quinta-feira, 1 de setembro de 2011

A FESTA

O dia de seu aniversário de 40 anos estava se aproximando. Excitada com o acontecimento, não parava de pensar no vestido novo,   maquiagem e  penteado que usaria. Para ela, a aparência era o que mais importava. Isso,  a fazia sofrer, a angustiava tornando-a deprimida e triste. Seus longos cabelos permitiam ao cabeleireiro, inventar penteados extravagantes. Fazer mecha, puxar para o lado, prendê-los em coque ou deixá-los soltos, ao sabor dos ventos. Mas era difícil agradá-la. Havia sempre algo de errado, que a fazia reclamar. Era a mais complicada de todas as mulheres. Gostava de maquiagem em torno dos olhos e de batom vermelho. Sua pele clara contrastava com sua negra cabeleira. Aos 39 anos, solteira, filha única  de viúvo, oficial da Força Aérea,  era uma mulher tímida. Toda a sua vida passara em bases militares. Acostumou-se a mudar de uma cidade para outra com  freqüência. Isto a tornara uma pessoa solitária. Não tinha amigos. Após a morte de sua mãe, viveu sob os cuidados de babás, governantas e de seu pai. Era sensual e bonita. Olhos negros profundos e meditativos. Lábios grossos e sorriso infantil. Seu pai se encarregara de ministrar uma rigorosa  educação. Aos 5 anos, quando perdeu a mãe, passou a receber orientação religiosa pautada em preconceitos e tabus. Seu pai, não fumava, nem bebia. Colocava a honra acima de tudo. Sempre desconfiado do mundo, não recebia visitas. Aos 15 anos era uma garota magra, quase esquelética. Falava dois idiomas fluentemente, tocava piano além de possuir vasta cultura. Seus estudos foram sempre realizados em casa. As constantes viagens de seu pai impediram-na   freqüentar escolas regulares. Agora, perto de completar 40 anos, ainda se sentia embaraçada, principalmente quanto às questões afetivas. Fantasiava constantemente sobre beijos e afagos. Sonhava com homens fortes e bonitos, que um dia a levariam pelo mundo. Muitas vezes se debatia na cama, em pesadelos, onde fazia amor com homens e mulheres, numa orgia dionisíaca. Acordava assustada, suando e nervosa, sentindo-se a pior das pecadoras. Uma traidora da confiança de seu amado pai. Chorava, rezava e pedia perdão por tão grave falha. Vasculhando os guardados de família, se deparou com uma pequena caixa de madeira. Lá dentro, havia diversos objetos. Medalhas, cartas, postais entre mil quinquilharias. Entre tudo aquilo, uma foto: seu pai enlaçando uma mulher com um bebê no colo. No verso uma dedicatória de amor.  Haveria  alguma explicação para aquilo? Quem seria a mulher? Em que local teria sido feita a fotografia? A data indicava um ano que antecedia à morte de sua mãe. O menino, agora seria um homem, com idade semelhante à sua. Era evidente que havia alguma coisa errada. Nervosa e inquieta saiu furiosa pela porta da frente. Não voltou naquela noite nem nas subseqüentes. Seu pai ficara aturdido, era a primeira vez que ela saia sozinha, sem levar sequer seus documentos e nem dinheiro. Acostumado a ver pessoas tremerem diante de suas ordens, agora estava perplexo com a atitude da filha. Após dias sem notícias, viu sua casa ser invadida por  mendigos, pedintes e prostitutas. Liderados por ela, sua menina, cabelos soltos, boca vermelha e olhos arregalados. Eram seus convidados para a festa dos 40 anos. No meio de toda aquela turba, dançava comemorando sua liberdade. O militar se manteve a distância  daquela agitação. De longe observava a filha, reprimindo seus medos e emoções. Aos poucos foi percebendo a bela mulher  que ela se transformara. O Espetáculo tornou-se mais sensacional, quando demonstrando intimidade com os convidados, em meio ao maior excitamento, com os olhos cheios de lágrimas, aproximou-se da filha: - Você está linda! E começaram a dançar e a cantar. O dia chegou e com ele  o brilho do sol. A festa continuava emocionante. Todos  inebriados por altas doses de felicidade.   Pai e filha, valsando entre os convidados.
Edison Borba

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