quarta-feira, 28 de março de 2012

O DIÁLOGO

Essa conversa pode nunca ter acontecido, ou sim (como diz Caetano). Se  aconteceu ou não, ela não é de todo improvável. Um diálogo interessante. Duas pessoas de mundos diferentes, discutem  as suas maneiras de viver e de ver a vida. O estilo é meio história da cigarra com a formiga. A ganância e  o desprezo pelo materialismo, representado pelo dinheiro. Talvez uma situação que lembra “o primo rico e o primo pobre”.
Com quem estará a razão? É um papo que invade particularidades e intimidades de duas criaturas que, sem dúvida, cabem numa  fábula, onde no final destaca-se a “moral” da questão.
É  ver para crer, ou melhor, é ler para tentar entender.
Vamos batizar os personagens de Senhor A e Senhor B.

A –Por que você me despreza?
B- Eu te desprezo? Se pensasse em você, provavelmente reagiria assim!

A-Sei que você quer me insultar. Diga algo para me ofender!
B- Você para mim não passa de uma nota em jornal de ontem!

A- Sei que está zangado. Deixe sua raiva sair ...
B- Não é com você que estou aborrecido, é com o mundo.

A- Insisto em perguntar: você me odeia?
B- Não consigo amá-lo, como vou odiá-lo?

A- Fico feliz em saber que você não me ama e nem me odeia. O que sentes por mim?
 B- Nada, não sinto nada por você!

A- Você acha que eu vivo para o dinheiro? Que compro tudo o que me interessa?
B- Sou um homem simples e preservo minhas convicções. Quanto a você ...

A- O que há de errado em mim?
B-Não vejo você,  com nada e como nada, mesmo com toda a sua fortuna.

A-Saiba  que é nas criaturas  imperfeitas que seu Deus prefere agir.
B-Se Deus se preocupasse com sua vida, você seria alguém melhor e menos egoísta.

A- Não tenhas tanta confiança em sua superioridade de cidadão bonzinho e honesto
B- Eu sei que quando cometo um deslize, Deus olha prá mim e por mim. E você?

A- Sei que me achas pedante, mas não sou um monstro! Fiz por merecer! Lutei de todas as formas para  ter o que tenho. Nunca precisei de Deus para me ajudar.
B-Cuidado com o que dizes companheiro.

A- Acho que somos parecidos, cada um servindo a um tipo de Senhor.
B- Parecidos? Olhe-se num espelho. Você precisa ter para ser. És apenas pelo que tens.

A- Nós dois não temos moral e nem ética, eu sirvo à ganância e você, ao ócio?
B- Não chames de ócio o que considero uma forma  de trabalho e luta.

A-Eu fiz por merecer. O mundo não tem lugar para os incompetentes.
B-O que você chama de ócio, é a minha forma de viver e não faço mal a ninguém. A sua ganância, sim.

A-Não fiz nada que outros não estejam fazendo e talvez pior do que eu!
B-Quem faz do dinheiro instrumento de corrupção, não é digno de tê-lo.

A-Você não tem competência para ter um centavo. Não saberias o que fazer com um real.
B-És um escravo das moedas. Não respeitas ninguém para obtê-las.

A-Faço o que deve ser feito. O mundo pertence aos que sabem lutar com qualquer arma.
B-O dinheiro é a raiz dos males da sociedade.

A- Dinheiro é poder e força. Com ele compramos o mundo!
B- Nem todos os homens podem ser comprados.

A- Nós os poderosos, deixamos o dinheiro pensar por nós. Ele sabe o que fazer.
B- Cuidado, tudo o que você faz na sua vida se espalha pela eternidade!

A- Melhor morrer tendo realizado os desejos, que viver melancolicamente!
B- O dinheiro não completa você. Ele compra objetos, mas não amor e felicidade.

A- O dinheiro é meu Deus. Com ele compro pessoas, ética e moral.
B- Eu não quero ser feliz assim!

A- Você não tem inteligência  para ter dinheiro. Não sabe valorizá-lo!
B-Meus valores estão acima da grana, do dinheiro, da ambição desmedida.

A-Esse papo nunca vai levar a nada. Definitivamente vivemos em margens opostas do rio!
B- Você é repulsivo!

A- Sei que  você tem inveja da minha coragem. Você é um covarde, no fundo gastarias de ter o que tenho.
B- Talvez o que eu sinta por você seja pena.

A-Existe um ditado que diz: “os ricos utilizam os pobres e os pobres se deixam utilizar”!
B-Talvez essas atitudes façam parte do código de sobrevivência, mas nem todos são tolos e se deixam comprar.

A-Eu  posso comprar quantos eu quiser, é só acenar com o papel moeda!
B-Não hoje. Não a mim.

A-Espero você na curva do rio. Um dia terás um preço e eu estarei esperando para pagar, ou não!
B-Talvez seja eu que irei esperar por você na curva do rio. Mas nesse caso, terei sempre minha mão estendida.

A-Você continua sendo um tolo!
B-Sou apenas um cidadão simples e honesto. Sou pelo que sou e não pelo que posso comprar. Não tenho raiva de você, sinto pena.

E assim o Senhor A e o Senhor B, se despediram.  Cada um seguiu por uma estrada. Cada um com suas convicções, crenças e valores.
Quem são esses homens na nossa sociedade?  Quem sou eu  nesse diálogo?
Cada um deve falar por si mesmo!

Edison Borba


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