sábado, 16 de maio de 2015

BELEZAS NEGRAS

Desde o meu nascimento, sempre esteve ao meu lado, cuidando da minha sobrevivência, junto com minha mãe, uma mulher negra conhecida como Dona Maria, a rezadeira. Um misto de parteira e enfermeira, cujos unguentos, rezas e chás ajudaram muitas crianças da localidade onde nasci, a crescerem saudáveis.

Dona Maria, mãe de Georgina e avó de Iolanda; foi uma das pessoas mais lindas que conheci em toda a minha vida. Ela certamente brilha no céu junto com outras estrelas as quais aprendi a a amar. Mulheres talentosas quebraram tabus, destruíram paradigmas, lutaram contra preconceitos. Gerações de guerreiras, libertas pela força de vontade de serem fortes para derrubar muralhas que não foram destruídas pela Lei Áurea.

Nesse universo feminino reina Zezé mota, eterna Chica da Silva, cantora e atriz de beleza única. No cinema, no teatro e até nos palanques, é presença da força da mulher brasileira.

Clementina de Jesus com sua rouca voz, seus jongos e maracatus, encantou a Europa. Quando ouço Clementina cantar, lembro-me dos cantares de dona Maria, de suas rezas e louvores.

Outras brilharam e ainda brilham, no estrelado céu brasileiro. No teatro e na música, como cantoras e compositoras temos: Léa Garcia, Alaíde Costa, Ruth de Souza, Leci Brandão, Dona Ivone Lara, Jovelina Pérola Negra e Chica Xavier.

Luislinda Dias de Valois Santos, primeira negra a ocupar o cargo de juíza, no Brasil. Reconhecida por lutar pelas causas contra o preconceito racial, atua como magistrada do Tribunal de Justiça da Bahia.

Aplausos para Mercedes Baptista, que durante anos fez parte do corpo de baile do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, porém poucas vezes foi escalada para atuar, por ser negra. Apesar da discriminação sofrida, ela criou espaços e estratégias para lutar contra o racismo no Brasil.

Essas e muitas outras mulheres negras brasileiras são exemplos de luta para sobreviver; tiveram e ainda têm que redobrar suas habilidades para não sucumbir ao preconceito social e racial.

Monike Cristina de Souza, brasileira de Piracicaba, bailarina negra, representa a juventude talentosa que contribui para derrubar barreiras. Aluna da Companhia Jovem da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, em Joinville (SC ), foi convidada a protagonizar a montagem do espetáculo, Cisne Negro, na Rússia, quebrando mais um paradigma em relação à participação de artistas negras na arte da dança clássica.

Dona Maria, a rezadeira, faz parte das minhas memórias juntamente com outras incríveis belezas negras.

Edison Borba

Nenhum comentário:

Postar um comentário