sexta-feira, 30 de setembro de 2011

CHOCOLATE

                                                   Chocolate derretendo/

                            Corpos ardendo/
                            Sabores e amores/
                                                   Gostos diversos/

                           Bocas coladas meladas pelo sabor/
                                                   Que  escorre , invade e corrompe/

                           Nossos desejos/
                                                   Meu mundo seu mundo/

                           Mudanças estranhas/
                                                   Nas entranhas/

                           Invadidas pelo doce cacau/
                                                   Que inebria/

                            Que aquece e enlouquece/
                                                    Entorpecendo nossos sentidos/

                            Que já nem fazem sentido/
                                Envolvidos pelo doce aroma e sabor do chocolate/

             Edison Borba






O TRÁGICO FIM DAS ESCOLAS NORMAIS

A história das Escolas Normais, ou Escolas de Formação de Professores, faz parte  da história da mulher brasileira. A democratização do ensino feminino passa pelas Escolas Normais. A emancipação da mulher com a possibilidade de buscar cursos universitários tem nas escolas normais, um trampolim. A partir da conclusão do magistério,  uma jovem podia sonhar com maior liberdade profissional e social.
Foi Niterói, cidade do Rio de janeiro, que em 1831 fundou-se a primeira Escola Normal brasileira. A partir dessa data, outras foram criadas em diversos estados do Brasil. Nas décadas de 40, 50 e 60 essas escolas tiveram um papel fundamental na formação dos quadros de professores para o antigo ensino primário. Durante muitos anos, as Escolas Normais eram exclusivamente dedicadas às mulheres. As jovens com o tradicional uniforme azul e branco, só podiam casar, após o término do curso. Outra interessante situação está relacionada à carreira profissional, toda menina que conseguisse ser aprovada para o curso normal, em uma das escolas públicas oficiais, tinham a garantia de nomeação como professora da rede municipal de ensino, no ato de sua formatura.  Jovens de 17 anos transformaram-se em excelentes partidos para os pretendentes ao casamento. Ser aluna de uma das Escolas Normais Oficiais passou a ser  um excelente caminho para toda jovem em busca de emancipação. No Rio de Janeiro, o Instituto de Educação fundado na década de 30, transformou-se numa das mais famosas escolas de formação de professoras para atuarem no antigo ensino primário e alfabetização. Com excelente grade curricular, ministrada por importantes professores e trabalhando com uma disciplina séria, o Instituto de Educação do Rio de Janeiro, foi um exemplo de excelência na formação  professores / alfabetizadores.
Com o passar dos anos e  constantes reformas de ensino, as Escolas Normais  perderam  prestígio e a qualidade do seu ensino tornou-se decadente. Essas famosas escolas foram igualadas aos diversos colégios de ensino médio. Apesar de manter uma grade curricular específica para formar professores, essas unidades de ensino tiveram que se adaptar aos alunos imaturos e mal preparados, que passaram a freqüentar suas classes. Criou-se uma série adicional, que era optativa, para os alunos que terminassem o ciclo de três anos. Mais adiante, o curso passou a ter quatro séries oficiais, e atualmente, ele retoma as suas três séries tradicionais, porém com uma grade curricular diferenciada.
Todas essas complexas mudanças que atingiram as Escolas Normais, não diminuíram a sua importância no panorama da formação de professores. Elas ainda continuam fornecendo material humano para exercer o trabalho nas bases educacionais brasileiras. Portanto, não procede, a Lei que acaba com as Escolas Normais no Brasil. Levar a formação de professores para o Ensino Universitário é absolutamente cruel com as crianças brasileiras. O autor ou autores de tal insanidade esquece que vivemos num país continental, bastante rico em bens naturais e  socialmente pobre. O Brasil não se caracteriza apenas pelas capitais e grandes cidades. É preciso olhar para o interior, onde milhares de brasileiros vivem em extrema miséria. E são nesses lugares que encontramos professores e alfabetizadores atuando heroicamente.  Acabar com o Ensino Normal, é criar um caos na Educação Infantil.
Torna-se necessário, investir nos Cursos de Formação de Professores  e na formação continuada dos Docentes, modernizar  prédios e diversificar  metodologias, estimular  profissionais e manter atualizado o seu conhecimento.
Colocar a formação do professor que vai atuar no ensino infantil na universidade, não vai alterar o triste quadro que já se implantou na educação brasileira. Acabar com as Escolas Normais é um crime contra as nossas crianças. Ainda é tempo de não deixarmos que essa insanidade aconteça!                     Edison Borba

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

ISSO...ISSO...ISSO

O que faz  um programa de televisão ficar  no ar por tantos anos? Qual a magia que ainda prende o telespectador diante da telinha para assistir a um seriado mexicano, apoiado em historinhas simples num cenário que nos lembra os espetáculos mambembes que circulavam  por pequenas cidades?
Num mundo “internáutico”, em que os efeitos especiais se superam a cada dia o  Chaves e toda a sua turma, nos encantam. Dona Florinda a inimiga do “seu” Madruga. Dona Clotilde, a bruxa. Mulher misteriosa  povoa o imaginário da garotada da vila. O bochechudo Kiko e a Chiquinha,  criando problemas para o Senhor Barriga, que nunca consegue receber os catorze meses  de aluguel do preguiçoso Madruguinha.
O eterno amor do Professor Girafales pela Dona Florinda, com rolinhos no cabelo, é repleto de carinho e  embalado pela trilha sonora do filme “E O Vento Levou”. Ao som do Tema de Taras, o convite para uma xícara de café, é puro romantismo.
Morando num barril, Chaves é um menino sem passado, sem história e sem família. Esperto ele é capaz de driblar situações difíceis, com algumas  observações, como: “isso ...isso...isso”, “foi sem querer querendo” e “não se irrite”.
Muita torta na cara, água, tombos e brincadeiras, o programa do Chaves, é um convite à descontração. Na escolinha, o Professor Girafales, recebe outros alunos, como o Nhonho, filho do Senhor Madruga, a fanhosa Popis, que junto com o Kiko, Chiquinha e o Chaves, atormentam a vida do “Professor Lingüiça”, apelido do Girafles, que irritado, joga o charuto no chão e reclama com um forte “tá...tá...tá...”
Cada personagem se destaca através de um chavão, que se tornou inesquecível, como o “não se misture com essa gentalha”, dito pela Dona Florinda, seguido do “gentalha ... gentalha...gentalha” repetido pelo seu filho Kiko, irritando o “seu” Madruga.
E assim, os anos se passaram, muitos espectadores cresceram viraram adultos, e o programa do Chaves, se mantém intato. Talvez seja essa a magia. Ver o Chaves causa uma sensação de retorno ao mundo infantil. Por alguns minutos somos crianças. Por algum tempo os problemas desaparecem. Por uma eternidade, num “sem querer querendo” somos capazes de embarcar nas cartas do Jaiminho (o carteiro) e aguardando a visita da “prisca-avó” da Chiquinha, como num passe de mágica, ficamos felizes.                
                                                     “isso...isso...isso”.
 Edison Borba

terça-feira, 27 de setembro de 2011

POVO FELIZ

                                   Olhos vemelhos/
                                   Homens de verde/        
                                   Sangue/
                                   Jovens correndo/
                                   Homens chorando/
                                   Mulheres lutando/
                                   Crianças perdidas/
                                   Generais/
                                   Soldados/
                                   Cidadãos/
                                   Povo amargurado/
                                   Povo amarrado/
                                   Povo atrelado/
                                   Encurralado/
                                   É povo ou é gado?/
                                   Povo marcado/
                                   Povo encantado/
                                   Povo feliz!/
               

O SILÊNCIO DOS INOCENTES

Nordestino, mulato, rosto marcado por anos de trabalho, pele ressecada pelo excesso de sol, o homem vivia em silêncio. Em mais de trinta anos de vida, poucos tiveram o privilégio de ouvir  sua voz. Sons articulados cuidadosamente, quase inaudíveis como se estivesse sempre escolhendo cada  palavra. Ivo era realmente o “homem silêncio”. Andava devagar. Era capaz de ficar horas  sem ser notado. Até a sua respiração era absolutamente cadenciada e sutil com completo controle corporal.
Ivo era capaz de  puxar enxada  por muitas horas, sempre obediente ao senhor dono da propriedade na qual executava sua lida, nunca reclamando de nada. Recebia o que achavam que  devia receber. Fazia o que diziam para ele fazer. Respondia aquilo que queriam que ele respondesse. Pensava? Sim, Ivo pensava. E ninguém sabia o que ele pensava. Sua cabeça era povoada por uma riqueza de pensamentos, idéias, hipóteses, teses e questões que poderiam causar inveja aos mais diplomados doutores.
Em todos os anos de trabalho duro, Ivo elaborou questões que poderiam erradicar com o problema dos sem terra. Ele sabia como distribuir cada pedaço de um terreno. Os agrônomos ficariam surpresos se um dia pudessem ouvir suas opiniões.  Questões sobre plantio, colheita, armazenamento, combate às pragas eram dominadas por Ivo.
Mas nada que se passava em sua mente era de conhecimento de seus companheiros, de sua família e nem de seus patrões. Era considerado por todos um subserviente sem capacidade de questionar o que acontecia ao seu redor.
Foi em um dia de calor e sol forte,  um dia de enxada  e calos nas mãos, mais um dia de obediência total, mais um desses dias que Ivo não sabia a que mês pertencia. Teria sido apenas mais um dia vazio e comum do plantar e esperar, se o capataz não tivesse surgido, do nada. Apareceu   com voz gritada e zangada a exigir mais trabalho.  Ivo, o “homem silêncio”, enxugou o suor da testa com o dorso da sua mão esquerda, levantou a cabeça e deixou sair de sua garganta o  mais forte grito. Era o  urro dos desesperados. O som emitido por Ivo ecoou por todos os cantos. O capataz, homem rude, também forjado pelas bigornas daquela vida, ao ser tomado pela surpresa, também se calou. Ivo,  caminhou lentamente, abrindo passagem entre seus companheiros de lida. Passo a passo, lentamente,  caminhou até o seu opressor. Ali, diante de todos, frente a frente com o capataz, Ivo iniciou um discurso como nunca ninguém tinha ouvido até aquela data. As palavras jorravam de sua boca de forma clara. As frases eram construídas deixando emocionados todos os trabalhadores. Um a um, todos se aproximaram de Ivo, que conseguia traduzir o sentimento de uma população escravizada. Eram palavras de liberdade e democracia. O rosto de Ivo se iluminava deixando aquele povo em estado de êxtase. Ouviu-se um estampido e o silêncio voltou a ocupar todo o campo. O corpo de Ivo estendido no chão calava para sempre os sonhos de todos os que ainda teimavam em acreditar em novos e felizes tempos.
             Do Livro DOIS EM CRISE - Editora All Print / 2010 -  Edison Borba
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

VELHO OU IDOSO

Estar velho e ser idoso, não significam a mesma coisa. Leia as observações abaixo e faça a sua opção. Ser velho pode ser uma questão de opção,  quanto a ser idoso é apenas uma relação de tempo.Antes de marcar as suas opções, lembre-se que: idosa é uma pessoa que já viveu muito  cronologicamente, em seus documentos, existem números que a impedem de mentir. Velha é a pessoa que perdeu a jovialidade. Para essa, não existem números. O que a caracteriza é a maneira de viver. Sendo assim, nem todo idoso é velho, mas existem jovens envelhecidos prematuramente. Façamos o teste, colocando SIM / NÃO para cada proposição:
-Você tem sonhos que ainda espera realizar? _____ / _____
-Você desperdiça seus dias dormindo, sempre com preguiça? _____ / _____
-Você “curte” aprender coisas novas? _____ / _____
-Você acha que já sabe tudo e não tem mais nada para aprender? _____ / _____
-Você curte caminhar sentindo a brisa em seu rosto? _____ / _____
-Você mantém as janelas de sua casa sempre fechadas? _____ / _____
-Você sente amor pela vida, pelos outros, por tudo que está ao seu redor? _____ / _____
-Você está sempre ressentido e amargurado? _____ / _____
-Você não vê nada alegre e proveitoso no seu dia? _____ / _____
-Você acha que o bom “estava” no passado?  _____ / _____
VERIFICANDO: - veja onde foram colocados os SIM e os NÃO.
REFLETINDO: Leia os pensamentos abaixo e tire as suas próprias conclusões.
O idoso é aquele que teve a felicidade de adquirir muitas experiências pelos anos vividos. É uma ponte entre o passado e o futuro, ele se faz presente no presente, servindo de exemplo para os jovens. Traz sabedoria adquirida no passado e esperanças do que ainda espera conseguir. E com essa esperança, ele continua irradiando alegria e felicidade. Cada dia é renovado, simplesmente por ser apenas um novo dia a ser vivido. Se existem rugas no rosto de um idoso, elas foram vincadas pelos sorrisos e gargalhadas distribuídas pelo tempo.
Velho é aquele que tem carregado o peso dos anos, transmitindo pessimismo e desilusão. Está sempre colocando obstáculos e cavando fossos escuros e profundos. No final de cada dia, se sente acabado, enclausurado em seu mundo como uma ostra se recusando à luz. Os velhos exibem rugas de amargura e sofrimento.
Portanto, idoso ou velho são duas situações diferentes. Existem pessoas que tem a mesma idade, porém uma é apenas idosa enquanto a outra é velha. E também encontramos indivíduos novos quanto à faixa etária, mas que são velhos em pensamentos e atos.
A vida é uma experiência constante. Cada fase tem seu encanto, sua doçura e suas descobertas. Também existem as dificuldades, a diferença está na forma de enfrentar os problemas.
Sábio é aquele que desfruta de cada dia, extraindo o que de melhor existe na vida. Na soma das experiências e oportunidades é que podemos manter a jovialidade independentemente da idade cronológica.
Edison Borba

domingo, 25 de setembro de 2011

"Iscola ... o crime" - O LIVRO

“Iscola ... o crime” é um livro que trata de assuntos sérios que envolvem as nossas escolas. A autora, Rose Araújo,  apresenta-nos de forma lúdica o lado difícil da profissão professor. Cada tirinha merece análise e reflexão cuidadosa por todos os que levam a sério a educação em nosso país.                     
O livro é uma coletânea de tiras de quadrinhos criadas em 2006 e publicadas no jornal Graphiq (SP) desde 2007.
A obra é um registro crítico, um exercício de observação e, infelizmente, a vivência das salas de aula nos tempos atuais.

Contatos com a autora
Rose Araujo
www.rosearaujo.com


NOSSAS MÃOS.

Minha mão na tela fria do computador.
Sua mão ...
Do outro lado da tela,
Do outro lado do mundo,
Do outro lado ...

Minha mão na tela do computador .
Sua mão ...
Encontrando a minha,
Encostando na minha,
Me acariciando ...

Minha mão na tela ...
Sua mão...
Me desejando,
Me emocionando,
Me tocando ...

Minha mão.
Sua mão.
Nossas mãos!

Minha!
Sua!
Nossas mãos!
Nós!
Prisioneiros do mundo virtual!
Edison Borba

NA LOCADORA - 08

Filme (Documentário) LIXO EXTRAORDINÁRIO – Filmado entre 2007 e 2009
Coprodução: Brasil / Reino Unido
Local: Aterro sanitário de Jardim Gramacho, periferia da cidade do Rio de Janeiro.
Direção: Lucy Walker - Co-Direção: João Jardim e Karen Harley

Neste documentário, indicado ao Oscar, podemos acompanhar o trabalho do artista plástico Vik Muniz.

Muito já foi escrito e comentado sobre esse filme e não há palavras que possa descrevê-lo. É importante assistí-lo. Uma obra que se presta a excelente trabalho escolar, podendo ser aproveitado num projeto interdisciplinar. Artes, geografia, biologia, química e sociologia entre outras disciplinas muito terão a lucrar ao analisar esse filme. É uma obra que fala de “gente”. Quem vive e sobrevive no lixão de gramacho? Quem são essas pessoas? Que observações elas fazem dos habitantes da cidade, a partir do lixo que produzimos. Há uma identidade nos detritos, que levam os catadores a filosofarem sobre quem produziu aquele detrito. Juízos de valores que não podem passar desapercebidos de quem assiste ao documentário.
Há momentos, em que os diálogos são de extrema importância. É bom ficar atento para observações como:
... “a pior coisa da sociedade brasileira é o classicismo” ... /
...”acho terrível como algumas pessoas acham que são e acreditam que são melhores que as outras”.../
...” a doçura foi tirada dessas crianças, filhas dos cortadores de cana do Caribe,ilha de São Cristovão”... /
...”para a sociedade brasileira essas pessoas do aterro não são muito diferentes do lixo”... /
... “eu tava andando no lixo e vi aquele livro grosso todo chorumado. Tava escrito: O Príncipe, de Maquiavel. Deu neurose de ler” ...
Assistir essa obra através de DVD, é poder usufruir de cada cena. Voltar a “fita” e fazer releituras. Não é um filme para ser assisitido é para ser vivido em cada detalhe.
Nas escolas, é importante que o professor conduza os alunos para observarem os personagens. Cuidado para não mergulhar no lixão e focar nos detritos. É importante observar que estamos observando trabalhadores, exercendo uma profissão. Eles estão ajudando a sociedade a organizar o que se descarta, de maneira desorganizada. É necessário destacar a importância daqueles homens e mulheres e a dignidade com que exercem seus papéis
Importante a observação final - “não somos catadores delixo – porque lixo não se aproveita, somos catadores de material reciclável”.

Não deixe de assistir esse importante documentário!
Boas reflexões!
Edison Borba

sábado, 24 de setembro de 2011

PIPA "VOADA"

Valdemar era uma dessas pessoas inconvenientes. Sem nenhum senso de ridículo, estava sempre criando situações constrangedoras. Incapaz de perceber o quanto era desagradável, não percebia o quanto incomodava a todos que tinham o desprazer de conviver com ele. Seus amigos o chamavam de pipa-voada, maluco e irresponsável. Estava sempre pronto a contar piadas, fazer brincadeiras e chacotas. O que para muitos era algo engraçado, para outros eram atitudes desagradáveis. Por mais que alguns amigos reclamassem, Valdemar não mudava. A cada dia se tornava mais incontrolável. Eram tantas as brincadeiras, que ninguém mais o suportava. Algumas pessoas desejavam ardentemente que ele explodisse, sumisse, desaparecesse junto com as suas brincadeiras. Quando chegava, havia uma expectativa do que ele aprontaria. Eram apelidos e brincadeiras muitas vezes que traziam conseqüências desagradáveis, como trocar as correspondências dos amigos e esconder objetos pessoais, que, em muitas vezes provocava discussões que levavam pessoas amigas a se tornarem rivais. Criava histórias macabras e aplicava sustos nos incautos. Assim eram os dias de Valdemar. Em sua casa, a situação era a mesma. Sua esposa estava sempre reclamando das suas brincadeiras e irresponsabilidades. Até seus dois filhos, um de quatro e o outro de seis, não se conformavam com a atitude do pai. Ele atrapalhava as brincadeiras das crianças fazendo seus garotos ficarem com vergonha de seus amiguinhos. Era inconveniente até como pai.
Os pais do Valdemar afirmavam que ele sempre foi assim, chegaram a levá-lo a psicólogos, mas de nada adiantou. Na escola os professores não agüentavam suas brincadeiras.
Estava sempre de castigo e seus pais perderam a quantidade de vezes em que foram convocados pelas diretoras.
Quando Valdemar conheceu Maria Rita, que se tornaria sua esposa, todos acreditavam que ele mudaria. Realmente, por uns meses seu comportamento sofreu algumas alterações, mas no dia do seu casamento, Valdemar escondeu o vestido da mãe da noiva e fez questão de se atrasar, dando a todos a sensação de que havia desistido do casamento. Sua lua-de-mel foi desastrosa, fazendo a sua jovem esposa passar por situações constrangedoras no hotel em que ficaram hospedados. Vieram os filhos, e Valdemar continuava cada vez pior. Na praia, inventava se afogar, movimentando todos os guarda-vidas. No escritório, chegou a colocar fogo numa lixeira, fazendo com que o prédio fosse evacuado. Ninguém acreditava que ele pudesse mudar – era pipa-voada, maluco, irresponsável e inconseqüente. Não tinha noção dos seus atos. Para ele, fazer um amigo chorar, assustar uma pessoa idosa, irritar uma criança eram coisas banais.
Naquela manhã, Valdemar não apareceu para trabalhar. Em sua casa, Valdemar não havia aparecido, mas como era comum ele dormir fora e às vezes ligar dizendo que fora seqüestrado, ninguém ligou para o fato. A família de Valdemar tinha passado uma noite tranqüila e, pela manhã, estava à mesa do café numa paz como há muito não acontecia. Todos acreditando que Valdemar dormira na rua e àquela hora já estaria importunando seus colegas de trabalho. No escritório, seus colegas curtiam um dia feliz sem as terríveis brincadeiras do famigerado. Seu corpo foi encontrado no freezer do prédio onde funcionava sua empresa. Local em que ele havia se escondido, pensando no susto que daria no cozinheiro.
Do Livro DOIS EM CRISE – Editora All Print – 2010–Edison Borba

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

MENINO NÃO MATA

Menino empina pipa e roda pião. Coleciona figurinha e brinca de “bafo-bafo”. Joga bola e brinca de pique-esconde. Menino constrói carrinho de rolimã, vira cambalhota e sobe em árvores. Menino corre pelo campo, apostando corrida com o vento. Junta botões para fazer um time. Pula carniça e deita na grama olhando o céu passeia pelas estrelas. Com galhos de goiabeira, faz bodoque coloca elástico, e tem atiradeira para caçar pássaros imaginários. Desce pelo escorrega e balança em gangorra. Brinca no parque, onde o balanço faz o menino voar bem alto e chegar quase no céu. Guarda bolinhas de gude em saquinhos de pano e na hora do jogo, teca de longe empurrando a redondinha para dentro da búrica. ”Marraio, feridor sou rei” é grito de guerra antes de iniciar a partida, valendo tampinhas de refrigerante. Quanta coisa faz parte do mundo de um menino.
Ler gibi, e pensar que é um super-homem, correndo com um pano vermelho amarrado no pescoço ele é capaz de vencer todos os bandidos do mundo. Lutando espada com cabos de vassoura vira pirata pronto para salvar a mocinha.
Mundo de menino está sempre recheado de fantasia. Herói, rei ou cowboy num passe de mágica tudo se transforma. Um pedaço de corda, um galho de árvore e lá vai o Tarzan dominando a floresta, montando elefantes e nadando em rios de alegria.
Uma varinha, um cachorro, um pedaço de pau ou uma pedra fazem parte da coleção de meninos. No bolso de sua roupa, existe um mundo de objetos, que ele é capaz de recolher pelas suas andanças, porque menino é caminhante e colecionador.
Patinetes, patins e tombos. Joelhos ralados e iodo. Mãe soprando para passar a dor. Casquinha do machucado exibida como troféu. Pernas de meninos são para correr, pular, subir em muros, árvores e viver cheinha de cicatrizes. Menino é menino. Sua ocupação maior é inventar brincadeiras. Estudar também faz parte do seu mundo encantado. Livros coloridos de histórias e desenhar um montão de coisas são momentos de paz e tranqüilidade na sua rotina.

Arma de verdade. Balas de verdade. Tiros de verdade. Professora atingida e menino suicida. Sangue no uniforme, no chão, nos cadernos, na vida. Isso não é coisa de menino!
Morte. Infância perdida. Pavor. Escola fechada. Não faz parte do mundo dos meninos!
Menino não brinca com revolver. Menino responde a chamada. Copia do quadro a lição ensinada. Decora as datas estuda tabuada. Faz conta e faz de conta que é um príncipe.

Mas, menino assustado com medo dispara. Adeus brincadeiras. Adeus companheiros. Menino foi embora dormir nas nuvens, vagar no universo. Conquistou vida eterna. Adeus menino! Descanse na paz!
Menino não mata! Não se mata!
Edison Borba

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

MULHERES x VIOLÊNCIA

Onde está o corpo da estudante? Quem matou a modelo? Por que jogaram a menina pela janela? O que motivou o assassinato da advogada? Quem matou a juíza?
Perguntas feitas diariamente. Casos e mais casos se acumulam nas delegacias. Crimes de morte ou de violação da integridade física ou psicológica são cometidos todos os dias. Nas ruas, nas escolas, nas residências e nas praças.
Em qualquer horário ou local não existe mais lugar nem hora que sejam seguros. Caminhar numa manhã de sol é tão perigoso, quanto andar pela madrugada. Estar dentro de casa, com as portas fechadas já não é garantia de vida.
Meninas, senhoras e adolescentes basta ser mulher para ficar na mira de cafajestes, impossíveis de identificação imediata. Mascarados como profissionais respeitosos e bons cidadãos eles circulam pela sociedade, sem que nada os identifique.
Fazer consulta com médico de fama internacional é tão perigoso quanto estar sozinha num bar. Buscar abrigo num templo religioso, já não é garantia de preservação da idoneidade moral. Namorar advogado com escritório numa grande cidade pode ser uma armadilha perigosa. Acreditar nas juras de amor, receber flores, abrir pacotes pode representar grave risco, de terrorismo doméstico. Marcar encontros é assinar atestado de óbito. Contatos pela internet é veneno fatal. Nas grandes cidades ou nas pequenas vilas os perigos são semelhantes. Nas residências de luxo ou numa simples casa ou barracão pode haver um “machão” pronto a esmurrar, bater e violentar uma mulher.
Famosos ou não o violentador não tem um padrão social determinado. O que os iguala é a crueldade e o desamor pelo sexo oposto.
Diversos pesquisadores tentam nos ajudar a entender esses maníacos. Alguns classificados como psicopatas, matam e choram por suas vítimas junto com seus amigos e parentes. A Lei Maria da Penha, tão difundida e aplicada não tem sido suficiente para deter a ação desses desequilibrados. Talvez as nossas penas, tão amenas e brandas, sejam um convite para que esse tipo de manifestação seja cada vez mais freqüente. Matar, fugir do flagrante e depois se apresentar acompanhado de advogado é tão tranqüilo, como tomar refrigerante na beira da piscina. Temos conhecimento de bárbaros assassinatos, cujos malfeitores já estão livres e com a ficha completamente limpa. Voltaram a circular entre os cidadãos de bem a até gozam de prestígio social servindo como modelos a serem seguidos por outras mentes doentes.
Responder em liberdade, não ser obrigado a fornecer material genético para análise policial e ter residência fixa é o início de uma promissora carreira no crime, permite ao “cidadão” gozar de direitos humanos para a sua desumanidade.
Quem poderá mudar essa situação? Que legisladores possuem o poder de julgar tendo que seguir regras retrógradas que regem nossos tribunais.
Estamos vivendo um momento complexo, a violência contra a mulher aumenta na mesmo proporção que ELA aumenta seu prestígio social. O sexo feminino ocupa cada vez mais espaços que antes era apenas dominado por homens.
Será que essa situação está provocando uma reação de revanchismo? O medo de perder sua posição social, profissional e até sexual está levando alguns “machos” a exibirem atitudes enlouquecidas. Os que matam os que defendem e os que legislam comungam das mesmas idéias cada um com seu papel definido dentro da trama. Precisamos uma revolução para que haja mudanças sérias em nossas leis, tornando-as mais rígidas e sem possibilidades de “brechas” que beneficiem os assassinos.
É urgente fazer com que a Lei Maria da Penha, seja fortalecida e usada cada vez mais em benefício da segurança das nossas mulheres.
Edison Borba

"PENSANDO" EDUCAÇÃO

Em livros, revistas e jornais é possível encontrar frases e pensamentos sobre educação. Personagens famosos ou não e até anônimos escreveram interessantes observações sobre o tema. Esse material pode render boas reflexões.
Vejamos:
-“A educação é como um terno ou um vestido: tem de ser feita sob medida”.
Edouard Claperède – psicólogo / suíço.
-“O que a cultura é para um bloco de mármore, a educação é para o espírito”.
Joseph Addison – poeta / inglês.
-“Uma criança sem educação é uma criança perdida”.
John Kennedy – presidente / EUA.
-“Educai as crianças, para que não seja necessário punir os adultos”.
Pitágoras – filósofo / grego.
-“O verdadeiro professor não ensina, cria o ambiente para aprender. Do mesmo modo, o sábio não cria cultura: ela se forma naturalmente na sua presença”.
Vinoba Bhave – filósofo / indiano
-“Quem abre uma escola fecha uma prisão”
Victor Hugo – escritor / francês
-“A invasão cultural é a penetração que fazem os invasores no contexto cultural dos invadidos, impondo a estes sua visão de mundo enquanto lhes fream a criatividade”.
Paulo Freire – educador / brasileiro
-“É um milagre que a curiosidade sobreviva à educação formal”.
Albert Einstein – físico / alemão.
-“Frequentemente o único elogio que as crianças recebem vem de seus professores”.
Anônimo
-“Um professor abre as portas, mas é você quem deve adentrá-las”.
Provérgio chinês.
-“O trabalho de um educador é irrigar o deserto, não derrrubar a floresta”.
Anônimo.
-“É mais fácil construir um menino que consertar um homem”.
Anônimo.
-“Como é bom encontrar um ex-aluno vitorioso”.
Anônimo.
-“Se você pode ler isso, agradeça a um professor”.
Anônimo.

Pensamentos, frases e provérbios são excelentes materiais para começarmos aulas, palestras ou até mesmo uma conversa entre amigos. Eles não estão fechados em verdades inquestionáveis, e abrem espaço para boas discussões.

Edison Borba

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

DÚVIDAS

Quando eu era criança e alguma coisa ruim me acontecia, me aninhava no colo de minha mãe, que carinhosamente falava baixinho: -“vai passar!”
Hoje, não tenho mais esse aconchego, e fico perdido sem saber a quem recorrer para atenuar minhas dúvidas. No mesmo dia em que os “telejornais” noticiam que a nossa Presidente será a primeira mulher no mundo a proferir o discurso de abertura das Nações Unidas e que o Brasil torna-se um país respeitado economicamente por outras nações, que seremos a sede da copa do mundo de futebol e os jogos olímpicos também serão aqui realizados, acompanho informações sobre o atendimento em nossos hospitais.
Doentes espalhados pelos corredores agonizam sem que haja alguém para atenuar suas dores. Moscas invadem as salas de UTI de um hospital público, paciente percorre diversos hospitais, numa longa caminhada em busca de socorro. Prédios hospitalares em péssimas condições de funcionamento. No mesmo telejornal fico sabendo que médicos fazem greve contra os planos de saúde, alegando baixo reembolso e que os políticos votarão o retorno do CPMF, imposto que já foi cobrado e o que devia ter sido direcionado para a saúde, desapareceu, sumiu ninguém sabe onde foi parar.
No mesmo contexto, ouço:- “são necessários mais de 45 bilhões de reais para que o Brasil possa resolver seus problemas de saúde”. Não tendo mais o colo de minha mãe para me abrigar, entro em pânico.
Diariamente convivemos com erros médicos, que muitas vezes se justificam pela grande quantidade de pacientes que chegam aos hospitais. Profissionais cansados, saturados e mal pagos tentam sobreviver para não deixar morrer os que buscam sua ajuda. Fazendo jornadas longas entre consultórios e hospitais, trabalhando sem material necessário para prestarem atendimentos adequados esses profissionais tornam-se vítimas de um falido sistema de saúde.
Não quero parecer pessimista e nem ser apontado como aquele que “estraga a festa”, mas diante de tanta atrocidade, fica difícil agitar uma bandeirinha verde amarelo saudando o discurso da nossa Presidente. Sabemos da luta que essa mulher terá que enfrentar para limpar e arrumar a casa. Apenas na área da saúde, o lixo acumulado de anos é apenas um dos desafios para o seu mandato. Muitos dos seus colaboradores, acostumados a varrerem o lixo para baixo do tapete, não querem ajudar na higiene brasileira. Temem ser colocados na lixeira, junto com os demais dejetos.
Boa sorte Presidente! Boa sorte! Como dizia minha mãe: - “vai passar!”
Edison Borba

HISTÓRIAS DA VOVÓ

Essa é para quem gosta de usar antigos ditados em suas conversas. Uma história sem pé com cabeça, isto é, uma história de cabeça com pé. Cuidado! Quem avisa amigo é!
Boa leitura. Bom divertimento!
Como dizia minha saudosa avó: - Quem tem telhado de vidro está sempre bronzeado, e gasta muito dinheiro com protetor solar. Porque se não se cuidar, poderá problemas ter, e se isso acontecer, vai chorar e vai sofrer igual bala de goma na boca de desdentado.
Vovó também alertava para outra situação:- Quem cobre o sol com a peneira fica com o corpo pintado. Fica parecendo onça aquelas todas malhadas que a gente pensa que é tigre, pra ela ficar irritada. E como dizia a vovó, não cutuque uma onça com vara comprida e nem curta, se você não tiver sebo pra nas canelas passar, deixando o chão lambuzado para a onça escorregar, cair e se machucar. Mas se você ficar de bobo ela pode te pegar!
Vovó era uma sábia mulher. Ela sabia quase tudo! E sempre nos alertava:
Quem com ferro fere castigo vai receber, desafeto arranjar e também muito sofrer. O castigo andava a pé, depois aprendeu a montar. Cavalgar era o seu lema, quando tinha alguém para ele maltratar.
Hoje o castigo não chega para os que ainda usam ferro pensando em castigar. Ferro já não funciona quando queremos com alguém ferrar.
Vovó explica que pra ferrar com alguém, é preciso estudar, ter dinheiro e ser famoso, pois quem tem tais atributos, não arruma desafeto e nem deixa vestígios da ferroada que dá.
Outra história da vovó é aquela que nos diz, que em terra de desdentado, quem tem um dente é banguela. Porém, se fosse caolho e vivesse em terra de cego também seria zarolho e nunca seria um rei.
Essa minha vovó era mesmo muito esperta!
Ela sempre nos lembrava, que aqui na terra existiu um tal ciclope, que por ter um olho só, gastava pouco dinheiro com os oftalmologistas, que só podiam cobrar metade da sua consulta. Esse sim era esperto, enxergava muito bem, porém por ter só um olho juntava muito vintém. Acabou virando rico, mas também não foi pro o céu por causa daquela agulha, por onde devia passar. Coisa que só um camelo, mesmo com sua corcova conseguia atravessar. Hoje os ricos compram passagem bem arrojada, não precisam de agulhas, nem de levar agulhadas. Eles vendem seus camelos, compram passagens aéreas e viajam de beleza, sentados sobre almofadas.
Vovó também me explicou a vantagem do caolho, ele não enxerga pros lados mas, com a cabeça pra frente, tendo apenas um olho ele engana muita gente. O caolho e o ciclope são primos, mas não são parentes.
Vovó sempre me diz que parentes são os dentes, que ficam na boca da gente! Se mostram quando sorrimos, mas também podem morder. Se alguém fala da gente usamos pra defender. Vovó é muito sabida, e me ensinou esse truque. Fiquei esperto e malandro, e já mordi muita gente não pagando o que peguei, pois emprestado é meio dado. E se é dado, não pago!
Vovó chama atenção para quem cedo madruga. Esse não recebe ajuda e acaba muito cansado. Boceja a toda hora fica com sono e cochila. E sendo assim, o coitado, nem faz a cama e nem deita na fama. Ficando sem se ajeitar e, portanto se rejeitando. Fica igual a um cachorro que rejeita osso, e como diz o ditado deve ser castigado. Mas sofrer castigo e ficar muito acamado deverá comer um caldo de galinha, com cuidado! Vovó sempre afirma: - caldo de galinha mesmo tomado com cautela pode dar dor de barriga! Mas essa é daquelas que só dá uma vez só.
Minha avó conheceu um ferreiro, aquele que fazia churrasco com espeto que era de pau. Ele ficou rico, comprou churrasqueira toda cromada e agora o espeto é de metal. Esse era o sonho dele. Ele era um homem persistente. Vontade não lhe faltava, vivia sempre dizendo que água mole em pedra dura respinga pra todo lado.
E ao respingar molha a gente que pode pegar resfriado.
Vovó conheceu também o pai do tal ferreiro, que tinha espeto de pau e comprou um de metal. Eles eram tão semelhantes, que pareciam esculpidos. O filho era o pai encarnado, pois vivia sempre vermelho ou como diz corado! Nasceu tão parecido, que todo mundo afirmava que filho de peixe também é escamado. Tem escamas em todo corpo, parece coisa do mar, que quando bate nas pedras volta com força pra trás, fazendo marola inversa.
Vovó conta histórias muito longas, cheias de lenga-lenga feitas para boi cochilar. Pois hoje em dia, nem boi dorme no ponto, pois quem dorme no ponto é passageiro que perdeu o ônibus. Foi assim que vovó conheceu um cara que perdeu a condução, dormiu no ponto, e quando chegou em casa brigou muito com a mulher. A vizinha do casal se meteu na confusão, mas foi com um garfo na mão. Ela sabe muito bem, que em briga de marido com a mulher não se deve meter a colher. Com o garfo é melhor para podermos espetar, e como diz a vovó, a briga fica melhor!
Já está chegando à hora da vovó ir descansar. São muitas histórias boas. São tantas e todas sem nó. São desatadas, longas e compridas como perna de pavão ou será de gavião?
Aquele de bico torto que não é garça nem cegonha. E por falar em cegonha, vovó me contou uma história de moça de pouca vergonha. Uma desavergonhada, que foi numa pescaria em vez de ficar em casa. Nem peixe ela pescou, mas acabou mal falada.
É bom não contar nada seguir um velho ditado, ditado pela vovó: é melhor ficar calado do que gastar o solado correndo de um soldado que não permite histórias que podem criar confusão.
Vou parando. Vou calando, pedindo de coração, a vovó que abençoe este seu neto querido que tem medo de prisão!
Peço a vovó querida que abençoe os leitores, meus amigos meus amores, a quem agradeço de todo meu coração. Espero que tenham gostado se encantado e emocionado e não ficaram zangados com tanta história maluca! Até a próxima!
Edison Borba

terça-feira, 20 de setembro de 2011

"Iscola ... o crime"

Livro: “Iscola... o crime”, de Rose Araujo, é uma coletânea das tiras de quadrinhos criadas em 2006  e publicadas no jornal Graphiq (SP) desde 2007. -
Com humor desconcertante, a cartunista, que também é professora de artes, retrata o atual universo escolar cheio de problemas como violência, dificuldade de aprendizagem, bullying e desvalorização do profissional de educação - fatos tão distantes de nossa memória afetiva escolar.

Com algumas histórias literalmente vivenciadas em salas de aula por Rose Araujo e seus companheiros de profissão, o livro mostra essa turma de alunos, personagens anônimos da vida real, que têm suas identidades ocultadas e protegidas por tarjas pretas, capuzes e bonés.

Anônima também é a “sofressora”, ou melhor, professora, que não aparece nas tiras. Uma representação da invisibilidade e da impotência desses profissionais frente à realidade social do país, que muitos insistem em ocultar.

"Iscola...o crime": um registro crítico, um exercício de observação e, infelizmente, a vivência das salas de aula nos tempos atuais.

Rose Araujo
www.rosearaujo.com



 







segunda-feira, 19 de setembro de 2011

LIVRE?

                            Sou  livre/
                              Corro pelos campos/
                              Vôo como um pássaro/
                              Sou livre/
                              Sou correnteza de rio/
                              Sou nuvem que passa/
                             Não paro nunca/
                           Serpenteio pela vida/
                             Escorrego como águas da cachoeira/
                            Ninguém me possui/
                            Sou livre/
                             Amigo do vento/
                             Estou sempre correndo/
                             Nada me segura/
                             Não tenho casa/
                             Não tenho nada/
                             Moro por onde passo/
                             Sempre apressado/
                             Fico quando quero/
                          Com quem quero/
                          Não tenho raízes/
                          Sou livre!
                          Sou livre!
                          Sou livre?
                          Estou só!

                           Edison Borba

EDUCAÇÃO - NOTAS SOLTAS

Jornal O GLOBO, Rio de Janeiro,  18 de setembro de 2011 – domingo –página 33 – ECONOMIA. Matéria: Muito longe do pódio – “Ranking de qualificação de jovens para mercado global põe Brasil em 35º lugar, entre 60 países.
Lendo essa matéria, destaquei alguns trechos  e os transcrevi para essa página do BLOG. São notas soltas, que merecem nossa atenção. Os objetivos em destacar trechos da matéria, foram:
-aumentar o número de pessoas a terem acesso às considerações contidas na pesquisa;
-permitir reflexões sobre a educação brasileira, dias após a publicação do resultado das provas do ENEM.
Notas em destaque:
>...”num mercado de trabalho cada vez mais globalizado,os jovens brasileiros estão perdendo a corrida na disputa por uma vaga para estudantes de outros países por causa da qualidade precária do ensino fundamental e médio do país, inclusive nos colégios particulares”.
>...”um ensino fundamental fraco se transforma em um ensino médio pobre e um ensino superior sofrível. É como uma bola de neve. Se não existe uma formação boa na base, a pessoa precisa fazer um esforço muito grande para suprir aquelas deficiências nos ano seguintes”.
>...”no último ENEM, alunos das escolas particulares do Rio  tiraram nota média de 55,5 pontos numa escala até cem. Isso significa que aprenderam metade das habilidades que poderiam”.
>...”a nota em leitura dos estudantes dos melhores colégio particulares do Brasil – representados pelos 10% mais ricos – é inferior à de estudantes de renda média na Coréia do Sul, Hong Kong e Xangai”.
>...”vários fatores explicam a baixa qualidade do ensino particular: formação ruim dos professores, poucas horas de estudo, baixa cobrança de pais sobre os colégios, acomodação dos pedagogos das escolas e métodos pouco estimulantes de ensino”.
>...”os colégios brasileiros são um dos mais indisciplinados e barulhentos do mundo. Não cobram dever de casa e tem um déficit muito grande em tecnologia. O tempo de estudo fica em cinco horas, no mundo a média é de 6 horas”.  
>...”no Brasil as pessoas estudam muitas matérias ao mesmo tempo, com igual intensidade, e acabam aprendendo pouco sobre diferentes coisas, ou nada”.
               (fonte Bruno Villas Boas – bruno.villas@globo.com.br)
As  observações acima, não trazem grandes novidades para o universo dos educadores brasileiros, que lutam por um ensino de qualidade. A sua importância é ter vindo de diversas fontes, e estarem sendo divulgadas para que um grande público.
Acreditamos que as famílias precisam urgentemente fazer uma revisão de seus conceitos. Existe uma grande perda de energia para a escola, quando os seus profissionais, além de terem que ministrar conteúdos programáticos, precisam  atuar em simples questões de educação básica, a chamada educação doméstica.
O processo de ensino e aprendizagem só terá êxito quando houver uma ação séria e conjunta entre os legisladores educacionais, políticos, famílias, professores e demais cidadãos que acreditam na educação como o caminho para a melhoria das condições de vida de um povo.
Edison Borba

sábado, 17 de setembro de 2011

A VINGANÇA

Dizem que em matéria de vingança, as mulheres são muito melhores que os homens. Provavelmente seja algo inerente à própria natureza biológica. Capazes de voltar no tempo e lembrar  algo antigo, elas não deixam passar em branco aquilo que já está perdido no tempo. Essa é a história de Zezé e Célio. Ele nem lembrava mais daquela pequena traição, acontecida no carnaval de cinco anos passados e que o nome  da colombina com quem se divertira era Liane. Mas, sua mulher lembrava e, portanto, levou até o fim a sua vingança.
Célio era um homem trabalhador, apenas no carnaval era que ele gostava de aprontar. Sempre orgulhoso com seu uniforme de cobrador de ônibus. Sentia prazer em executar aquele trabalho. Todos os dias, pontualmente,  assumia seu lugar frente à roleta. Os passageiros gostavam de viajar com ele. Era delicado e estava sempre pronto para dar informações e ajudar a todos que embarcavam em “seu” veículo.
Em  casa, esperando-o toda noite, estava sua mulher, carinhosamente chamada por ele de Zezé. Linda morena de olhos castanhos e cabelos escuros. Seu sorriso encantador e apaixonante deixava o coração de Célio acelerado e seu corpo aquecido pela vontade de beber daquela paixão avassaladora que dominava seu coração.
Ovo frito com arroz, feijão com farinha, arroz com feijão, algumas vezes um pedaço de carne. Esse era o almoço que Célio levava em sua marmita.  Para ele era sempre um manjar feito pelas mãos da sua amada.
“O tempero dela! O tempero da Zezé!” Havia algo de mágico em tudo o que ela fazia.
Uma manhã chuvosa, Célio, ao sair para o trabalho,  encontrou a  marmita, como sempre arrumada e embrulhada num belo guardanapo. Estranhou não ver sua mulher acordada para desejar-lhe um bom dia. Ela continuava na cama, dormindo. O lençol cobria o seu corpo, que ele conhecia tão bem. Cada curva, cada detalhe  tão explorados por ele nas quentes noites de amor.
Aproximou-se da cama, roçou seus lábios no rosto dela, de forma bem suave e carinhosa, tentando não acordá-la.
Mesmo sob a forte chuva, ele saiu feliz cantarolando uma música que ele nunca soube a letra. Desceu a rua, dobrou a esquina e chegou até a garagem.
Cumprimentou os amigos, pegou sua caixinha com o troco para os passageiros e acomodou-se em sua cadeira para mais um dia de trabalho.
Após algumas viagens, seu companheiro, o motorista lembrou que já era hora do almoço. Voltaram para a garagem. A chuva havia cessado. Ônibus estacionado. Marmitas abertas. Sorrisos nos lábios e muita conversa.
Célio, como sempre, estendeu o branco guardanapo sobre a mesa. Posicionou os talheres, abriu a marmita e mergulhou na refeição que a sua Zezé havia preparado.
Hoje a comida tinha um gosto especial. O que será que a sua amada havia colocado naquele arroz com feijão e  peito de frango? “Delicioso! Hoje ela caprichou”.
Terminado a almoço, chegou a hora do cochilo. Todos se acomodaram.
Alguns sob as árvores do estacionamento. Outros em cima dos bancos ou deitados no chão.
Passados alguns minutos, era hora de voltar aos  veículos. Um a um, todos se levantaram, exceto Célio que continuava deitado. Seus colegas logo formaram uma roda e iniciaram uma brincadeira. “Acorda, vagabundo! Vamos para o trampo!”
“Levanta, preguiçoso! Chegou a hora de pegarmos no batente! Vamos, camarada!”
Célio permanecia imóvel. Quieto como uma pedra.
Ao chegarem mais perto, perceberam  um líquido verde escorrendo de seus lábios.
O laudo médico acusou envenenamento.
Zezé hoje está cumprindo pena no presídio feminino, onde é a responsável pelas refeições dos funcionários da penitenciária.
                         Do livro DOIS EM CRISE – Editora AllPrint – 2010 - Edison Borba

                         

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

EDUCAÇÃO MASCULINA?

Mulher  é  queimada  com ferro de passar roupa, após  companheiro marcar o seu corpo com a ponta de uma faca.
Cabeleireira é assassinada em frente às câmeras de vigilância.
Esposa é violentamente espancada por seu marido, que chegou bêbado em casa.
Todos os dias, os  jornais estampam notícias envolvendo agressões às mulheres. São  espancamentos, torturas psicológicas e físicas, humilhações, injúrias, ameaças e estupros. Tudo acontecendo dentro dos  lares e muitas vezes na presença dos filhos.
Mesmo amparadas pela Lei Maria da Penha, os casos se repetem de maneira assustadora. Ameaças de morte são cumpridas, após  a mulher ter procurado ajuda da polícia, registrado queixa, obtido medida protetora e tenha um boletim de ocorrência. Os agressores não se intimidam diante da polícia, e quando presos alegam amor e ciúme.
Mulheres voltam a ser agredidas, após perdoarem seus companheiros, outras escolhem o silêncio e vivem anos de sofrimento por não se sentirem seguras com a separação. Algumas não sabem o que fazer de suas vidas, longe do cruel marido.
Que motivo leva  alguns homens a exibirem um comportamento bárbaro  em pleno século XXI? Por que as leis não são respeitadas pelos agressores? O que leva um homem a desrespeitar sua mulher e filhos? O que mantém uma mulher junto a um homem que a maltrata? E a retirada da queixa, o que leva a tomada dessa atitude?
Seria a educação uma forma de controlar esses tipos de comportamento? Diante de tantos casos de agressões e até assassinato, criar um espaço especificamente para uma educação masculina poderia ser uma boa experiência? Mas o que seria uma educação masculina?
Talvez um aglomerado de informações sobre o que é ser homem. Aulas de anatomia, fisiologia, arte, culinária, costura, bordado, ética entre outros conteúdos. Os alunos aprenderiam a escrever poemas e cartas de amor. A cuidar de uma casa lavando, passando e cozinhando. Puericultura, primeiros socorros e paciência também  estariam  incluídos na programação. As aulas seriam  ministradas por uma mulher e um homem ( ao mesmo tempo) em turmas mistas  envolvendo toda a comunidade escolar. Cada uma delas, trabalharia com exemplos concretos  buscando nos conteúdos de cada disciplina uma relação com a questão. A Matemática analisando numericamente os fatos. Na História, buscar as origens deste comportamento. A Biologia traria uma contribuição pautada na genética. Os da Geografia analisariam se existem motivos ecológicos e em quais áreas, esses problemas  são mais observados. Neste caso, fazendo uma ponte com a Matemática.
Sociologia, Filosofia, Química, Artes, Educação Física e Línguas Portuguesa e Estrangeira, buscariam nas diversas  linguagens as origens, motivos e formas de controle da violência.
Aulas sobre o amor. Estabelecer diferenças entre amar e ficar. Sexo e amor ou amor com sexo ou sexo com amor. Analisar sentimentos, relacionamentos, formação familiar, saber ouvir, saber falar, saber questionar e reivindicar com tranqüilidade.
Não existe uma educação masculina, mas uma educação social, pautada na ética e no respeito, interdisciplinar, com todos  preocupados com a humanização das relações entre  adultos e crianças, jovens e idosos, ricos e pobres e entre mulheres e homens.

Edison Borba









quinta-feira, 15 de setembro de 2011

NA LOCADORA - 07

Filme: O EVANGELHO SEGUNDO SÃO MATEUS – Produção: Franco-Italiana
Ano: 1964 – Diretor: Pier Paolo Pasolini – Destaque: Enrique Irazoqui (Jesus) Margherita Caruso  e  Susanna Pasolini (Maria)

Considerado como obra-prima,  indicado ao Oscar, vencedor do Festival de Veneza e eleito pelo Vaticano como um excelente trabalho sobre religião, esse filme é um dos melhores, entre os muitos realizados sobre esse tema.
Usando o Evangelho de Mateus,  Pasolini nos apresenta Jesus como um líder, um homem de seu tempo que se enfurece e reivindica os direitos de seu povo. É severo e inflexível. Ele trabalha com atores amadores e pessoas comuns. Por esse motivo, é importante ficar atento para os rostos. O espectador deve estar atento para os silêncios e as expressões faciais.
A estrutura musical do filme apóia-se em Bach, Mozart, Prokofiev e Webern que valorizam os sermões inflamados de Jesus.
No Brasil, a exibição deste filme, nos anos sessenta causou um grande impacto. Um Cristo que diz “não venho trazer a paz, mas a espada” é, absolutamente revolucionário para a época.
Na locadora, o DVD vem com duas versões à colorizada e a versão original em preto e branco. Assista inicialmente a versão original. As cenas em preto e branco tornam-se mais densas. Depois veja as maravilhas que a tecnologia pode fazer ao restaurar essa grande obra do cinema universal.
Veja, analise e discuta com amigos. Filme polêmico, um comunista dirigindo uma obra religiosa, merece uma boa reflexão.                           
Edison Borba