sexta-feira, 9 de maio de 2014

MÁSCARAS

           Hoje fiquei admirando minhas fotos num antigo álbum de fotografias. Eu fui, eu era,  eu pequeno, eu no colo de minha mãe, eu de uniforme, eu sem barba, eu de cabelos negros, eu magro, eu sorridente, eu pensativo eu ... eu... eu...  
Tudo que está no álbum sou eu.
Eu fui,  eu sou, eu serei são questões que me deixam reflexivo.
Apesar das mudanças físicas, eu continuo o mesmo. Na essência, na genética, no genoma, nas raízes existe um ser humano preconcebido, que foi se revelando vagarosamente, ano após ano e continuará a ser desvendado enquanto estiver vivo.
O menino que eu fui empinando pipa no quintal, ainda está presente na minha essência. Ele serviu de base para o jovem sonhador e para o homem lutador. O que sou hoje é uma mistura dos experimentos que vivi e que foram moldando-me numa criatura cuja existência só acontece  na instabilidade do ser.
Teclando Posters por Alfred GockelSou hoje, o que não fui ontem e não serei amanhã. Os espelhos mostram-me as diferentes faces de um único ser. Já aprendi e desaprendi. Já me vesti e me desnudei. Já nasci e renasci.  Muitas vezes fui o que não sou. E ainda renascerei outras tantas vezes. Já fui bom e já fui mau. Engordei emagreci. Já desaprovei o que fui. E não fui o que um dia sonhei.
Em segundos deixo de ser o que era.  Em vinte quatro horas sou  vários.  Sem que eu perceba já não sou o mesmo.
Apavoro-me por ter rejeitado um irmão, apenas por ele ser aquilo que eu ainda não tinha sido e que acabei sendo. Como ter preconceito, sendo mutável?
Ignorantes e tolos são aqueles que rejeitam sem saber que amanhã não serão os mesmos de hoje e que poderão ser aquilo que apedrejaram.
 Sou incógnita não revelada, sou problema numa resolvido. Sou teorema sem explicação. Sou dízima, sou decimal. Sou infinito!
Mudanças fazem com que eu seja diferente a cada segundo, num processo de desconstrução e reconstrução tão dinâmico, que quando percebo o que sou eu já era e estou em processo de diferenciação, para ser novamente  outro.
As únicas pessoas que podem falar de mim e talvez traçarem uma linha de minha vida, são meus amigos. Aqueles que viveram comigo, os que convivem comigo, os que me viram sob as diversas máscaras, que usei e ainda uso.
Importante: as máscaras são verdadeiras! Não são feitas de papelão ou de qualquer outro material, elas são meu rosto nas mais variadas e variáveis ocasiões.
O tempo, em sua dinâmica incansável, é o pai de todos os meus “seres”. Eu sempre fui, sou e vou ser alguém cuja identidade é diretamente proporcional às exigências dos ambientes, dos meios e das sociedades em que e com quem convivo.
Estou diante das fotos, espalhadas pelo chão do quarto e vejo-me refletido em espelhos, que exibem minhas diversas identidades.
Eu, neste momento, penso  no que estou conseguindo ser agora. O que, serei amanhã; não quero saber, eu apenas quero continuar a ser.
Edison Borba

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