Escrever, falar, denunciar e protestar
sobre o funcionamento dos hospitais públicos brasileiros é “chover no molhado”.
Faz décadas que estamos “dando murros em ponta de facas” e apesar das nossas
mãos já estar furadas, a situação
permanece inalterável. Excesso de pacientes em hospitais sem as mínimas
condições de funcionamento. Faltam médicos e os que ainda continuam atuando “tiram
leite de pedra”.
Doentes deitados no chão e em macas
enfileiradas pelos corredores completam
o panorama. De note ao sul, de leste a oeste, a situação se repete. Acredito que
de tão crônica, a situação já se tornou, habitual e incurável. As imagens mostradas pelos
telejornais, não causam tanto impacto. É possível até, que nós os
telespectadores nos sintamos invadidos por tragédias que só atrapalham os
capítulos das novelas, a resenha dos jogos, as entrevistas com famosos entre
outros momentos de grande importância da nossa televisão.
Saber que as consultas são marcadas em
junho para o atendimento acontecer em dezembro, que centenas de pessoas passam muitas
horas nas filas para conseguir (quando conseguem) atendimentos na emergência, mostrar
insetos e lixo nos corredores, até nos incomoda quando são mostradas nos horários
das refeições.
Às poucas boas notícias, surgem como
pequenos grãos de areia num deserto. Uma nova ala num hospital infantil é
inaugurada como se fosse uma grande doação que o governo faz ao povo. Uma sala
de cirurgia, que ganha novos equipamentos é alardeada como se um novo hospital,
de primeiro mundo, estivesse sendo inaugurado.
Quem pode paga caro pelos planos de
saúde, que já andam congestionados pelo excesso de novos sócios.
Quando reclamamos que tudo isso acontece
no país do futebol, onde imensos e dispendiosos estádios estão capitalizando
bilhões de reais, corremos o risco de sermos chamados de incapazes de perceber
o progresso. Somos vistos como urubus ou ervas daninhas querendo destruir o governo. Que só queremos
criticar e nada estamos acrescentando. Um país de tanto sol e futebol, não pode
ser criticado apenas porque alguns cidadãos resolvem adoecer, prejudicando o
desenvolvimento da pátria. Se todos cuidassem das suas saúdes, não haveria
problemas hospitalares.
Esses homens e mulheres que ficam
doentes, o fazem propositalmente para prejudicar o progresso dessa grande
nação. É possível até que haja um plano para desmoralizar o governo. Pessoas adoecendo
apenas para criar tumulto.
Temos um belo futuro, gente feliz e
alegre, lotando os estádios de futebol com bandeiras e camisetas coloridas,
cantando hinos e dançando alegremente, mostrando que esse país vive em completa
felicidade.
Essa história de desigualdade social não
passa de uma grande farsa, montada por invejosos que planejam o retrocesso
político.
Fora os doentes!
Prisão para todos os que fizerem filas
nos hospitais!
Quem quiser leito que vá para casa
dormir!
A hora é de felicidade e preparar o país
para todos os grandes espetáculos que irão nos alegrar fazendo-nos esquecer da
fome e das dores.
Nosso país não é bronze nem é prata – o Brasil
é ouro!
Edison Borba
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