No
folhetim de Chico, as mulheres que dizem sim, são profissionais de prazer. Elas
dizem sim, por um bombom, um pedaço de
cetim ou uma pedra falsa. Podem ser encontradas nos botequins e estão sempre prontas
para uma noitada. Sua profissão exige que digam meias verdades, façam as vontades do cliente, que devem se sentir príncipes conquistadores.
Quando
o dia amanhece elas saem sem fazer barulho, sabem que o expediente terminou e
se descartam do freguês, viram a página e recomeçam na próxima noite.
Esse
universo é enigmático, difícil saber quais as que escolheram como profissão e quais as que foram
empurradas para viveram noites de prazer que raramente sentem. Aprendem a
sussurrar coisas de amor e a ouvir caladas palavras cheirando a álcool e
abraçarem corpos suados e indelicados.
Tornam-se
profissionais do prazer, que apesar de não serem reconhecidas pelo estatuto do
trabalhador, prestam um sério serviço à sociedade. Quantas dessas mulheres
consolam, desarmam, enternecem e evitam a violência, através de suas carícias,
servindo de escudos entre famílias e violentos machos.
Elas
são diferentes das outras mulheres que só dizem sim. As que possuem residência
fixa, têm filhos, marido, trabalham horas e horas para manter um lar e à noite,
são obrigadas a dizer sim.
Eles
chegam suados e embriagados e as submentem aos seus caprichos. São seus
maridos, amantes, companheiros e estupradores. Diferente das outras, elas não
ganham pelas noitadas, sofrem caladas e no dia seguinte seguem uma rotina
silenciosa como casas abandonadas.
Mulheres
que seguem seus destinos, sem identidade, sem prazer, sem poder dizer não.
Mulheres ao contrário. Mulheres objetos. Mães do medo. Esposas do terror. Seguem
suas vidas escondendo as marcas da violência sem nunca ter o direito de um
sonho de valsa ou um vestido de cetim.
Não saem para noitadas e as
pedras que recebem sangram suas existências. Dois tipos de mulheres que só
sabem dizer sim.
Duas
vidas paralelas. Duas existências difíceis de entender. Vivem à meia luz. Mas
são mulheres e como tal merecem respeito e reverência por serem mulheres.
Edison
Borba
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