sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

CONFISSÕES DE UMA BOLA DE FUTEBOL

Sou apenas uma bola. Alguns me chamam de redonda, gorduchinha e até de pelota. Durante noventa minutos, sou chutada, arremessada de um lado para outro sem a menor consideração. Sou usada apenas para  alegrar a galera. Objeto de satisfação de homens e atualmente também de mulheres, que abusam da minha fragilidade para os seus deleites.
Vôo pelos ares, atravessando o campo como um foguete espacial. Rolo pelo gramado e sou perseguida sem um minuto de descanso. Chegam até a pisar em mim!
A cada final de cada partida, estou em frangalhos. Amarrotada quase murcha, um horror!
Mas, apesar dessa triste sina, às vezes sou acarinhada e até beijada. Alguns belos atletas, após conseguirem seus intentos, na paixão do momento acariciam minha pele com o roçar de seus lábios. Nesse momento, esqueço de todas as agruras da minha vida e me sinto uma princesa.
Mas, apesar desta vida enlouquecida, de campo em campo; de partida em partida, de torneio em torneio, eu também tenho meus caprichos.
Muitas vezes, quando arremessada por um forte chute, sou capaz de me contorcer no ar e mudar a trajetória certeira, rumo ao gol.
Sem que ninguém consiga perceber, tendo o vento como parceiro, deixo a galera indignada, mudando o rumo da história. Nessa hora, me sinto triunfante e vingada por tantos desencantos. Nem os enlouquecidos comentaristas, conseguem explicar o ocorrido.
Outra confidência, segredo mesmo, é que eu também sou capaz de torcer. Tenho meus times preferidos e muitas vezes (isso é “secretíssimo”)  uso de artifícios para ajudar alguns atletas. Não sou fiel a ninguém, mudo de casaca a cada jogo. Tudo depende do meu humor. Às vezes, sou tricolor, outras tantas cruzmaltina, já fui vermelho e preto e até estrela solitária. Quando chegam novos rapazes, me deixo encantar pelos verdes e até os colorados. Sou realmente volúvel. Vivo de pés em pés!
No dia 22 de fevereiro de 2012, quarta-feira de cinzas, escrevi no meu diário uma página inusitada. Diante do gol totalmente aberto e livre e sendo chutada por um elegante jogador, resolvi mudar a rumo da partida e me dirigi para a trave. Na verdade eu não imaginei que essa minha atitude infantil, fosse ter repercussão internacional. Meu corpo foi mostrado em telas do mundo inteiro, em diversos ângulos. Em câmera lenta, pela lateral e  fundo da quadra. Fui filmada até por helicópteros. Eu mostrei ao mundo do que  sou capaz. Infelizmente, ficou mal para o atleta. Acreditem que depois dessa atitude impensada, cheguei a me arrepender. O pobrezinho vem sofrendo “bulliing” e discriminação.
Atenção! Atenção senhoras e senhores: eu a BOLA, decidi que não entraria naquela rede! Naquele momento me senti senhora do meu destino e por decisão e paixão me tornei uma “gigante” da colina. Com uma cruz de malta no peito vibrei e abracei a torcida vascaína.
Edison Borba – vascaíno de nascimento!

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