sábado, 16 de fevereiro de 2013

COISAS DE VÓ

          Tive o prazer de conviver na minha infância, com duas adoráveis avós. Um delas mineira, bem tradicional. Mulher de boa mão na cozinha, era capaz de transformar  feijão com torresmo num manjar dos deuses.
A outra, portuguesa, nascida no bairro do Alfama, em Lisboa. Mulher que apesar de ter ficado viúva ainda jovem, manteve o luto até o final de seus dias. Também uma excelente cozinheira, ninguém fazia um caldo verde como o dela.
Cresci entre as histórias das Minas Gerais e os “causos” portugueses. Provavelmente por ser o neto mais jovem de uma grande família, eu tenha sido mais envolvido pelo carinho dessas duas incríveis mulheres.
Ambas ultrapassaram a faixa dos noventa anos. Faleceram de forma tão natural, que acredito  foram levadas por anjos.
Não adoeceram não se tornaram dependentes. Ambas viajaram para o plano superior, em suas casas, uma às vésperas do natal, trabalhando nos pratos para a ceia. A outra, numa ensolarada tarde de sábado, após ter servido o almoço para os netos.
Incríveis viajantes, se  foram sem atropelos, confusões ou doenças. Tudo aconteceu com calma e tranquilidade.
Essas duas mulheres muito influenciaram minha vida com suas histórias. Até hoje, lembro-me das observações. Tenho que confessar a maior parte delas, vieram por vias mineiras.
Vamos lembrar algumas:
- Colocar guarda – chuva deitado sobre a mesa, chama defunto em casa.
- Deixar sapatos virados com a sola para cima, traz más influências para a família.
- Derramar sal sobre a mesa ou no chão provoca briga no lar.
- Dormir com uma tesoura aberta em baixo do colchão corta dores no corpo.
-Assobiar à meia noite chama alma penada.
-Trocar as tampas das panelas faz a dona de casa ficar atordoada.
-Dizer palavras ruins atormenta nosso anjo-da-guarda.
-Deixar que um passarinho leve seu cabelo para o ninho causa dor de cabeça.
-Benzer a panela antes de colocar o alimento para cozinhar aumenta a quantidade e a comida fica mais saborosa.
-Se for a um enterro, toda a roupa usada deve ser colocada para lavar e os sapatos usados devem ser tirados do pé antes de entrar em casa.
-Passar em baixo de escada dá azar.
-Sentar à mesa sem camisa, para almoçar ou jantar,  afasta o anjo-da-guarda.
Acredito que essas e muitas outras crenças e crendices, eram usadas no processo educativo familiar. Era uma forma sutil de passar regras relacionadas à ética e aos bons costumes incluindo higiene.
Algumas ainda fazem parte do meu cotidiano uso-as de maneira tranquila, misturando-as com toda a tecnologia que existe no um mundo.
Apesar de acessar computador, celulares e outras maquininhas, não custa nada fazer o sinal da cruz, todos os dias ao levantar da cama para enfrentar um novo dia.
Edison Borba

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