quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

RETORNAR A VIVER EM SANTA MARIA

As flores irão murchar.

As lágrimas irão secar.

A chuva lavará as calçadas.

A notícia perderá as páginas primeiras.

Aos poucos a vida ganhará vida.

O fato se esvaziará.

Perderá força, sendo esquecido.

Aqui e ali, alguém deixará escapar um sorriso.

Às vezes, uma lágrima teimará em deslizar sobre uma face.

Assim acontece a retomada.

Aos que morreram, sepulturas.

Aos que ficaram, saudade.

Corações feridos jamais cicatrizarão.

Dores de amores.

Amores dos filhos enterrados.

Amores dos amores interrompidos.

Para esses será difícil a  retomada.

Feridas serão pesados e tristes troféus.

Aos poucos alguém ousará um assobio.

Um som será ouvido

E novamente, a vida renascerá.

Novas músicas serão criadas

E cantaroladas pelo povo.

Outros jovens voltarão a dançar e a cantar.

Aos poucos a alegria voltará.

É a retomada.

É a vida.

Dos que morreram, lembranças.

Aos que ficaram,  a verdade.

De viver com a saudade.

E a amarga com possibilidade

Que um dia, outro dia.

Mais um triste fato poderá acontecer.

Na esperança, de que o triste acontecimento do RS (Santa Maria), não

volte a acontecer. Que haja menos ganância e mais amor entre nós.

Edison Borba

ORAÇÃO

Cuida de mim,  sem rancor
Cuida de mim,  por  favor
Cuida de mim,  sem amor

Apenas cuide

Como se eu,  um objeto fosse
Um quadro ou uma  estátua
Me deixe na parede ou no armário

Mas, cuida de mim

Não precisa me amar
Mas também não precisa odiar

Me deixe num canto
Em qualquer canto

Mas, cuide, cuide de mim

Eu sei esperar
Juro que não vou pedir 
E nada vou exigir

Mas, cuide e não me descuide
Não me deixe quebrar
Não me deixe esquecido
E não me renegue
E nem me odeie

Deixe que eu permaneça
Como objeto abjeto
Num canto da sua vida
Nos seus desencantos
Nos arrependimentos

Mas que fizeram parte dos seus sentimentos
Mesmo sendo os piores momentos.

Edison Borba

 

 

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

ETERNA AMIZADE

Em torno do caixão, muita gente  se acotovelava para ver Zelindo, pela última vez.
A explicação para toda essa confusão se relacionava à herança do morto. Zelindo foi um dos ganhadores do prêmio máximo da loteria de Natal.
Homem simples e fiel aos seus hábitos  passou muitos anos jogando sempre os mesmos números. Tanta fidelidade lhe rendeu uma bolada em reais. O grande problema, é que ao saber da premiação, o sortudo teve um colapso e morreu.
Solteiro, morando sozinho numa pequena casa do subúrbio, nunca recebera a visita de ninguém que se identificasse como seu parente.
Funcionário público trabalhava como ascensorista numa repartição.  Durante mais de vinte anos conduziu o elevador para cima e para baixo, sempre com paciência.
Não tinha amigos, apenas alguns colegas de trabalho, sentavam-se ao seu lado na hora do almoço. Era um solitário. Apenas o seu cão, chamado Valente, lhe fazia companhia. Ele e o vira-lata eram inseparáveis. Apesar do baixo salário, Zelindo nunca deixou faltar  ração,  cuidados com veterinário e outros luxos que ele dedicava ao seu fiel companheiro.
Durante o velório, os comentários eram sobre quem ficaria com a fortuna. Algumas pessoas se arvoravam em afirmar que eram amigas íntimas do falecido. Houve até quem arriscasse um parentesco. Um cara baixinho chorava bastante se dizendo primo do defunto.
As despesas do enterro foram custeadas pela repartição para a qual ele prestara serviços por tantos anos. Seu chefe, um senhor gorducho, a secretária gostosona e alguns colegas se debulhavam em lágrimas sobre o caixão, demonstrando grande sentimento. Aliás, eram  os mais fortes candidatos a uma fatia da herança. Alegavam a relação diária, o carinho com que  tratavam o Zé, lembravam  fatos íntimos para comprovarem a forte  amizade que havia entre todos eles. A secretária gostosona, com os olhos vermelhos, até deixou escapar um possível “love” que havia rolado entre os dois.
E foi nesse clima de tristeza e constrangimento que o caixão foi fechado e conduzido até o cemitério. Nunca se vira na história, um morto com tantas mãos querendo segurar as alças da caixa mortuária. Houve até um princípio de tumulto, quando o  baixinho gritou: “o dono do defunto pega na cabeça”. Nessa hora uma multidão correu para segurar na alça colocada na dianteira do sarcófago. Foi necessária a intervenção do padre Juca, para que a confusão não tomasse conta do local. Uma multidão, só vista em enterro de artista, acompanhou Zelindo à sua última morada.
Durante a caminhada, pelo cemitério, entre covas e jazigos, ouviu-se uma voz forte e grave chamando por Zelindo. O susto foi geral. De onde partira aquela voz. Os mais religiosos, ajoelharam-se e começaram a rezar, os medrosos correram e os curiosos queriam saber quem havia chamado pelo  defunto.
Padre Juca, com um rosário nas mãos pedia, calma.  E controlando a emoção,   perguntou quem estava brincando num momento tão sério. Foi então, que apareceu ofegante o dono da loteria, onde o jogo havia sido feito.
Com uma folha de jornal nas mãos gritava Zelindo, você ganhou,  mas não levou.  Padre Juca, usando de sua autoridade eclesiástica, exigiu uma explicação para tamanha confusão.
Genovino, após acalmar-se, explicou que o prêmio havia saído para centenas de apostadores. Sendo assim, Zelindo só receberia alguns míseros reais. Portando, o morto, além de morto continuava pobre.
 Imediatamente o cemitério ficou vazio. A galera saiu rapidamente, deixando o caixão sozinho.  Apenas Valente, o fiel cão  permaneceu junto a seu amigo, esperando que uma alma bondosa, levasse o caixão para o seu endereço eterno.
Edison Borba

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

RELAÇÕES INTERNACIONAIS

           O mundo,  ligou- se  na solenidade de posse do reeleito presidente dos Estados Unidos Senhor Barack Obama. Impossível não se contagiar com o carisma deste homem. Políticas à parte, ele a sua família, trazem para o cenário da política internacional ares de paz e harmonia.
Sabemos que nem sempre as aparências representam a realidade, principalmente no jogo político, mas Obama representa esperança para um grupo de cidadãos, que nem sempre fazem parte da lista de prioridades dos governantes.
Os patinhos feios, geralmente ficam de fora dos planos governamentais, como os imigrantes, os de especial comportamento sexual, os que diferem da maioria, os considerados politicamente incorretos. É nesse ponto, que a figura Obama ganha força e reforça o otimismo numa sociedade menos preconceituosa. Podem parecer questões menos importantes do que assuntos relacionados à economia e à segurança. Mas, a partir desses pontos, é que os de maior complexidade, como as guerras e as armas, poderão chegar  perto de uma possível solução.
Um homem negro consegue chegar ao mais alto na política internacional. Faz  governo repleto de contradições e se reelege. Isso é sinal de que o povo, de todos os países, acredita que é necessário experimentarmos novas lideranças.
Provavelmente, os representantes dos excluídos, tenham mais capacidade de entender como vive e, o que é necessário para o equilíbrio entre todos os cidadãos do mundo.
As grandes mudanças históricas foram conseguidas gradativamente, às vezes até morosamente. A mulher batalhou anos para ser reconhecida como cidadã, a abolição da escravatura negra também foi lenta e precisou de muitas lutas, físicas e intelectuais. Outras escravidões ainda persistem em vários lugares do planeta, a intolerância religiosa e sexual ainda faz parte de um jogo perverso e discriminatório. Um grande número de crianças ainda vive em condições precárias para o seu desenvolvimento.
A figura do Senhor Obama e sua família reforça a possibilidade de mudanças. O mundo parou para ouvir o discurso.
Palavras, apenas palavras, entre elas e as ações, existe um grande espaço. Porém, são elas que provocam ações e reações e nesse item o atual (antigo) presidente dos Estados Unidos, conseguiu êxito.
Boa sorte aos Obamas!
Edison Borba

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

MONSTRUOSIDADE

           Um participante de  famoso programa (reality show) de uma grande emissora de televisão brasileira, contou com minúcias como arrancou os dentes de seu cachorro, usando um machado.
Detalhadamente, ele, de forma cruel, fez questão de explicar como torturou o animal. É lamentável que emissoras  televisivas permitam que tamanha barbaridade seja divulgada.
A situação é tão inacreditável, que há pessoas que não conseguem crer no que ouviram, preferindo optar por ser tratar de um golpe de publicidade.
Pensando em publicidade, a história e tão monstruosa, que jamais deveria ser permitida, nem por brincadeira.
Lamentavelmente, programas desse tipo ( shows de realidade ), foram implantados, em algumas emissoras, e mais lamentável é que são patrocinados por fortes empresas. Uma enorme campanha publicitária,  se encarrega de manipular os  cérebros dos telespectadores, de tal forma, que a audiência, sustenta o prêmio final.
A cada edição desse tipo de  programa, mais barbaridades acontecem frente às câmeras. Sexo explícito, brigas, intrigas, violência psicológica, alcoolismo e tudo o que de ruim existe na alma humana.
Como afirmou um dos apresentadores, uma fauna, um zoológico vinte quatro horas no ar para quem quiser assistir.
Porém, o que aconteceu dessa vez, amedronta até os bichos. Falar sobre a mutilação e tortura de um animal é monstruoso demais.
Só nos resta lamentar, que os participantes desse tipo de programa, sejam tratados como heróis. Consigam contratos fabulosos. Tornem-se famosos e  disputados por revistas importantes.
Sabemos que sendo a história das maldades contra o cachorro,  verdadeira ou não, ela foi contada. O seu autor, é o mais novo herói da televisão brasileira. Em poucos meses será famoso. Assinará excelentes contratos com altos salários e a sua fanfarronice poderá ser imitada por algum psicopata, ávido por ocupar as manchetes dos jornais.
Nada mais tendo a acrescentar ao  vergonhoso episódio, perguntamos: “por onde anda a sociedade protetora dos animais?”
Edison Borba

 

 

sábado, 19 de janeiro de 2013

ESTRELA SEM BRILHO

 
           Era uma vez um homem. Um senhor. Um trabalhador. Mais especificamente um profissional do volante. Um motorista.
Conta a lenda, que ele, realizou um grande sonho, se tornou chofer de “madame”. Mais do que isso, um condutor de astros e estrelas.
Dias e dias, e o homem trabalhador, era só felicidade. Conduzir famosos  e famosas, atores e atrizes. Ele em seu uniforme, feliz ao volante dirigindo famosos.
Quanto orgulho, ter seu veículo apontado pelas ruas como se fosse uma carruagem conduzindo a família real britânica.
Dias, meses e anos de muita alegria. Habituado a dirigir com cautela, para não perturbar os grandes nomes da dramaturgia televisiva. Ele sabia que muitos dos grandes nomes, possuem temperamento frágil e instável.
Dizem as boas e más línguas, que verdadeiramente os famosos por essência, são os mais tranquilos e também os mais educados com seus apoiadores. São os que tratam bem os auxiliares, como manicuras, cabeleireiros, costureiros, maquiadores e outros profissionais que garantem o brilho dos astros e das estrelas. Porém, existem os que usam seus poderes contratuais para expressarem seus maus humores, indelicadezas e pouca educação. É uma forma de fazer sucesso às avessas. Talvez sejam os que possuem menos brilho.
Mas o nobre cidadão não se importava com isso. Ele gostava de dirigir o automóvel como se fosse nave espacial, por um universo de astros e estrelas.
Porém, lamentavelmente, uma falha na comunicação, fez com que a direção do seu veículo, fosse mudada. Como uma órbita de cometa, seu carro perdeu-se no universo  aumentando a sua trajetória, tornando a viagem  mais longa do que deveria.
A mudança de órbita não agradou a estrela passageira.  Raios e trovões foram lançados. O tempo ficou nublado e uma forte chuva de granizo atingiu o trabalhador.
Um erro injustificável! Uma estrela jamais pode perder o rumo! Como um simples condutor de veículo perde a rota? Como a rainha da história de Alice no país das maravilhas, uma explosão de pragas caiu sobre o homem. Assustado e com medo da punição, o coração do trabalhador, assim como o seu carro, mudou de rota, enguiçou e parou.
Hoje, o senhor motorista dirige seu carro entre as nuvens do céu. A estrela, continua na terra,  tentando não se tornar cadente.
Edison Borba
 

HERANÇA MALDITA

Temos acompanhado através dos meios de comunicação, a herança deixada pelos prefeitos das diversas cidades brasileiras. A maioria das prefeituras encontra-se com um grande rombo em suas finanças. Os novos dirigentes estão recebendo dívidas milionárias. Em algumas os salários dos servidores públicos encontra-se atrasado. Prédios escolares em ruínas e material didático abandonado em porões, sofrendo a ação de cupins. Hospitais em estado de calamidade, coleta de lixo interrompida. Ruas sem calçamento e falta de saneamento básico. Tudo isso agravado, em algumas cidades, pelas fortes chuvas que fizeram boiar nas águas das enchentes o descaso e a corrupção de diversas prefeituras.
Uma vergonha para o Brasil, o país que irá sediar a Copa do Mundo de Futebol e as próximas Olimpíadas.
Uma vergonha,  para um país que se diz preocupado com os brasileirinhos.
Uma vergonha, que  dá indícios de continuar a existir. Os novos prefeitos iniciaram seus mandatos, aumentando seus próprios salários.

Uma vergonha!

Impossível acreditar que nosso Brasil, um dia irá ser respeitado pelas outras nações. Falta  ética, falta moral e falta brasilidade.

É muito triste, escrever sobre esses fatos. Há anos, repetimos as mesmas notícias. Há anos nos envergonhamos, com tanta desonestidade.

Como iniciarmos um novo ano, com tranquilidade, diante das diversas imagens constrangedoras que são exibidas diariamente nos noticiários? Cenas que se repetem anualmente, mensalmente e diariamente. Os protagonistas são os mesmos. Os enredos se repetem. Os cenários, esses é que ficam cada vez mais destruídos. Lixo empilhado sobre lixo, miséria sobre miséria, irresponsabilidade e mais irresponsabilidade e grandes fatias de pizza saboreadas pelos corruptos.

Sinto-me e acredito que outros brasileiros, também, desgastado, desgostoso e desanimado. Às vezes até envergonhado. Não podemos entender que haja num país, tanta corrupção e desumanidade.

Por que causar no povo trabalhador sofrimento, dor e tristeza?

Que tipo de satisfação, alguns políticos sentem com a miséria?

Será que nossos representantes possuem desníveis comportamentais? Serão sádicos? Cleptomaníacos? Sociopatas?

Mas, outras dúvidas também me assustam, fazemos passeata, retiramos um político do poder e depois o reelegemos para um novo cargo.

Acompanhamos  julgamentos e por alguns momentos acreditamos que a lei será cumprida, e logo acordamos para a realidade cruel. Ninguém foi preso.

Tomamos conhecimento sobre desvios do dinheiro público, sabemos até o nome e o cargo de quem rapinou os cofres do povo. Apenas isso e nada mais. O dinheiro nunca aparece, mas os ladrões continuam livres, leves e soltos.

Nós brasileiros, possuímos um tipo de comportamento,  no mínimo inusitado. Existe uma passividade que se esconde atrás da máscara da alegria, que é vendida para o mundo, como um povo feliz. Será?

Nota para ser colocada em agenda:

18/01/2013-18h35 – FOLHA DE SÃO PAULO

Brasil vai acabar com miséria extrema até início de 2014, afirma Dilma

A presidente Dilma Rousseff disse na tarde desta sexta-feira (18), no Piauí, que seu governo irá erradicar a miséria extrema no país até o "início de 2014".

O anúncio foi feito em um dos Estados com o maior número de famílias com renda per capita mensal abaixo de R$ 70, critério para a aferição da condição de miséria extrema. A partir desse valor, o governo considera que a pessoa não está mais no grupo de extrema pobreza.

Dilma afirmou durante discurso na cerimônia de entrega de 400 apartamentos do programa Minha Casa, Minha Vida, em Teresina, que alguns Estados erradicarão a miséria ainda este ano. Os demais, em 2014.

"Temos o objetivo de acabar com essa pobreza extrema até 2014. É óbvio que não vai ser no dia 31 de dezembro de 2014. Vamos acabar com a pobreza extrema na maioria dos Estados do Brasil ainda no ano de 2013 e vamos completar esse processo de tirar da pobreza no início de 2014. É possível e vai ser feito", disse a presidente.

"Um país não vai ser respeitado se nós deixarmos uma parte do nosso povo, uma parte da nossa população em condições de pobreza", afirmou Dilma. "Achamos que o país vai crescer se as pessoas crescerem junto."

------Observação:

Esperamos, que as palavras (promessas) da nossa Presidente se transformem em realidade.

Edison Borba

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

TELE-TORTURA


Mês: janeiro.
Dia: terça-feira.
Horário: 09:15h

Faço a ligação telefônica.
Do outro da linha, uma voz atende o meu chamado.
Obrigado senhor,  por estar usando os nossos serviços!
Meu nome é Confúcio e sou o seu atendente virtual. Ouça  o nosso menu e nos indique a sua necessidade.

Se você já é nosso cliente, digite dois.
Se você não é nosso cliente, digite três.
Se você já ligou e ainda não foi atendido, digite quatro.
Se você quer falar com um dos nossos atendentes, digite  oito.
Se você quer que eu repita novamente o menu, digite nove.

Você discou oito.

Estaremos passando a sua ligação para um dos nossos atendentes. Por favor, aguarde na linha, mas antes anote o número do nosso protocolo.
Vamos esperar que você tenha  papel e lápis para anotar o  que vamos passar:
“um-três-zero-dois-nove-nove-zero-zero-cinco-três-um-oito-cinco-dois”.
Obrigado por usar o nosso serviço. Aguarde que um dos nossos funcionários irá atendê-lo.

Horário: 10:05h

Ainda no telefone, ouvindo uma irritante musiquinha.

Horário: 10:19h – ainda esperando

Horário: 10:23h – bom dia. Meu nome é Florisbela. Em que posso ajudá-lo?

Após ouvir toda minha história, a Florisbela, fala.    
Por favor,  senhor, para que possamos ajudá-lo, informe-nos os seus dados!
Nome. Idade. CPF. RG. Endereço. Estado civil. Gosta de feijoada? Tem cachorro? Tem gato? É casado? Mora  sozinho? Qual a sua cor favorita?

Obrigado senhor, estamos verificando as suas informações.
Obrigado por esperar. Agora, por gentileza, poderia me relatar qual o motivo da sua ligação?

Repito pacientemente para a Florisbela, o motivo da minha chamada. Ainda com paciência solicito a presença de um técnico para consertar um determinado aparelho. A simpática atendente  informa, que irá passar a minha ligação para o setor competente. Porém, pede para eu anotar o número do protocolo:

“dois-zero-um-três-quatro-oito-nove-zero-zero-zero-zero-oito”.

Obrigado senhor por ter nos procurado. Estamos encaminhando a sua ligação para o setor solicitado. Obrigado por confiar nos nossos serviços.

Horário: 11:33h (iniciei a maratona às 09:45h)

A musiquinha enlouquecedora entre pelo meu ouvido e atinge o meu cérebro.

Bom dia senhor, aqui é Aristofânio, em que posso servi-lo?
Desfio todo o meu rosário de lamentações e após gastar minha voz, Aristofânio, com delicadeza, pede para eu responder algumas perguntas. Eu aceito, ainda com paciência.
Nome, endereço, idade, estado civil, estado de saúde, número do sapato, cor preferida, time de futebol, nome do pai, nome da mãe, nome da vizinha etc ...etc...etc...

Horário: 12 horas ( meio dia ). Estou com fome e começo a suar. Estou ficando nervoso.

Aristofânio, calmamente solicita que eu descreva o meu problema.
Nesse momento, comecei a contar para ele a minha vida particular. Minha mulher fugiu com o carteiro. Minha sogra ficou com o meu apartamento. Estou com um sério problema estomacal. Meu patrão está me perseguindo. Há um vazamento no meu banheiro. Meu salário já acabou e o mês ainda está no início. Além de tudo isso, meu computador deu pane e eu estou precisando de um técnico. Apenas um técnico. Só um. Apenas um. E choro copiosamente. Minhas lágrimas mancham o papel no qual estou anotando mais um número de um novo protocolo.

“Um-zero-dois-um-quatro ...........................................”

Aristofânio: “ -Senhor estamos providenciando o seu atendimento. Por favor, aguarde na linha. Estaremos providenciando um técnico. Por favor aguarde”.

São 12 horas e trinta minutos. Minha cabeça está quase estourando.

Agora são 13:00 horas.

Estou exaurido. A musiquinha continua a tocar no meu ouvido. Minha cabeça dói. O suor escorre pelo meu rosto. Estou à beira de um ataque de nervos.

A ligação caiu.

Vou começar tudo de novo!

Edison Borba

 

 

 

 

MORTE DE MÃE

Mulheres mães
Deveriam ser imortais
O que fazer ao perdê-las?
Quem nos irá nortear?
Quem irá nos acalentar?
Em que colo chorar

Morre
Mulher
Matriarca
Mãe
Minha mãe

Em seu útero
Fui gerado
Vida
Em seu peito
Alimentado
Vida
Em seu colo
Aconchegado
Amor

Por suas mãos caminhei
Sua voz me guiou
Seu carinho me confortou

Mulher fortaleza
Matriarca por condição
Mãe por vocação

Nas noites escuras
Me protegeu
Nas dificuldades
Me acolheu

Ver seu corpo num caixão
É dor que dói demais
É perder o rumo o caminho

Sou adulto e estou perdido
Sou um órfão
Sou solidão

Mãe, acorde
Não me deixe sozinho
Solitário
Perdido

Acorde mulher!
Volte a viver
Preciso do teu abraço
Preciso do teu afago
Preciso de você

Edison Borba

domingo, 13 de janeiro de 2013

LÁ - UM LUGAR DIFÍCIL DE SE CHEGAR!

Foi aos oito anos, na classe primária da escola em que eu cursava a segunda série, que ouvi pela primeira vez, essa observação.
A professora  da turma, ao corrigir um exercício, que eu não conseguia acertar, delicadamente, querendo me incentivar, falou: “-Tente mais uma vez. Você vai conseguir. Você vai chegar lá!”
Sem entender claramente o que significava aquele apelo, tentei e errei mais uma vez.
O tempo passou e já adolescente, decepcionado por não ter conseguido uma vaga numa primeira tentativa de trabalho, ouvi de meu pai: “Filho, não desanime, você um dia chega lá!”
Dessa vez, não consegui saber onde ficava o lá.
Onde seria esse lugar? O que fazer para chegar lá?
Após muitas caminhadas, pela cidade, seguindo roteiros de anúncios em jornal, consegui trabalho com a carteira assinada.
Trabalho encontrado. Resolvo, então,  estudar à noite e prestar vestibular.
Dias cansativos e noites mal dormidas. Olhos vermelhos pelas horas de estudo e na primeira tentativa, decepção. Diante do fracasso, ouvi de minha mãe, novamente a observação: “- Filho, não desanime: um dia você chega lá!”
Confesso que dessa vez chorei! Chorei bastante. E mais uma vez fiquei perdido diante das dificuldades que ainda teria que enfrentar para um dia chegar ao desconhecido lá.
Como um menino perdido, eu novamente encontrava-me sem saber o que fazer para chegar a esse jardim das maravilhas. A terra prometida onde jorra leite e mel e a felicidade é  constante.
Após algumas tentativas consegui o diploma. Com o certificado profissional em mãos, acreditei que chegar lá, seria mais fácil. Quem sabe o lá não é aqui? Pensei inocentemente. Agora eu tenho o passaporte e poderei transpor as barreiras da terra do lá.
Concursos, recusas, portas fechadas, currículos enviados e meus amigos sempre tentando me ajudar repetiam constantemente: “Calma, um dia você irá chegar lá!”
Consegui um  emprego para executar tarefas não muito compatíveis com meus aprendizados, mas era um caminho para eu conseguir chegar lá.
Os anos passaram e deixei de pensar no lá. A questão era ser feliz aqui e agora. E foi com essa nova proposta, que encontrei a pessoa que me despertou uma grande paixão. Surgiu em mim um novo sentimento e acreditei que chegar lá seria uma tarefa a ser conseguida em parceria. Não era uma estrada para se seguir sozinho. Finalmente havia descoberto a maneira de chegar lá. Porém, paixão e amor só existem se acontecer nas duas margens do rio.  Mais uma vez ouvi um não. E chegar lá, tornou-se impossível!
Envergonhado e não querendo ouvir novamente a tão conhecida observação: “-Tente outra vez. Tente novamente que você vai chegar lá”,   chorei sozinho, chorei baixinho. E mais uma vez perdido em meus pensamentos, não conseguia entender onde ficava e como se deveria proceder para chegar lá!
Hoje, sob o peso da idade, sou um homem que consegui desvendar o mistério.
Lá não é um ponto distante no horizonte. Lá existe para nos provocar  a vontade de alcançar os sonhos. Percebi que o lá está dentro de nós. O lá é aqui. O lá acontece agora. Nunca iremos chegar lá porque já estamos vivendo nele.
É tão simples! É tão fácil! E ao mesmo tempo tão complexo!
Lá não é um lugar difícil para se chegar, lá é um lugar difícil de  estar.
Edison Borba

sábado, 12 de janeiro de 2013

TIM MAIA REVIVE NO TEATRO.

 
Vale tudo para  assistir  a um excelente espetáculo do teatro brasileiro. Emocionante ver, cantar e dançar com Tim Maia, que renasce numa grande produção teatral.
Existem momentos que chega a ser arrepiante estar diante do grande descobridor dos sete mares, nos emocionando com sua potente voz, nos dando motivo até para chorar de emoção.
Tiago Abravanel vai além de uma simples interpretação, ele é a própria encarnação do cantor de Primavera, Baby, A Festa do Santo Reis e outros sucessos.
Durante o espetáculo ninguém tem sossego e ninguém fala ao telefone.  Espectadores do Leme ao Pontal, você e eu, eu e você, todos ligados no balanço do síndico da música popular brasileira.
Uma história bem contada e cantada em prosa e verso, músicos de excelente qualidade,  atores bem entrosados fazem do espetáculo “Vale Tudo” um dos melhores dos últimos anos.
Tiago, neto de Silvio Santos, veio para se impor no cenário teatral. Dono de grande potencial vocal e de um carisma que é revelado no abrir das cortinas, esse jovem artista, sem dúvida é uma grande revelação.
Espetáculo para ver e recomendar aos amigos.
Não tive a oportunidade de assistir a apresentação com Danilo de Moura, cover, que substitui eventualmente Tiago Abravanel. Porém, amigos que tiveram a oportunidade de estar no teatro quando Danilo se apresentou, garantem que o espetáculo não perde   vigor e beleza.
Tiago e Danilo são ótimos  portanto, não me dê motivos para deixar de assistir a essa bela produção do teatro nacional.
 Edison Borba

FORÇAS

Salve o branco de Oxalá
O vermelho de Ogum
O verde de Oxossi
O dourado de Iansã

Azul é da sereia
Azul  é de Iemanjá
Azul é cor do céu
Azul é cor do mar

Salve o roxo de Nanã
Nossa Senhora das Dores
Mãe de Jesus Salvador
Por amor, morreu na cruz

Salve o luto das viúvas
Que choram vestidas de preto

Salve Xangô da pedreira
Com seu machado afiado
Protege os desvalidos
Luta pela justiça entre os homens
Combate guerras
Quer a paz

Salve os Anjos da Guarda
Que nos guardam e protegem
Salve Ibeji – Arerê
Crianças querem brincar
Sob o manto de Nanã
Acalentados por Oxum
Que nos consolam e amparam

Salve a terra
Nossa Mãe
Com suas florestas e rios
Mares oceanos  montanhas 
Salve o fogo salve as águas
Sejam doces ou salgadas
Cascatas e cachoeiras

Salve todos os poderes
Os raios e os trovões
Todas as forças unidas
Que se transformam em amor

Salve o maior poder
O que é universal
A quem pedimos a benção
Para seguirmos vivendo
E quando chegar o momento
Ele nos conduzirá
Pelos portões do universo
Nos levando até o Pai

Saravá,  Nosso  Senhor
Que é também é do Bonfim
Imploramos sua benção

Ajuberu Atotô

Edison Borba

 

 

 

 

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

UMA HISTÓRIA DE AMOR

Era uma vez uma frondosa árvore. Seu grosso tronco era impossível de ser abraçado. Seus muitos galhos e a grande quantidade de folhas propiciavam uma aconchegante sombra no verão. Na primavera se enfeitava de flores, que anunciavam os frutos que chegariam pelo outono. Mesmo no inverno, a majestosa árvore desnuda de suas folhas, não perdia o seu porte, a sua postura de rainha.
Sempre  vaidosa e orgulhosa da sua beleza, ela reinava sobre as suas irmãs. Era a preferida pelos pássaros para a construção dos seus ninhos e pelos namorados para se amarem à sua sombra.
Em todo o bosque, não havia floração mais bonita e a produção de frutos mais saborosos. Era uma rainha,  uma deusa, sem dúvidas,  ela era muito especial.
E assim os anos se passavam sem que nenhuma outra jovem árvore conseguisse atingir o seu pedestal.
Certa vez, um jovem casal buscou a sua sombra para trocarem juras de amor. Ela orgulhosa por ter sido mais uma vez, testemunha de uma paixão, deixou cair sobre os enamorados algumas pétalas das suas flores. Era tempo de primavera e o seu perfume tornou aquele encontro especial, envolvendo os apaixonados num clima de amor eterno.
Para marcar para sempre a união,  o rapaz deixou gravado no tronco da vaidosa árvore, um coração com as iniciais do seu nome e o da sua amada. Atitude comum entre enamorados. Outros corações já haviam sido marcados em diversos troncos de árvores, incluindo no da vaidosa rainha daquele bosque. Porém, esse coração tinha algo de especial. Ela, a árvore vaidosa, não sabia explicar o que sentiu quando o rapaz deixou em seu tronco a  marca do seu amor.  O jovem enamorado mexeu com o coração da frondosa árvore.  Desde aquele dia uma sensação que ela nunca havia experimentado subiu por suas raízes e se espalhou por todos os seus galhos e folhas.
Terminou a primavera e o verão chegou esquentando todo o bosque  trazendo famílias para as sombras. Depois o outono com suas frutas e pássaros abriu espaço para o inverno, período em que o bosque recebia poucas visitas.
Finalmente as flores começaram a se abrir, anunciando mais uma primavera. Todo o bosque vibrou de felicidade e ela a majestade mais ainda. Este ano suas flores estavam mais coloridas do que em outros períodos. Como era bom estar novamente recebendo elogios!
Uma tarde, daquelas tardes agradáveis com uma suave brisa balançando as folhas e derramando pétalas por todo o chão, um solitário rapaz aproximou-se da vaidosa árvore. Ela o reconheceu. Era aquele que havia marcado o seu tronco e o seu coração. Porém, ele estava sozinho. Chegou lentamente, procurou a sua marca, deixando  lágrimas brotaram de seus olhos. Por alguns minutos, ele acariciou a tatuagem feita no tronco e murmurou baixinho, palavras de amor.
Após alguns minutos, o jovem se afastou lentamente, deixando a bela árvore triste e preocupada. O que haveria acontecido?
Um pássaro amigo sabendo da sua preocupação, contou-lhe que a bela jovem havia se enamorado de outro rapaz deixando o seu antigo amor de coração partido.
A nobre árvore, ao saber da notícia, sentiu vontade de arrancar suas raízes do solo e correr em busca do lindo e sofredor amante. Mas, ela sabia que jamais poderia conseguir tal façanha. Passou então a esperar que um dia ele voltasse, mesmo que fosse com outra namorada.
E assim o tempo foi passando e a vaidosa árvore esperando, esperando, esperando. Seus frutos perderam o sabor, suas flores o perfume. Aos poucos seus galhos começaram a murchar e suas folhas a secar.
Hoje, quem passa pelo bosque, pode avistar de longe, uma grande  e seca árvore. Apenas um tronco, galhos retorcidos e um coração talhado em sua casca que o tempo não conseguiu apagar.
Edison Borba

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

ARTESCADA

            Degraus
            Escadas
            Escadarias

 Subir nos degraus
                    Subir a escada
                    Subir a escadaria
Descer
Os degraus
Da escada
Da escadaria

Subir e descer
                    Subir ou descer
                    Dúvidas
                    Decisões

Parar  nos degraus
                    Parar na escada
                    Parar na escadaria
Descansar
Na subida
Descansar
Na descida
Descansar
Nos degraus
Da escada
Da escadaria

    Cair nos degraus
                    Cair da escada
                 Cair da escadaria

Rolar nos degraus
   Rolar da escada
       Rolar da escadaria

Sentar nos degraus
                    Sentar na escada
                    Sentar na escadaria

Chorar nos degraus
                    Chorar na escada
                    Chorar na escadaria

Morrer nos degraus
            Morrer na escada
                        Morrer na escadaria

 
Para Jorge Selarón – chileno – artista (pintor e ceramista)
Obrigado por sua arte nos degraus, da escada, da escadaria da Lapa / RJ.