sexta-feira, 5 de novembro de 2010

HISTÓRIA DE PESCADOR

WEIMAR
Nasceu numa pequena cabana de pescador. Seu pai vivia do mar e no mar. Pela manhã, com o vento soprando ruma ao desconhecido, o pescador Tonho se deixava levar pelas ondas, feliz como passarinho que sai da gaiola deixando na beira da praia sua mulher e a filharada. Weimar, o caçula, aprendeu com o pai e os irmãos a jogar a rede, a puxar arrastão, a identificar vento de chuva ou brisa que acalenta.  
Amava o mar e tudo que nele habitava. Conhecia os segredos das ondas e das marés.
Quando não estava pescando, junto com seus companheiros, ficava  sentado na beira da praia, com os olhos perdidos na imensidão oceânica.
Homem bonito. Pele bronzeada e lindos olhos azuis.  Sabia como ninguém manusear uma rede, que nunca voltava vazia. Na vila, os pescadores afirmavam que ele tinha o poder de atrair os peixes. Iemanjá provavelmente havia se enamorado de tão belo homem, satisfazendo todos os seus desejos. Mas esse enamoramento tinha um preço: Weimar era um  solitário.
Seus irmãos casaram, formaram família e, continuando a tradição dos pescadores, saiam para pescar deixando suas mulheres acenando e rezando para que  voltassem, trazendo as redes repletas de peixes.
Apenas Weimar partia só.
Quanto mais o tempo passava, mais Weimar ficava diferente. Suas pescarias se tornavam mais longas, havendo ocasiões que ele ficava dias sozinho naquele infinito oceano. Sua mãe já não tinha mais lágrimas. Já havia chorado mares de prantos. Seu menino estava cada vez mais longe.
Na vila, homens e mulheres percebiam as mudanças no companheiro. Algo estranho estava acontecendo. Quando mergulhava, Weimar era capaz de ficar muito tempo sob as águas.
E, ao emergir, o fazia com uma força inigualável.  
Suas pescarias se tornaram mais longas. Quando adentrava ao mar, ninguém sabia quando voltaria. Suas redes já não traziam tanto pescado, às vezes voltavam vazias.
É história, passada de boca em boca, que numa noite de lua cheia, uma bela mulher saiu do mar e levou consigo o belo pescador.
Caminhou com ele pela areia da praia por um longo tempo. A lua cheia prateava o imenso oceano formando uma linda estrada pela qual os dois seguiram de mãos dadas. Há quem afirme que era Iemanjá que veio buscar o seu amor. Weimar nunca mais foi visto, sua cabana ficou abandonada e seu barco ancorado no porto. Em noites de lua cheia, quando a brisa sopra do mar para a praia, é possível ouvir os dois sussurando juras de amor.                                                          Edison Borba
DO LIVRO - DOIS EM CRISE - página 99

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