sexta-feira, 23 de setembro de 2011

MENINO NÃO MATA

Menino empina pipa e roda pião. Coleciona figurinha e brinca de “bafo-bafo”. Joga bola e brinca de pique-esconde. Menino constrói carrinho de rolimã, vira cambalhota e sobe em árvores. Menino corre pelo campo, apostando corrida com o vento. Junta botões para fazer um time. Pula carniça e deita na grama olhando o céu passeia pelas estrelas. Com galhos de goiabeira, faz bodoque coloca elástico, e tem atiradeira para caçar pássaros imaginários. Desce pelo escorrega e balança em gangorra. Brinca no parque, onde o balanço faz o menino voar bem alto e chegar quase no céu. Guarda bolinhas de gude em saquinhos de pano e na hora do jogo, teca de longe empurrando a redondinha para dentro da búrica. ”Marraio, feridor sou rei” é grito de guerra antes de iniciar a partida, valendo tampinhas de refrigerante. Quanta coisa faz parte do mundo de um menino.
Ler gibi, e pensar que é um super-homem, correndo com um pano vermelho amarrado no pescoço ele é capaz de vencer todos os bandidos do mundo. Lutando espada com cabos de vassoura vira pirata pronto para salvar a mocinha.
Mundo de menino está sempre recheado de fantasia. Herói, rei ou cowboy num passe de mágica tudo se transforma. Um pedaço de corda, um galho de árvore e lá vai o Tarzan dominando a floresta, montando elefantes e nadando em rios de alegria.
Uma varinha, um cachorro, um pedaço de pau ou uma pedra fazem parte da coleção de meninos. No bolso de sua roupa, existe um mundo de objetos, que ele é capaz de recolher pelas suas andanças, porque menino é caminhante e colecionador.
Patinetes, patins e tombos. Joelhos ralados e iodo. Mãe soprando para passar a dor. Casquinha do machucado exibida como troféu. Pernas de meninos são para correr, pular, subir em muros, árvores e viver cheinha de cicatrizes. Menino é menino. Sua ocupação maior é inventar brincadeiras. Estudar também faz parte do seu mundo encantado. Livros coloridos de histórias e desenhar um montão de coisas são momentos de paz e tranqüilidade na sua rotina.

Arma de verdade. Balas de verdade. Tiros de verdade. Professora atingida e menino suicida. Sangue no uniforme, no chão, nos cadernos, na vida. Isso não é coisa de menino!
Morte. Infância perdida. Pavor. Escola fechada. Não faz parte do mundo dos meninos!
Menino não brinca com revolver. Menino responde a chamada. Copia do quadro a lição ensinada. Decora as datas estuda tabuada. Faz conta e faz de conta que é um príncipe.

Mas, menino assustado com medo dispara. Adeus brincadeiras. Adeus companheiros. Menino foi embora dormir nas nuvens, vagar no universo. Conquistou vida eterna. Adeus menino! Descanse na paz!
Menino não mata! Não se mata!
Edison Borba

Um comentário:

  1. Ótimo texto,Professor!
    Também escrevo contos e crônicas para o site Recanto das Letras, quando possível,leia esse conto meu ó:

    http://www.recantodasletras.com.br/contos/3140303

    Ele tb fala de infância...
    Fui seu aluno no CEJK e queria saber sua opinião sobre meu texto!
    Grande abraço,e parabéns!

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