sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

TELE-TORTURA


Mês: janeiro.
Dia: terça-feira.
Horário: 09:15h

Faço a ligação telefônica.
Do outro da linha, uma voz atende o meu chamado.
Obrigado senhor,  por estar usando os nossos serviços!
Meu nome é Confúcio e sou o seu atendente virtual. Ouça  o nosso menu e nos indique a sua necessidade.

Se você já é nosso cliente, digite dois.
Se você não é nosso cliente, digite três.
Se você já ligou e ainda não foi atendido, digite quatro.
Se você quer falar com um dos nossos atendentes, digite  oito.
Se você quer que eu repita novamente o menu, digite nove.

Você discou oito.

Estaremos passando a sua ligação para um dos nossos atendentes. Por favor, aguarde na linha, mas antes anote o número do nosso protocolo.
Vamos esperar que você tenha  papel e lápis para anotar o  que vamos passar:
“um-três-zero-dois-nove-nove-zero-zero-cinco-três-um-oito-cinco-dois”.
Obrigado por usar o nosso serviço. Aguarde que um dos nossos funcionários irá atendê-lo.

Horário: 10:05h

Ainda no telefone, ouvindo uma irritante musiquinha.

Horário: 10:19h – ainda esperando

Horário: 10:23h – bom dia. Meu nome é Florisbela. Em que posso ajudá-lo?

Após ouvir toda minha história, a Florisbela, fala.    
Por favor,  senhor, para que possamos ajudá-lo, informe-nos os seus dados!
Nome. Idade. CPF. RG. Endereço. Estado civil. Gosta de feijoada? Tem cachorro? Tem gato? É casado? Mora  sozinho? Qual a sua cor favorita?

Obrigado senhor, estamos verificando as suas informações.
Obrigado por esperar. Agora, por gentileza, poderia me relatar qual o motivo da sua ligação?

Repito pacientemente para a Florisbela, o motivo da minha chamada. Ainda com paciência solicito a presença de um técnico para consertar um determinado aparelho. A simpática atendente  informa, que irá passar a minha ligação para o setor competente. Porém, pede para eu anotar o número do protocolo:

“dois-zero-um-três-quatro-oito-nove-zero-zero-zero-zero-oito”.

Obrigado senhor por ter nos procurado. Estamos encaminhando a sua ligação para o setor solicitado. Obrigado por confiar nos nossos serviços.

Horário: 11:33h (iniciei a maratona às 09:45h)

A musiquinha enlouquecedora entre pelo meu ouvido e atinge o meu cérebro.

Bom dia senhor, aqui é Aristofânio, em que posso servi-lo?
Desfio todo o meu rosário de lamentações e após gastar minha voz, Aristofânio, com delicadeza, pede para eu responder algumas perguntas. Eu aceito, ainda com paciência.
Nome, endereço, idade, estado civil, estado de saúde, número do sapato, cor preferida, time de futebol, nome do pai, nome da mãe, nome da vizinha etc ...etc...etc...

Horário: 12 horas ( meio dia ). Estou com fome e começo a suar. Estou ficando nervoso.

Aristofânio, calmamente solicita que eu descreva o meu problema.
Nesse momento, comecei a contar para ele a minha vida particular. Minha mulher fugiu com o carteiro. Minha sogra ficou com o meu apartamento. Estou com um sério problema estomacal. Meu patrão está me perseguindo. Há um vazamento no meu banheiro. Meu salário já acabou e o mês ainda está no início. Além de tudo isso, meu computador deu pane e eu estou precisando de um técnico. Apenas um técnico. Só um. Apenas um. E choro copiosamente. Minhas lágrimas mancham o papel no qual estou anotando mais um número de um novo protocolo.

“Um-zero-dois-um-quatro ...........................................”

Aristofânio: “ -Senhor estamos providenciando o seu atendimento. Por favor, aguarde na linha. Estaremos providenciando um técnico. Por favor aguarde”.

São 12 horas e trinta minutos. Minha cabeça está quase estourando.

Agora são 13:00 horas.

Estou exaurido. A musiquinha continua a tocar no meu ouvido. Minha cabeça dói. O suor escorre pelo meu rosto. Estou à beira de um ataque de nervos.

A ligação caiu.

Vou começar tudo de novo!

Edison Borba

 

 

 

 

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