Coloque o
cartão. Digite a senha. Retire o cartão. Sorria você está sendo filmado. Não
ultrapasse a linha amarela. Pare. Ande. Coloque o cinto. Digite a sua senha.
Coloque seu dedo no local indicado. Digite a tecla cancelar. Operação
terminada. Operação cancelada. Lacre o envelope. Coloque o envelope no local
indicado. Digite o número de sua conta. Agência não confere. Digite seu CPF.
Coloque a mão no local indicado. Você não foi reconhecido! Você não existe!
Quem é você? Quem sou eu?
Eu sou o
1967770-6. Mas também sou o 7863334101-8. Dependendo da situação eu também
posso ser o 339887-0 ou qualquer outro número. Eu sou uma diversidade de
senhas, algarismos e números. Eu tenho CPF, RG, título de eleitor, cartões –
vários cartões, diversos cartões. Diariamente digito vários números, várias
vezes em variados lugares num só dia.
Às vezes
eu nem sei quem sou!
Eu nunca
fui bom com números. A Matemática sempre foi um fantasma na minha vida.
Equação, raiz quadrada, MMC, MDC, subtrair, trocar sinal, tirar os parênteses,
resolver o problema, mudar a vírgula de lugar, somar, adicionar, dividir,
multiplicar.
Números,
números e números!
Nasci dia
15, no sexto dia da semana, do quarto mês de um ano cuja soma dos seus
algarismos, forma um número que é igual ao dobro de 9.
Meu
salário tem menos zeros que que eu gostaria que tivesse. Eu que nunca gostei
dos zeros, pois eles foram culpados pelas minhas reprovações, agora sinto falta
deles na minha conta bancária. A cada dia que passa, eu somo e diminuo minha
vida, isto é, somo em idade e diminuo em tempo que ainda tenho para viver. Essa
é uma equação macabra, que eu nunca gostaria de resolver, ela deveria ser como
as paralelas, que nunca se encontram, nem no infinito.
E assim
vou sobrevivendo, passando cartões, digitando senhas, sorrindo para câmeras,
obedecendo às ordens que recebo, de diversas formas e por variados meios.
Sigo
dentro das regras e segundo as Leis de meu País. Sou um cidadão nota dez, mas
isto não significa que eu seja aplaudido ou respeitado por ser tão
subserviente. Vivo numa democracia que me obriga a votar. Sou livre para
escolher quem fará as regras que eu devo seguir, e se por acaso eu não puder
obedecer algum item de alguma Lei, desta Democracia, que até me “permite”
votar, eu serei punido, até se não puder votar! Amo a minha confusa República
Democrática!
Eu não
entendo o governo que é do povo, para o povo e feito pelo povo; mas que o povo
nem sabe disso! Creio que não sou inteligente o suficiente para compreender tão
complexo sistema!
Eta, vida
de gado! Eu sou marcado, mas sou feliz!
Edison
Borba
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