(por) Edison Borba
Avó
vestida de preto, rosário nas mãos a rezar. A casa silenciosa, com os santos
cobertos por pedaços de pano roxo. Minha mãe na cozinha, preparando a refeição.
Silenciosa! Crianças caladas, sem as brincadeiras normais, tudo em honra e
respeito à Jesus, o Cristo! Diante mesa do almoço, toda família reunida com meu
pai à cabeceira, minha avó ao seu lado e minha mãe, cabelos presos por uma fita
escura ocupava a outra extremidade da mesa, que era forrada com toalha
branquinha. Tudo acontecendo silenciosamente, em respeito à gloriosa Paixão de
Jesus Cristo. À tarde todos caminhávamos para a igreja! Nenhuma palavra era
dita. Crianças caminhavam à frente, sem risadas nem correrias, todos em
comunhão e respeito à sexta-feira da Paixão! Na igreja o pranto das senhoras, quebrava
o silêncio da multidão que adorava e velava o corpo de Cristo, coberto por
branco véu. As chagas nos causava emoção e tristeza. Lembro que meu coração de
criança ficava imaginando quanta judiação Jesus sofreu. Eu não conseguia
entender os motivos de tanta maldade. Meus pais explicavam que ELE morreu para
nos salvar e essa informação me deixava mais confuso. Uma grande imagem de
Nossa Senhora das Dores, com um punhal cravado no peito, me fazia imaginar a
sua grande dor. Essa era outra situação que me deixava pensativo sobre a dor
que ela estava sentindo. Minha mãe explicava, que aquela mulher, era a mãe de
Jesus e o punhal significava a dor pela morte do seu FILHO que havia sido
pregado numa cruz. Mais uma curiosidade! Como era ser colocado numa cruz. Depois
de visitar o corpo de Jesus Cristo na igreja do bairro, voltávamos para casa onde
havia mais orações e, às 18 horas, era servido café com leite, pão e biscoitos,
sempre guardando o silêncio. Tudo isso em respeito à sexta-feira da Paixão! A
criançada ia dormir, querendo que o novo dia logo amanhecesse, com o sol
anunciando o sábado de Aleluia! Assim acontecia a sexta-feira da paixão, em
minha casa lá no subúrbio de Inhaúma.
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