sexta-feira, 22 de julho de 2011

DOMINGO

Sol brilhando, brisa suave,  mar azul, água morna e céu de brigadeiro. É domingo, de um dia de verão. Carioca não gosta de dias nublados, reza pra não chover e ama fins de semana na praia. Depois de uma semana de trabalho o  lugar mais democrático do mundo é a areia. Olhar as ondas num vai-e-vem ritmado e monótono é terapia Freudiana que relaxa e inebria. Acalma e ajuda a manter o equilíbrio restabelecendo as forças dos habitantes da cidade maravilhosa. Na imensidão do areal não há distinção de raça, cor, religião, profissão ou qualquer outra condição capaz de se transformar em preconceito. Alguns vieram de carro, outros de bicicleta e a galera da integração ônibus-metro, se misturam sob as barracas coloridas. Corpos magros, gordos, barrigas de tanquinho ou de chopinho, celulites e silicones buscam o melhor bronzeado. Ambulantes alardeiam seus produtos: água-de-coco, pastéis, biscoitos e mate gelado. Crianças correm, atletas praticam frescobol e os mais afoitos se exibem em mergulhos olímpicos. Castelos de areia são construídos por mãos infantis e habitados por fadas e princesas. Porém, nesse plácido domingo carioca uma onda se formou. Não uma onda marítima, daquelas que os banhistas esperam para “furar”. Sem que ninguém soubesse como ou porque, ela avançou sobre tudo e todos, num sentido contrário ao balanço do mar. Levando de roldão o sol, o domingo, os risos, os sorvetes, os castelos e principalmente a felicidade. Uma onda social, humana, gigantesca, pior que o tsuname destruiu os sonhos de um domingo de verão. Era o arrastão levando meus sonhos de domingo, como o chinelo de um velho leva em sua sola, quando o  pé de ancião se desloca pelo chão, deslizando sofregamente levando o pó e levando também a saudade dos seus dias de juventude. Como uma madrasta má, arrasta uma criança que não é seu filho, mas apenas uma criança que não ama. Era o arrastão que impeliu, conduziu, atraiu a multidão vadia, ao local do mar e, para imitá-lo, formou uma onda, que não molhou o corpo, mas os olhos dos que sofreram a perda da paz. Era o arrastão de longos anos de vida, que arrastada pela miséria conduz ao crime o cidadão faminto. Era o arrastão daqueles que vêm o tempo passar, se arrastando em horas de espera. Espera sem tempo, sem alento, dos que não tem porque esperar, e ainda teimam em viver, em filas de espera na vida sofrida dos que nada tem a perder. Era o arrastão do medo, da fome e da insegurança. Do hábito de viver mal, o mau viver num domingo de sol.

Edison Borba – Professor / Coordenador Pedagógico do PINCE

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