segunda-feira, 23 de setembro de 2013

novamente - (ARRASTÃO EM IPANEMA) novamente

Rio de Janeiro, 20 de setembro de 2015.
Novamente - novamente num domingo (ainda no inverno), dia 20 de setembro, arrastões (desta vez no plural) voltaram a assustar a população da Cidade Maravilhosa.
Gente chorando, gritando, correndo. Policiais atônitos, perdidos no meio da confusão. E a cidade sendo coberta por um manto da vergonha diante dos olhos do mundo.
Enquanto os problemas sociais não forem tratados como prioridade, os arrastões continuarão a acontecer, e cada vez mais violento. Desta vez, o que se viu no Rio de Janeiro, foram arrastões acontecendo fora da orla, longe das praias.
Com a chegada oficial do verão, é possível que voltemos a escrever sobre este tema, que eu particularmente, escrevi sobre ele em 2011, portanto os anos se passaram e o problema só se agravou.




Rio de Janeiro, 23 de setembro de 2013, os telejornais da manhã, noticiaram:
“Menores foram apreendidos após realizarem um arrastão na Praia de Ipanema, no Rio de Janeiro. O grupo atacou banhistas e roubou carteiras e outros objetos pessoais. Como as vítimas, entre elas turistas estrangeiros, não foram até a delegacia, os menores foram liberados”.
Em julho de 2011, escrevi a crônica, DOMINGO, publicada no livro “Complexo de Viúva”. Leiam e tirem as suas próprias conclusões, após dois anos.                                                  
                        DOMINGO – julho de 2011 (Rio de Janeiro)

 

“Sol brilhando, brisa suave, mar azul, água morna e céu de brigadeiro.

É domingo! Um lindo dia de verão.

Carioca não gosta de dias nublados, reza para não cho­ver e ama fins de semana na praia. Depois do trabalho, o lu­gar mais democrático do mundo é a areia. Olhar as ondas num vai-e-vem ritmado é terapia que relaxa, inebria e acal­ma ajudando a manter o equilíbrio, restabelecendo as forças para continuar na lida.

Na imensidão do areal não há distinção de raça, cor, religião, profissão ou qualquer outra condição capaz de se transformar em preconceito.

Alguns vieram de carro, outros de bicicleta, ônibus ou metrô. Na areia se misturam sob as coloridas barracas. Corpos magros, gordos, barrigas de tanquinho ou de chopinho, celulites e silicones democraticamente buscam o melhor bronzeado.

Ambulantes alardeiam seus produtos: pastéis, biscoitos e mate gelado. Crianças correm, atletas praticam frescobol e os mais afoitos se exibem em mergulhos olímpicos. Castelos de areia são construídos por mãos infantis.

Porém, neste plácido domingo carioca uma onda se formou. Não uma onda marítima, daquelas que os banhistas esperam para mergulhar. Sem que ninguém soubesse como ou por que, ela avançou sobre tudo e todos, num sentido contrário ao balanço do mar, levando o sol, o domingo, os risos, os sorvetes, os castelos e, principalmente, a felicidade.

Uma onda social, humana, gigantesca que destruiu a doce ilusão de um domingo de verão.

O arrastão levou sonhos, causou dor, feriu a cidadania.

O arrastão de longos anos de vida que, arrastada pela miséria, conduz ao crime o cidadão faminto.

O arrastão daqueles que veem o tempo passar, se arrastando em horas de espera. Espera sem tempo, sem alento, dos que não têm porque esperar e ainda teimam em viver, em filas de espera na vida sofrida dos que nada têm a perder.

O arrastão do medo, da fome e da insegurança, do hábito de viver mal, o mau viver num domingo de sol.

O arrastão que atraiu a multidão vadia até a praia, formou, uma onda que não molhou o corpo, mas os olhos dos que sofreram a perda da paz”.

 Livro “COMPLEXO DE VIÚVA E OUTRAS CRÔNICAS”

Editora All Print / SP – 2012 – Edison Borba



 

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