramaturgia soube contornar com
elegância.
Uma delas aconteceu no Teatro João
Caetano, a peça Brincando em Cima Daquilo. Domingo, espetáculo das 18 horas,
casa lotada. Em virtude da demora para a peça começar, o público iniciou palmas
de protesto. E foi nesta hora que Marília brilhou aparecendo no palco e pedindo
para a plateia ter calma, pois ainda havia muita gente na fila tentando comprar
ingresso, que já haviam se esgotado. Ela combinou com o público, pedindo
permissão, para a venda ingressos, permitindo que esses fãs sentassem na
escadas do teatro. O público aceitou a proposta e enquanto a bilheteria
terminava a venda, ela – Marília Pera – manteve-se em cena conversando com a
plateia, presenteando a todos com um espetáculo inesquecível.
Nos tempos da ditadura, fui duas
vezes ao teatro para assistir, “Apareceu a Margarida”, uma comédia cujo texto
fazia o público refletir sobre a situação política do país. Numa das vezes a
polícia se fez presente, interrompendo o espetáculo. Marília, com a sua
inteligência e talento, manteve a plateia tranquila não deixando que houvesse
problemas com seus fãs.
Durante as apresentações da peça,
em que ela interpretou Dalva de Oliveira, houve problemas com a sua voz,
interrompendo a temporada. Na ocasião espalhou-se um boato que a sua saúde
tinha sido prejudicada pelo espírito da cantora Dalva. Eu tive o privilégio de estar no
teatro na primeira apresentação após o período em que a peça esteve suspensa.
Para surpresa de todos, no início do espetáculo, Marília fez questão de
esclarecer que ela sofreu uma crise de faringite e que estava tudo bem, e que a
Dalva não lhe causou nenhum problema. Essa atitude de Marília levou a plateia a
aplaudir de pé.
Mais recentemente, no Teatro Net
Rio, em Copacabana, no espetáculo em que ela apresentou um repertório com
músicas de Herivelto Martins, mais uma situação inusitada. Ao final, quando
Marília voltou à cena para um bis, as luzes do Teatro se apagaram. Ela
maravilhosamente, cantou a capela e no escuro, provando que uma estrela brilha
em qualquer ambiente.
Marília atuando como Carmem
Miranda, Maria Callas ou a prostituta do filme Pixote ou a Darlene, de Pé Na
Cova, sempre garantiu um excelente espetáculo. No show em homenagem a Roberto
Carlos, sua interpretação emocionou a plateia. Talvez o momento mais brilhante foi a sua apresentação.
Por estes e muitos outros motivos,
que Marília Pera será sempre inesquecível!
Edison Borba
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