quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

PELAS RUAS DO MEU BAIRRO.

Após um dia de trabalho, chego ao meu apartamento cansado e empoeirado. Um banho, uma pequena refeição e sinto-me refeito. Espanto a preguiça e o cansaço. Saio para caminhar pelas ruas do meu bairro.
Eu que passei todo o dia, numa escola lendo, escrevendo, telefonando, atendendo alunos e colegas, ouvindo histórias, partilhando alegrias e tristezas, preciso sair para relaxar.
Estamos em pleno outono. As árvores deveriam estar com as folhas amareladas,  como vemos nos postais europeus. Mas, estou no Brasil, no Rio de Janeiro, e aqui aprendemos as estações do ano, conferindo no calendário e nas aulas de geografia. Mas isto não é importante! O que eu quero é caminhar e observar como o meu bairro é arborizado e tranqüilo. Um oásis nessa cidade tão linda e barulhenta.
Subo a  General Dionísio e dobro  Visconde de Caravelas protegido por uma infinidade de galhos das poderosas árvores que teimam em resistir à poluição. Imagino os pássaros em seus ninhos e tento não fazer barulho para não incomodá-los.
Entre  edifícios de apartamentos, antigas casas dão um toque especial àquelas ruas. Imagino os tempos sem prédios altos quando as casas abriam suas janelas e varandas diretamente para as ruas. Continuo meu passeio e uma mistura de vozes informa que estou na Capitão Salomão. São grupos alegres, reunidos em torno das mesas dos bares Aurora e Plebeu, que aproveitam a noite agradável para filosofarem embalados pelo chope gelado e alguns petiscos. Mesa de bar, como afirmou Gonzaguinha, é o mais democrático lugar do mundo. Em torno delas são resolvidos os mais incríveis problemas sociais. Mágoas são reveladas e dores de amores sanadas por caipirinhas. Os analistas deveriam abolir os sofás e colocarem em seus consultórios as mesas de bar. Acredito que as terapias iriam se tornar mais eficazes! Desculpem meus amigos terapeutas, mas  quem nunca chorou as mágoas  num boteco? O meu bairro é um verdadeiro canteiro de bares e restaurantes que se  alastram por muitas esquinas. Garçons circulam rápidos com suas lindas bandejas enfeitadas por tulipas, contendo um amarelo, espumante e brilhante líquido, nosso querido chope.
Continuo caminhando, sentindo a brisa suave que toca meu rosto. Sigo sem medo. Vagarosamente. Imaginando o que estará acontecendo em cada lar. Televisões ligadas, jantares, conversas, segredos, crianças, pessoas se amando. Quanto mistério!
Atravesso a Voluntários, e estou diante da Cobal! Durante o dia um grande canteiro de frutas e flores. Uma mistura de cheiros e cores. As orquídeas, as bananas, os lírios e as laranjas. Um incrível pomar ajardinado povoado por homens e mulheres que compram e vendem numa anarquia organizada que me embriaga. À noite, reina o silêncio.
Meu querido bairro, outrora povoado pelos grandes casarões, ainda guarda um pouco daquele tempo. Existe nele  fidalguia e elegância deixadas por  homens de cartola e mulheres perfumadas que farfalharam suas saias pelas antigas e arborizadas ruas do Humaitá.
                         Edison Borba

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