segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

CRISE

São 22 horas de um sábado chuvoso. Após assistir a uma sessão de cinema, Augustus, retorna à sua casa e mergulha numa profunda crise. O filme que acabara de ver,   o atingiu profundamente.  Um dos personagens, homem  idoso, acometido de doença grave, espera à morte, após revelar a sua identidade sexual para o filho. Um drama familiar, muito mais comum do que se possa imaginar. Cidadão sério vive mais de quarenta anos, uma falsa vida familiar. Após  a morte da esposa, sente-se livre para viver a sua real identidade. Apesar da idade avançada, investe na nova vida, participando ativamente do mundo gay.
Encontra um jovem e divide com ele,  uma linda história de amor. Porém, um câncer aparece para encerrar de forma cruel, o relacionamento.
Seu único filho, com 38 anos, tem uma conturbada vida emocional, e diante da revelação do pai, procura entender a sua infância. Cuidando dos seus últimos dias, vai costurando através de “flashs”, a sua história e a de seus pais. Revive a infância, adolescência  e os seus diversos romances. Inspira-se na força paternal e descobre que todas as formas de amor são possíveis.
Esse, foi o drama que Augustus, assistiu no telão do cinema. Salvo algumas diferenças, o filme retratava,  em parte, os seus dias.
Ele, homem sessentão, mantém uma vida reclusa, guardando sua verdadeira identidade trancada a sete chaves. Agora, com a velhice batendo à sua porta, sente-se sozinho e vazio. Após, alimentar alguns amores que não sobreviveram, está cada vez mais melancólico, alimentando a triste idéia de que “ninguém ama um gay idoso”.
Talvez, seja apenas mais uma das suas mórbidas fantasias, e provavelmente uma forma de não se arriscar, como fez o personagem do filme.
Augustus, sempre teve uma queda para o dramalhão mexicano, quando se apaixonava mergulhava  de cabeça, sem medir conseqüências. Quando, os amores terminavam, fazia que “ia”  morrer, para em seguida se recuperar nos primeiros braços que se abriam para ele. Foi assim até aquela noite de sábado.
Talvez a chuva, o tempo frio e uma desilusão afetiva que acabara de sofrer. Talvez, o peso dos anos e a falta de forças para recomeçar. Talvez, porque essa última relação tenha sido muito real para ele. Por todos esses “talvez” é que Augustus, não sentia mais vontade de lutar pela vida.
A faxineira, ao chegar  segunda-feira, encontrou o corpo.
O ocorrido foi registrado na décima D.P. como morte natural.
Augustus desistiu definitivamente de sonhar!
Edison Borba

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