segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

RODANDO A BAIANA

Severino andou beliscando a mulher de seu melhor amigo, o Lourival, durante o carnaval. Os dois eram componentes da bateria da Escola de Samba Unidos da Ladeira e companheiros de longa data. Para surpresa geral, Vandileuza,  durante a Páscoa, anunciou uma nova gravidez. Seria o quinto filho do casal. Severino não cabia em si de tanta felicidade e tratou de convidar seu maior amigo, Severino,  para ser o padrinho do novo herdeiro. Em finais do mês de outubro, chegou ao mundo, um lindo garoto. Forte, saudável que receberia na pia batismal o nome de Lourivan, em homenagem ao pai e a carinhosa mamãe.
Como o parto acontecera próximo ao final do ano, todos concordaram que o batizado só seria após todas as festas: Natal, ano novo e carnaval. Combinaram  para o domingo seguinte ao desfile das campeãs. Seria uma grande comemoração, pois acreditavam que a  Unidos da Ladeira, finalmente conseguiria subir para o primeiro grupo das grandes agremiações.
Durante esse tempo de espera, o menino crescia saudável e feliz. Lourivan era um lindo garotinho, risonho e bastante afável. Todos diziam que seria um ótimo carnavalesco, como o pai e o padrinho.
Na pequena casa construída no terreno da sogra,  a família de Lourival era só felicidade. Marido, mulher e cinco filhos numa harmonia de dar inveja a qualquer ricaço que mora em frente ao mar. Ninguém desafinava e diariamente a família desfilava amor.
Novo carnaval chegando, escola se preparando, componentes correndo contra o tempo, para que esse ano, definitivamente o pessoal da Ladeira, conquistasse o seu triunfo. Tudo dentro dos “conformes”. Na semana anterior ao desfile, Lourival recebeu a visita do Zeca, responsável pelas fantasias dos componentes da bateria da agremiação. A presença do amigo foi saudada com muita cerveja e cantoria do samba enredo. Lourival, orgulhoso com a fantasia, era só felicidade. Muita risada, batuque e samba na ponta da língua. Foi nesse clima, que Vandileuza, entrou no ambiente, com o seu garotinho no colo. Zeca, que ainda não conhecia pessoalmente o menino, e com a cabeça abastecida de muitas “lourinhas”, olhou para o guri e não se conteve: - é a cara do padrinho, bradou em voz bem alta.
Vandileuza empalideceu e tratou de oferecer mais bebida e providenciar petiscos para os convidados (nessa hora, mais amigos do casal já haviam chegado para receber as suas fantasias). Na mesma hora, Lourival sentiu uma forte dor na testa. Era como se tivessem pregado algo bem acima de seus olhos. Um calafrio percorreu o seu corpo e uma dúvida entrou em sua mente. O alcoolizado Zeca, teria razão?
E foi nesse clima, que a Unidos da Ladeira entrou  na avenida. Severino, Vandileuza, Zeca e demais componentes fazendo o melhor para conquistarem o título de campeões. O samba, composto por “Tijolinho” e “Manguaça” era melodioso e continha versos que louvavam o amor. Parecia até que tinha sido feito para Lourival, o refrão, repetido em coro diversas vezes por todos os componentes: “amar é perdoar, vem meu amor vem dançar, te quero nos meus braços, para te dar meu abraço e ver sua baiana rodar”.
A  Unidos da Ladeira, finalmente conquistou o seu primeiro título, com direito a subir para o grupo principal das escolas e também de desfilar no sábado das campeãs.
No domingo, Lourivan foi batizado, o pai, a mãe e o rebento, no colo do seu “paidrinho”, posaram para uma linda foto.
Vandileuza, conseguira virar o jogo, manter a harmonia na quadra, não atravessar o samba e continuar rodando a sua baiana.
Dez! Nota dez para essa mulher, que saiu vitoriosa levando todos os troféus para a sua galeria!
Edison Borba

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