sexta-feira, 2 de setembro de 2011

ILUSTRE PASSAGEIRO

-“Veja ilustre passageiro / O belo tipo faceiro /Que o Senhor tem ao seu lado / Mas, no entanto, acredite / Quase morreu de bronquite / Salvou-o o RUN CREOSOTADO!”
Esse era um dos muitos reclames que podiam ser encontrados nos bondes do Rio de Janeiro. Eram mensagens escritas, algumas  sob a forma de versinhos, multicoloridas que anunciavam produtos diversos como antisardina (contra espinhas) e o famoso regulador Xavier (o amigo da mulher). Bondes eram veículos ecologicamente recomendáveis. Não emitiam fumaça, andavam sobre trilhos e com velocidade moderada permitia bons cochilos, conversas animadas e namoros apaixonados. Dois personagens eram indispensáveis: o motorneiro – figura conhecida, capaz de dar nome a algumas linhas. Passageiros se referiam ao veículo, como sendo o bonde do “seu” Joaquim ou do “seu” José. Homens simpáticos; sempre dispostos, a atender bem os seus ilustres passageiros. O cobrador - pendurado no estribo o era um equilibrista. Numa das mãos, notas dobradas e dentro de uma sacola as moedas. Cobrava a passagem, fazia o troco, puxava a famosa cordinha – plim / plim – e registrava a cobrança da passagem, às vistas do ilustre passageiro. Ele cuidava para que senhoras, crianças e pessoas com dificuldades, pudessem embarcar e desembarcar, em segurança. Alguns bondes tinham reboque,  outro vagão acoplado ao primeiro. Preferidos por estudantes e namoradinhos. Os “taiobas” eram específicos para o transporte de bagagens. Mesmo sem haver bancos específicos e solicitações oficiais, era comum  homens, jovens e crianças ceder seus lugares. Um comportamento que fazia a diferença na educação do povo carioca. Assim eram os bondes, conhecidos por seus números e trajetos. Pilares, Engenho de Dentro, Praça XV, Praça Tiradentes, Lapa, Andaraí, Vila Isabel, Carioca, Penha, Irajá, Jardim Botânico entre tantas linhas que trafegavam por toda a cidade do Rio de Janeiro. Vestidas de azul e branco, as normalistas enfeitavam esses veículos, transformando-os num paraíso para os galantes alunos do Colégio Militar, sempre enfrentando os não menos garbosos meninos do Pedro II. Existe uma curiosidade, que poucos se lembram. Havia um bonde, ligando o Largo de Pilares, onde ainda existe a Igreja de São Benedito à Praça de Inhaúma, onde encontramos a Igreja de São Thiago. Esse não cobrava passagem. Circulava inteiramente grátis, para a felicidade dos moradores e estudantes. Não menos importante,  o  único que sobreviveu ao progresso, agoniza e pede socorro! Salvemos o bondinho de Santa Teresa e com ele um pouco da história da nossa cidade!
       “seu condutor / plim – plim / seu condutor / pare o bonde pra descer o meu amor”
Edison Borba

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