terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

GOSTAR E AMAR

Quando criança, eu gostava de brincar, de comer doces, dos carinhos de minha mãe e das comidas da vovó entre tantas outras coisas.
Quando cresci e fui para a escola,  confesso que não gostava muito de estudar, mas de estar na sala com os colegas, isso eu gostava. Também das professoras eu gostava. Eram meigas e carinhosas, sempre com cheirinho de sabonete e mãos aveludadas que ao tocarem em mim, causavam uma sensação de conforto.
Na adolescência, continuei a não gostar de estudar, mas aprendi que ir para a escola era muito bom, eu gostava muito dos recreios, das conversas com os colegas durante as aulas, e também de alguns (apenas de alguns professores); e dos segredos que “rolavam” nos banheiros. Era muito bom “cabular” as aulas e ir passear de bonde. Eu gostava de me sentir livre, leve e solto. Gostava da cumplicidade que havia entre os meninos e dos sonhos que imaginávamos enquanto puxávamos as baforadas dos primeiros cigarros.
Gostar sempre foi um verbo que eu aprendi a conjugar. E descobri de quantas coisas eu gostava. A lista sempre foi muito longa ia dos sorvetes até ler revistas “proibidas” dentro do banheiro. Das histórias da vovó até pão com manteiga, aquele pão quentinho comprado na padaria da esquina. Gostava do cheirinho do café da manhã, de ver o anel de São Jorge, no dedo do meu pai, de brincar de pique, de ouvir minha mãe cantando enquanto lavava roupa no tanque. Há!!! Gostava de ir para a casa do tio Dionísio, de cuspir nas águas sujas do rio  Timbó, das tardes no cinema Trindade e de comer goiaba tirada do pé.
Lembrei de mais coisas de que eu gostava! De comer pipoca, de ir ao circo, de ouvir as músicas tocadas no rádio, de caldo de cana, da quenturinha do colo da minha mãe.
Gostava muito mesmo de ver os pingos de chuva no vidro quebrado da janela do quarto, de canjica, de lamber o fundo do prato, de refresco de groselha e das tardes de domingo.
Quanta coisa na minha vida para gostar. Quanta coisa que eu gostei de gostar. Quantos gostares perdidos nas minhas lembranças . Dos discos que comprei na adolescência, da voz da Doris Day, dos filmes musicais, do leão na tela do cinema rugindo e avisando do começo do filme. Gostei de tantas coisas ... de tanta gente ...
Um dia percebi que estava gostando diferente. Era um sentimento estranho que eu nunca havia sentido. Era algo que me fazia sonhar. Era um gostar chamado amor, e então o verbo mudou e passei a amar.
Amar pessoas, amar meu trabalho, amar meus amigos, amar passou a ser o meu verbo preferido, até um dia em que amar se tornou sofrer. Gostar era mais fácil. Gostar ou não gostar eram situações muito simples. Mas amar era mais complicado, mais complexo, mais difícil, mais ... nem sei mais o que mais ... sofrer! Isso mesmo; aprendi que o verbo sofrer era parceiro do verbo amar.
Mas depois que se aprende a conjugá-lo, é difícil voltar ao antigo verbo gostar. Torna-se uma necessidade conjugá-lo no presente, no passado, no futuro, nos pretéritos, no singular e também no plural.
Amar e gostar! Gostar e amar!
Gostei e ainda gosto de muitas coisas e pessoas. Porém, amar tornou-se o meu verbo preferido, mesmo correndo os  riscos que ele oferece.
No passado: amei. Fui  amado. Amei! Mas fui amado quando amava? Não sei ...
O verbo amar quando é conjugado no singular, torna-se um perigo. Eu amo! Sim, e daí?
De que serve um amor isolado? Para que serve um amor solitário e sem resposta?
Estou amando! Eu amo, hoje! Agora! Neste momento! Nesta hora! Neste minuto! Neste segundo!
Eu amo você! Ah!!!  Eu amo!
                                                                                       Edison Borba
                                                                                      

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