segunda-feira, 21 de agosto de 2017

A ( falta) de VERGONHA DOS OUTROS

Por Edison Borba

Há anos converso com minha analista, sobre um problema do qual não consigo me desvencilhar: a vergonha dos outros.
Frequentemente, sou atacado por um sentimento de vergonha, de algo que eu não cometi. É uma sensação ruim, uma indisposição que me deixa com problemas estomacais. Meu fígado reclama, meus rins protestam, meu coração acelera, causando-me um desequilíbrio fisiológico, difícil de controlar.
Estou me tornando uma pessoa solitária e... incapaz de acessar os meios de comunicação. Está difícil ler jornais e revistas, ouvir noticiários no rádio e também os transmitidos pela televisão. É uma questão de sobrevivência.
Todas as vezes que tomo conhecimento de fatos envolvendo políticos, empresários, juízes entre outros, sou acometido pelo sentimento de vergonha.
Quando jornalistas entrevistam pessoas doentes, cidadãos nas filas hospitalares, esperando há meses, por uma consulta médica, meu rosto fica corado e quase morro.
Minha analista aconselhou-me uma viagem para a Europa, fazer uma imersão em algum SPA, ou até frequentar grupos de apoio, mas nada resolverá o meu problema, pois o foco está fora do meu corpo, à vergonha não é minha e sim dos outros.
Como fazer, para “fazer” os senhores da política, sentirem vergonha pelo desperdício do dinheiro público?
Como não sentir vergonha, ao tomar conhecimento da precariedade no ensino brasileiro?
Minha crise alérgica aumenta todas as vezes que fico envergonhado com advogados defendendo os envolvidos nas quadrilhas envolvendo “famosos”.
Já estive quase na CTI, por intoxicação, no mês das eleições. Tive que ser medicado, cheguei usar remédios controlados (os tarja preta), após assistir a um programa eleitoral. Foi uma dose muito forte, que eu quase explodi. Que vergonha! Que vergonha!
Creio que estou sendo intoxicado pelo excesso de “desavergonhice” que está assolando o Brasil.
Busco refúgio no consultório da minha analista, que sob a proteção Freudiana, me fornece condições de continuar sobrevivendo com a falta de vergonha, dos outros.
 

 
 
 
 
 
 
 

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário