domingo, 28 de junho de 2015

PÓ! APENAS PÓ!

Diante de uma cerimônia de incineração, fico a pensar naquele pó, colocado numa pequena urna. Pó, apenas pó. O que antes era vida, agora é apenas pó. O que tinha a palavra, a força e as emoções, em poucos minutos se reduz a algo que o vento pode levar. Corpo, matéria, órgãos, ossos nada mais que pó.
O que o mundo espera de nós? Por que as noites e os dias? Por que viver?
São tantas as questões reduzidas a cinzas. O que é feito da nossa inteligência, da nossa astúcia e nossas paixões? E os sonhos, projetos e desejos?
Questiono se os nossos sentimentos também se transformam em pó? Meus amores, minhas dores e tudo o que se passou além de meu corpo também se queimou? Será que ao ser incinerado, também desapareço do coração de quem amei?
Onde ficará o meu azul, o verde que tanto gosto. O que será feito do lilás que me enternece ao olhar as violetas. E o vermelho das rosas, que enfeitam o meu jardim, também se transformará em cinzas? Ah! Esse azul! O meu azul! Para onde vais?
As músicas, que embalam minha vida por tanto tempo. O piano, o violão, a guitarra e tantos outros sons que me ajudam em momentos difíceis. Para onde irão?
Dou graças à vida, pelos amores que tive pelos que não pude ter, apesar de querê-los tanto! Agradeço tudo que posso ter e até por aquilo que fica apenas nos desejos.
Isso tudo vai virar cinzas, “que o vento vai levar pelo ar”...
E meus poemas? Quem irá entendê-los? Meus diversos versos,  rimados ou não, serão esquecidos? As lembranças dos meus dias e  noites algumas alegres, outras   tristes. Minhas esperas e  esperanças, nada mais existirá? Tudo será colocado numa pequena caixa; que ao ser aberta, o vento levará.  Até uma pequena brisa poderá me desintegrar.
Onde ficarão as pequenas coisas que aprendi a amar. O perfume que gosto de sentir. A brisa fria do amanhecer no inverno. Pequenas coisas que me ajudam a existir. Minhas queridas pequenas e simples coisas que fazem parte de mim.
Estarei partindo sem regresso. Sem tempo. Sem volta. Como a simplicidade de um sorriso que se apaga dos lábios. Num piscar de olhos.
Minhas tantas lágrimas. Muitas de tristeza, outras de felicidade. Também chorei a saudade, o desamor e as chegadas emocionantes e partidas dilacerantes. Tudo isso ficará contido numa pequena caixinha. Não sabia que eu era tão pequeno. Tão simples e tão comum. Tantas vezes me senti um gigante e tantas vezes fui cigarra cantante anunciando o verão. Outras vezes fui formiga, juntando migalhas.
Sobrevivi a muitos males. Superei  dores do coração e a perda de amigos e de amores queridos. Alguns tão efêmeros, que só existiram nos meus pensamentos.
Tudo será  pó! Cinzas! Nada mais que isso!
Imagino se já não era pó, e que apenas por circunstâncias inexplicáveis, os pequeninos grânulos formavam um corpo. Funcionava, pensava e sonhava que era algo mais do que pó. Tudo não passava de um sonho!
Agora sei que o que sou: pó, apenas pó!
Edison Borba

Um comentário:

  1. Diz o dito popular és pó e a ele regressará...., tanto faz virar pó ou não pessoas iguais à você estarão sempre em nossas lembranças, rindo ou chorando será eternamente lembrado. Veja que durante anos a fio passou por inúmeros alunos e até os dias atuais não o esquecem, sinal de que soubeste plantar..., pois quem planta também colhe e você será a semente que deu inúmeros frutos por esta vida ou em outra dimensão. Parabéns - Mestre!!! - LUIZ MAYNART CORRÊA.

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