terça-feira, 6 de maio de 2014

GRACIAS A LA VIDA de Mercedes Sosa

        Coisa do destino ou apenas coincidência,  tive o prazer de estar nos espaços, onde Mercedes Sosa se apresentou aqui no Rio de Janeiro, Teatro João Caetano, Maracanãzinho e até no Canecão. Cantora proibida pelos governos ditatoriais da América do Sul que  transformaram Mercedes num símbolo na luta pelos direitos humanos.
Considerada como a “Voz da América do Sul”, Mercedes Sosa cantava a liberdade do homem trabalhador, sua voz traduzia a consciência dos povos, que naquela época histórica, sobrevivia a governos de ferro, como nós brasileiros. De cantar forte, mas com voz suave e segura, exprimia em suas interpretações a dor e a coragem dos oprimidos.
Encontrou, aqui no Brasil, parceiros como Wagner, Chico Buarque e Milton Nascimento, que a ela, juntaram suas vozes e letras musicais a favor da liberdade política.
Obrigada a viver fora de sua terra natal, Argentina,  Mercedes em muitas ocasiões, conseguia levar seu canto atravessando barreiras e apresentando-se em lugares como Colômbia, Chile e Brasil. Enfrentando riscos, ela lotava auditórios  juntava vozes cantando “Gracias a la Vida” e “Cancion com Todos” e sensibilizava os brasileiros quando interpretava “Maria Maria”,”Volver a Los 17” e “Coração de Estudante”.
Quando esteve em Lugano, na Suiça, Mercedes respondeu algumas perguntas que vale a pena revermos, o que ela deixou, além de suas músicas.
“Sou uma cantora popular. Uma mulher que quer mostrar com o canto aquilo que poetas e músicos do continente sulamericano sonham. Sou uma cantora que tem muitas dificuldades para refletir o seu continente. Ainda não tive a oportunidade de conhecer todos os meus irmãos sulamericanos e seus distintos ritmos e culturas. Infelizmente não tenho tido a permissão para visitá-los. Faz pouco tempo que estive na Colômbia. Conheci Costa Rica e São Domingos  em breve visitarei o Brasil. Espero estar a altura de ser considerada a voz do continente latino americano. Considero-me simples, mas não sou humilde. Quando canto dou o melhor de mim. Quando um artista fica frente ao seu público canta solta a voz, muitas vezes com medo, e timidez que todos nós humanos carregamos, acho que não dá para ser humilde sendo um artista um cantor”.
            “Também não acho que sou eleita pelos deuses. O artista popular deve diariamente, cotidianamente ser responsável pelo título de cantor popular. Deve perceber que não basta cantar e ter uma bela voz, ele tem que ter algo a dizer, tem que estudar se aprofundar na literatura ou na sua própria vida. O artista tem que representar o seu povo, mesmo estando muitas vezes numa posição privilegiada, ele não pode esquecer que há pessoas em dificuldades”.
            “Vivemos um momento em que é muito difícil defender a canção popular, não me refiro ao coração do meu povo sulamericano, e os brasileiros sabem  muito bem do que falo. Também sabem os chilenos e os meus conterrâneos e uruguaios. É difícil defender a canção popular, porque ela é solidária ao problema dos homens, mas também é de amor profundo. Nego-me a rotulá-la como “canção de protesto”. Ela é a canção que fala do povo. Ela representa a minha gente e não pode ser subjugada. Todos os poetas, artistas e cantores do mundo sabem a dor de ser proibido e censurado”.
            Esta foi Mercedes Sosa, nascida em Tucumán, Argentina. Mulher simples, morena índia, iluminava os palcos, enchia auditórias e emocionava corações quando cantava o amor e a liberdade a que todo povo tem direito.
Edison Borba

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