quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

MEU AMOR PELO BRIGADEIRO!

           Estou há trinta dias, envolvido com um controle alimentar rigoroso. Eu, um guloso assumido estou  redimindo-me de todos os pecados que cometi, e não foram só os da gula.  Estou bravamente lutando contra os pudins de leite e os pães doces que, covardemente acenam para mim, quando passo frente à vitrine das padarias. As cocadas se juntaram com os caramelos e enviaram para minha casa um bilhete tentador. Estou sendo abordado pelos implacáveis doces, que sem nenhuma piedade curtem o meu desespero.
                                        
Semana passada, mais precisamente na sexta-feira, ao entrar num restaurante, fui assediado pela feijoada. Ela juntamente com seus acompanhantes, o paio, as linguiças, a carne seca e até a couve, me abordaram descaradamente. Ao tentar me desviar desse assédio, a laranja e a farofa, cercaram-me com propostas indecorosas. Consegui livrar-me da situação, refugiando-me numa mesa bem no fundo do estabelecimento,  abracei-me com as alfaces, as cenouras, o chuchu e o agrião. E constrangido mastiguei vagarosamente todas aquelas cores, e orando baixinho, pedi forças para resistir.
Porém, o martírio ainda não havia chegado ao fim,  dona feijoada, sentindo-se rejeitada, mandou recado para a cozinha e os doces foram alertados. Um simpático garçom estacionou ao lado da minha mesa, um carrinho repleto de pudins, geleias, gelatinas, tortas e bolos. Não satisfeito, o bom homem fez questão de anunciar bem alto a lista dos sorvetes. Era como uma tomada de frequência, os nomes eram recitados um a um: sorvete de abacaxi, chocolate, morango, creme, manga, flocos e por incrível que pareça, todos estavam presentes.
            Suando frio, mesmo sem ter consumido os gelados, paguei a conta e corri para a saída do restaurante, deixando o cafezinho abandonado sobre a mesa ao lado do licor.
Corri para casa, e me escondi em meu quarto. Aos poucos o sono chegou e adormeci tranquilamente. Mas, após alguns minutos de relax, fui acometido por um pesadelo; sonhei que estava num país, cujas ruas eram feitas  de chocolate. Eu,  deslizava pelas calçadas, parando em cada esquina diante de   postes de brigadeiros. As casas tinham cocadinhas nas paredes e no jardim da praça, jorrava refrescos e sucos. Das árvores podia-se colher quindins, cocadas, olhos de sogra, balas e os mais variados tipos de bolos. Eu corri enlouquecido pelas ruas perseguido por vários rocamboles e mousses. Cansado, desisti de fugir. Parei e fui abordado por um lindo sonho com cobertura de caramelo. Cansado e sem forças, cedi à tentação e abraçado àquele maravilhoso doce, acordei suado e com taquicardia.
            Hoje fazem trinta e um dias que estou limpo, sem açúcar no sangue. Meu estômago está livre de qualquer gordura. As mortadelas e os bolinhos de bacalhau estão fora da minha vida. Os chopinhos e os vinhos deixaram a minha casa. Sigo de mãos dadas com as alfaces, cenouras, beterrabas e couves. Estou cada vez mais ligado ao integral arroz, um cara limpo e integralmente ético. Disse adeus ao churrasco e a todos os seus acompanhantes. Sinto saudades da farofa, grande amiga de tantos anos.
            Estou em meu apartamento, solitário e tendo apenas como companheiros os produtos light. São magros e sem graça, porém tenho que conviver com eles por algum tempo, sonhando com meu retorno às rodas gordurosas e deliciosas das tardes de sábado. Estou afastado do meu grande amor, o brigadeiro. Há semanas que ele não me vista, porém o seu lugar em meu estômago e coração nunca será  preenchido.Alface
                                                          
Até lá, estou tendo  um caso, com as saladas e  como amiga e confidente a simpática alface.
Edison Borba
           

 

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