domingo, 9 de junho de 2013

ANIMISMO CRUEL

           Buscando uma definição para a palavra animismo, encontramos no dicionário o seguinte: “tendência a considerar todos os seres da natureza como dotados de vida e agir conforme uma finalidade”.
Na infância, a presença do animismo, permite que as crianças, brinquem com bonecos, como se os mesmos tivessem vida própria.
O incrível escritor Monteiro Lobato, soube aproveitar magnificamente bem, no Sítio do Pica-Pau Amarelo, essa condição. Emília a boneca de pano, o Visconde de Sabugosa, uma espiga de milho viveram e ainda, vivem, na imaginação de quem teve a oportunidade de saborear essa incrível história.
Infelizmente, o animismo tem estado e nossas vidas de uma forma desagradável. Quando precisamos atravessar uma rua ou avenida temos medo dos automóveis. Ônibus e caminhões nos causam pavor, são como monstros que caminham por suas próprias rodas. São independentes e trafegam segundo seus próprios instintos.
Para nós, não existem motoristas, pessoas autorizadas a conduzir veículos. Cidadãos que deveriam ter passado por uma autoescola que os diplomou, não só para saber conduzir a máquina, como também para  obedecer às regras que regem o tráfego e o trânsito. São seres humanos, que, quando não estão sentados diante de volantes são pessoas comuns, possuem famílias e frequentaram escola. Pelo menos receberam uma educação básica formal e informal. Porém quando entram em seus veículos, ficam possuídos de outra identidade, tipo o médico e o monstro.
Tornam-se violentos, perigosos, esquecem a regras básicas da educação e a gentileza não está sentada no banco do carona. As leis ficaram apenas nos livros e o pedestre, vira uma caça a ser abatida.
Seres humanos  ficam desumanos, animalizam-se e se deixam possuir por um espectro maligno de quatro rodas.
Entre esses seres, também existe um hierarquia, uma delas é o tamanho. Caminhão vence um ônibus, e este abate uma caminhonete apesar de todos serem dirigidos por trabalhadores assalariados. 
Outra condição classista está no valor financeiro,  uma Mercedes – Benz SLR Mac Laren ou  uma Ferrari, podem  sentir-se mais poderosos e, portanto, acima das leis. Esses automóveis possuem vida social intensa, quando  chegam em um restaurante ou teatro, todos correm para atendê-los. Podem ultrapassar sinais verdes, atropelar, matar e mutilar. Eles são poderosos podem voar nas estradas. Têm vida própria, são a “nata” da família automobilística.
São  mais temidos do que os poderosos Jamantas. A diferença está no indivíduo de quem eles são donos. Uma Mercedes provavelmente é dona de alguém famoso, rico  milionário.  Um  caminhão, possui um trabalhador.  Com quem está a força social?
Um orgulhoso caminhão delinquente, poderá ficar na garagem por muitos anos, mas, uma Mercedes, dificilmente sairá das estradas, mesmo tendo cometido um assassinato. A justiça  as protege e também, outros famosos veículos. Nenhum policial terá a coragem de colocar bafômetros em seus canos de descarga.
Animismo, sim animismo! Brutal, violento e desumano!
Cuidado ao atravessar uma rua, avenida ou estrada, pode vir um veículo com o tanque cheio de gasolina, álcool, cerveja ou vodka, que irresponsavelmente dirige seu proprietário, inocente cidadão, que não tem culpa dos desacertos de sua máquina.

Edison Borba

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