terça-feira, 16 de outubro de 2012

COTAS – UM NINHO DE VESPAS.

           É bastante polêmico e até mesmo perigoso, fazer comentários sobre o sistema de cotas para o ingresso nas universidades brasileiras. Num país em que a desigualdade social ainda é uma verdade, fica complicado estabelecer parâmetros sobre quem deve ou não ter direito a uma vaga no ensino superior.
As provas de vestibular, de alguma forma, trouxeram a possibilidade de se nivelar o conhecimento dos candidatos. Porém, esse sistema de avaliação esbarra nas nossas diferenças sociais. Enquanto crianças e jovens da considerada classe A, podem frequentar escolas com melhores condições de ensino, as demais camadas sociais precisam aceitar aquilo que o governo oferece, e que nem sempre,  é de boa qualidade.
É claro e evidente que a distribuição de renda no Brasil ainda é muito injusta e quando analisamos os grupos de menores condições financeiras, encontramos em maioria os índios, os afrodescendentes, quilombolas e deficientes. É justamente esse grupo que ocupa as escolas da rede pública de ensino (municipal / estadual / federal) que lamentavelmente, sofrem em grande maioria com o descaso das autoridades governamentais.
Um candidato que recebeu educação pública desde a sua alfabetização até o último ano do ensino médio, possivelmente, enfrentou períodos de greve, frequentou escolas pouco aparelhadas e desconfortáveis. Estudou uma grade curricular pouco atraente, além de uma carga horária menor do que o exigido para uma aprendizagem adequada.
Quanto ao trabalho pedagógico, um professor de excelência na rede pública acaba rendendo menos, do que poderia, em virtude das condições desfavoráveis em que é obrigado a trabalhar.
Somando todas essas questões às condições   familiares,  cujo  poder aquisitivo fica comprometido com a sobrevivência básica, sobrando  pouco para a aquisição de conhecimentos exigidos nos exames vestibulares, aplicar a mesma prova para todos não é justo. Caímos, portanto, no sistema de cotas, que tenta minorar (ou esconder) nossas feridas sociais. Mantemos o provão,  desculpamos os erros e ignoramos a desigualdade social.
Mas as dúvidas continuam, temos outras questões subjetivas, que envolvem situações raciais e sociais, como:
Aluno afrodescendente, de família classe A, deve entrar no sistema de cotas?
Como classificar racialmente um candidato?
Descendentes distantes de nossos índios, como deverão ser tratados?
Mesmo com todas essas dúvidas, podemos considerar a implantação do sistema de cotas, uma atitude justa para com grande parte da população.
Porém, não é certo, manter a sociedade trabalhadora submetida a condições desfavoráveis, para depois compensar com a facilitação nas vagas universitárias. Isso é indigno!
Sistema de cotas é um ninho de vespas. Uma questão que precisa e deve ser debatida. Uma situação que merece reflexão. Uma preocupação nacional.
Precisamos ter consciência, que lutar pelo sistema de cotas não invalida a luta por uma educação pública de qualidade. Não podemos ser iludidos. Não queremos receber esmolas. Não merecemos continuar a manter um sistema cruel nas bases, para depois tentar curar a ferida colocando algodão sobre a chaga.
Queremos que todos os brasileiros sejam tratados com igualdade social.
O sistema de cotas pode ser mantido como uma ponte construída em caráter provisório e emergencial, e não como algo que servirá apenas para esconder os desmandos e desigualdades que  existem no Brasil.
             Edison Borba
 
 

 

 

 

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