terça-feira, 20 de março de 2012

EU TENHO A FORÇA

Thor, cabelos e barba vermelhos, estatura elevada, representa a força. Disparando raios e relâmpagos ele domina os homens, amedrontando-os. Com o seu poderoso martelo, ele nunca erra seu alvo. Um dos mais fortes Deuses da história européia.
O tempo passou e os deuses não voam e nem usam martelos, mas dirigem máquinas poderosas conhecidas como automóveis. Sua força é proveniente do  poder financeiro. Eu tenho a “grana”, com esse grito, da mesma forma que Ali Babá, abria a entrada de sua caverna, essa “senha” abre portas, portões, escritórios, delegacias, palácios, ministérios, portos, aeroportos e tudo que é movido a dólares, euros ou até mesmo pelo humilde real.
O destino vive armando “arapucas” e “armadilhas”, cruzando caminhos e mudando o rumo de muitas histórias.
Uma frágil bicicleta contra uma máquina de corridas, cuja potência pode ultrapassar a duzentos quilômetros por hora. Um trabalhador, simples, de família humilde atravessa a vida do poderoso Thor.
Mais um caso de violência nas estradas. Mais um número para as estatísticas. Mais um inocente que morre na contra mão atrapalhando o tráfego.
Que importância terá esse homem, diante do poder de um Deus dos relâmpagos e dos raios. Em poucos dias nada mais restará do “homem da bicicleta”. Mais uma cruz perdida nas curvas das nossas vias.
Aos poucos, a imprensa revela que o poderoso Senhor dos Anéis e das Jóias, não poderia estar pilotando uma máquina mortífera. Como todo cidadão, seus pontos já deveriam ter confiscado à sua habilitação, mas o famoso grito “eu tenho a força”, deixa claro que apenas os míseros mortais são penalizados.
Porém, a vida é cheia de mistérios. O jovem Deus nórdico, filho de um belo e poderoso casal, que há poucos dias desfilava sua força, beleza e poder pelo “circus” carnavalesco, está definitivamente marcado pela presença do homem da bicicleta. Um simples trabalhador, entrou no palácio e manchou os tapetes e estofados com seus pés sujos de barro. Seu sangue jamais sairá das mãos que pilotavam aquele volante.
Esteja onde estiver: iates, salões, palácios, praias paradisíacas ou em jantares fabulosos, lá estará o homem da bicicleta. Mesmo quando o tempo apagar da estrada as marcas dos pneus e os jornais não noticiarem mais a tragédia, a presença do homem da bicicleta permanecerá indelével.
O Deus Thor, nunca mais será o mesmo. Em sua vida, estará sempre uma bicicleta, um homem e uma estrada. Quando estiver sozinho, em seus belos aposentos, ou dirigindo mais um potente automóvel. Quando estiver voando para terras distantes. Quando dançar em festas nos salões badalados e freqüentados por deuses e deusas, forjados no dinheiro, lá estará o homem da bicicleta, empurrando seu veículo com o pé esquerdo no chão.
O destino é implacável! Essa imagem nunca mais abandonará o Deus Thor, permanecendo junto a eles por muitas e muitas gerações.
Edison Borba





Um comentário:

  1. Querido, professor Edson ,mais uma vez, você arrasou com o meu coração, li e chorei muito, tudo o que você sentiu, pensou e escreveu eu também senti, pensei... mas, não escrevi...E aí está a grande missão do escritor ter a coragem de escrever, denunciar e proclamar a triste realidade das injustiças que nos cercam e nós estarrecidos, porém calados , temerosos...seguimos o nosso destino, como se tudo isso fosse natural e ,aí ,vem você com sua coragem e diz tudo aquilo que está na nossa
    garganta tirando o ar...TE AMO , PROFESSOR,
    MUITO OBRIGADA, POR ME DEIXAR RESPIRAR UM POUCO ATÉ O PRÓXIMO ATO, DESTA TRAGÉDIA EM QUE NEM SEMPRE CONSEGUIMOS SERMOS APENAS EXPECTADORES COMODAMENTE SENTADOS...DULCINÉA

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