Acordei
feliz. Abri as janelas do meu quarto e senti a brisa suave da manhã a me tocar
o rosto. Respirei profundamente para
aproveitar aquele ar puro de inverno. Sorri para o dia e assobiando fui escovar
os dentes. Olhando meu rosto no espelho do banheiro me senti mais jovem. Um
pouco de creme de barbear, uma lâmina e lá estava eu lindo refletindo alegria
de viver. Quase que perguntei ao espelho se havia alguém mais feliz do que eu.
Com
essa disposição e felicidade, pude saborear meu delicioso café.
Pronto
para o banho segui cantarolando para o chuveiro. Delícia aquela água morna
deslizando pelo meu corpo. Cheirinho de sabonete e uma toalha macia para me
acariciar.
Felicidade
completa!
Com
havia tempo suficiente, sentei-me no sofá, ainda saboreando uma torrada com
geleia de morango. Sentindo o agradável odor da minha loção pós-barba,
aconcheguei-me entre almofadas liguei o televisor e sintonizei no jornal da
manhã. E foi assim que minha felicidade
acabou.
Marido
matou mulher a facadas na frente do berço do filho de apenas um ano de idade.
Dois
motoqueiros atropelados por motorista que dirigia embriagado.
Em
Brasília, o caso “cachoeira” continua sem solução. Tudo faz crer que, uma
pizza, tamanho família já está assando no forno do planalto.
Bandidos
voltam a atacar no Complexo do Alemão. Novos confrontos entre policiais e
traficantes assustam a comunidade local.
Goleiro
da seleção brasileira que disputaria os jogos olímpicos em Londres sofre
distensão muscular e volta ao Brasil.
Incêndio
numa favela de São Paulo, deixa centenas de desabrigados.
Jovem
brasileira morre no Peru, após cair num precipício.
Polícia
não consegue conter as cracolândias. Mulheres grávidas e crianças fazem parte
do imenso grupo de viciados espalhados por diversos bairros da cidade.
Os
desabrigados pelas enchentes do ano de 2011, ainda continuam desabrigados. O
dinheiro liberado para construção de casas populares sumiu.
Professores
universitários continuam em greve e na Bahia, o número de dias sem aulas já
ultrapassa a cem.
Centenas
de pessoas sofrem sem atendimento nas filas dos hospitais públicos
Mudei
de canal. Verifiquei em quatro emissoras diferentes e as notícias eram as
mesmas. A diferença ficou apenas na entonação da voz dos jornalistas.
Aos
poucos minha alegria foi dando lugar à tristeza. Faz anos que as notícias não
se alteram. Mortes, roubos, greves,
assassinatos, acidentes e tragédias. Sei reconhecer que muitas coisas boas
também estão acontecendo e que as calamidades ecológicas fogem ao nosso
controle. Porém, a maioria dos eventos ruins; foram provocados, por seres
humanos. Nós os racionais estamos à frente quando se trata de matar, prejudicar
e desrespeitar.
Já
causamos diversas guerras, já tomamos atitudes terroristas, já humilhamos e
fomos preconceituosos. Fazemos leis para desrespeitá-las. Criamos mecanismos de
proteção aos bandidos e fingimos que nada de mal está acontecendo.
Continuei
sentado no sofá, desliguei a televisão e deixei que as lágrimas molhassem meu
rosto, como a única forma de enfrentar mais um dia.
Edison
Borba
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