sexta-feira, 5 de novembro de 2010

ANALFABETOS

“- Quando eu vejo um livro, só vejo letras. Sinto vontade de saber o que está ali. Mas quem é que vai ditar para mim? O que eu posso fazer?” Declaração da senhora R. C. R. – mulher analfabeta.
R é uma brasileira  entre tantos  que só reconhecem as letras, mas não conseguem saber o significado quando elas se juntam. As palavras, as frases, os textos, as notícias – nada pode ser reconhecido. Apenas as letras, sozinhas, isoladas e sem significado.
O que não consegue ler. Não consegue entender. Não consegue ser. Pessoas assim não existem. Não são mensuradas. Não são politicamente corretas. São ignoradas! São analfabetos!
Fico imaginando alguém olhando um jornal ou um livro, e não conseguindo desvendar o código ali contido. Por mais que eu tente, não posso perceber, como deve ser o  mundo do analfabeto. Aprendi a ler aos seis anos de idade. Meu universo é recheado de termos, textos, frases, poemas e milhares de imagens formadas a cada nova palavra decifrada. Creio que os “iletrados” fazem parte de outro planeta. Eles habitam outro mundo – o dos esquecidos!
Viver no mundo dos livros, revistas, computadores, anúncios, letreiros o mundo das palavras e não saber o seu significado. Viver no mundo das letras e não conseguir decifrá-las. Depender de alguém para reconhecer os códigos contidos em documentos é absolutamente impensável para nós que dominamos esse universo.
Ler é desvendar, interpretar e analisar de forma pessoal os mistérios codificados nas vinte e seis letrinhas que formam o nosso abecedário.
Analfabeto é refém! É dependente!
Suas ações serão tomadas conforme o que ouviu de alguém, que ao ler, coloca sua entonação pessoal, que  transforma o conteúdo da mensagem.
Após todas essas considerações, fico pensando: a quem interessa a existência de tantos analfabetos?  A que propósitos eles são úteis?
Esse grupo não é citado em nenhuma campanha. Não é lembrado em seminários. Não é analisado por pesquisadores. Eles vivem no limbo. No esquecimento. Vivem mergulhados no escuro universo da cegueira das letras! Eles vivem ao nosso lado e não os reconhecemos!
                                     Edison Borba


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