sexta-feira, 27 de julho de 2012

FELICIDADE TEMPORÁRIA

Acordei feliz. Abri as janelas do meu quarto e senti a brisa suave da manhã a me tocar o rosto. Respirei  profundamente para aproveitar aquele ar puro de inverno. Sorri para o dia e assobiando fui escovar os dentes. Olhando meu rosto no espelho do banheiro me senti mais jovem. Um pouco de creme de barbear, uma lâmina e lá estava eu lindo refletindo alegria de viver. Quase que perguntei ao espelho se havia alguém mais feliz do que eu.
Com essa disposição e felicidade, pude saborear meu delicioso café.
Pronto para o banho segui cantarolando para o chuveiro. Delícia aquela água morna deslizando pelo meu corpo. Cheirinho de sabonete e uma toalha macia para me acariciar.
Felicidade completa!
Com havia tempo suficiente, sentei-me no sofá, ainda saboreando uma torrada com geleia de morango. Sentindo o agradável odor da minha loção pós-barba, aconcheguei-me entre  almofadas  liguei o televisor e sintonizei no jornal da manhã.  E foi assim que minha felicidade acabou.
Marido matou mulher a facadas na frente do berço do filho de apenas um ano de idade.
Dois motoqueiros atropelados por motorista que dirigia embriagado.
Em Brasília, o caso “cachoeira” continua sem solução. Tudo faz crer que, uma pizza, tamanho família já está assando no forno do planalto.
Bandidos voltam a atacar no Complexo do Alemão. Novos confrontos entre policiais e traficantes assustam a comunidade local.
Goleiro da seleção brasileira que disputaria os jogos olímpicos em Londres sofre distensão muscular e volta ao Brasil.
Incêndio numa favela de São Paulo, deixa centenas de desabrigados.
Jovem brasileira morre no Peru, após cair num precipício.
Polícia não consegue conter as cracolândias. Mulheres grávidas e crianças fazem parte do imenso grupo de viciados espalhados por diversos bairros da cidade.
Os desabrigados pelas enchentes do ano de 2011, ainda continuam desabrigados. O dinheiro liberado para construção de casas populares sumiu.
Professores universitários continuam em greve e na Bahia, o número de dias sem aulas já ultrapassa a cem.
Centenas de pessoas sofrem sem atendimento nas filas dos hospitais  públicos
Mudei de canal. Verifiquei em quatro emissoras diferentes e as notícias eram as mesmas. A diferença ficou apenas na entonação da voz dos jornalistas.
Aos poucos minha alegria foi dando lugar à tristeza. Faz anos que as notícias não se alteram. Mortes, roubos,  greves, assassinatos, acidentes e tragédias. Sei reconhecer que muitas coisas boas também estão acontecendo e que as calamidades ecológicas fogem ao nosso controle. Porém, a maioria dos eventos ruins; foram provocados, por seres humanos. Nós os racionais estamos à frente quando se trata de matar, prejudicar e desrespeitar.
Já causamos diversas guerras, já tomamos atitudes terroristas, já humilhamos e fomos preconceituosos. Fazemos leis para desrespeitá-las. Criamos mecanismos de proteção aos bandidos e fingimos que nada de mal está acontecendo.
Continuei sentado no sofá, desliguei a televisão e deixei que as lágrimas molhassem meu rosto, como a única forma de enfrentar mais um dia.
Edison Borba

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