segunda-feira, 11 de julho de 2011

QUAL É O PROBLEMA?

Diante da mesa daquele bar imaginário, no local escolhido, estabeleci meus próprios limites. Antes de ocupar a cadeira observei o ambiente. Sou supersticioso, portanto tomo pequenos cuidados. Tenho alguns temores, o que me obriga a inventar o meu próprio espaço. Às vezes sou levado a acreditar que comemoro sempre o gol do time adversário. Dou as minhas cochiladas, mas presto atenção em tudo. Sei exatamente a dimensão em que vivo, mas olho desconfiado para o crescimento do mundo. Quero garantir a minha sobrevivência mantendo o meu equilíbrio. Já engoli melancias, para obter um diploma e me aproximar de pessoas famosas  que possuem status social. Eu queria ser acolhido pela sociedade dominante. Afastar-me de pessoas mal ajambradas, cafonas, tacanhas que  arrastam sandálias. Sei que meus amigos vão me matar, mas quero mudar minhas experiências. Provar novos sabores, misturar salgados e doces, batatas, cebolas com geléias. Sentir novas texturas. Transcender as tradições e quebrar paradigmas, através de novas refeições. As cozinhas são um reflexo da nossa importância. Criamos nova visibilidade através dos sabores dos pratos, provando criativas e sofisticadas receitas. Tomando chazinhos aromáticos, para aquecer as noites, mesmo que não sejam frias, ostentando uma duvidosa bagagem de quem conquistou o mundo. Analisar os alimentos, observar  a leveza das saladas modificar e reinventar o que não vai ser consumido. É bom esclarecer, que não quero  me sentir culpado e nem ser infantil. Também não quero discriminar ninguém. Meu mundo ficou pequeno e quero dar o primeiro passo. Sei que os desafios são muito grandes. Quero  terminar uma era e buscar um ideal. É inútil debater esses pensamentos que moram dentro de mim. Quando era criança  queria ser violoncelista, isso parece engraçado, mas como a concorrência era muito grande, desisti da idéia e pensei em outras coisas, como ser um jóquei e sair galopando cavalos velozes. Precisava encontrar alguma coisa, sem desembolsar tostões. A preguiça de ler e entender os livros que povoavam as bibliotecas me fez descobrir que deveria recorrer a novos amigos, fazer aliados. Pessoas que buscassem o saber, olhando as telas dos computadores sem nada entender. As que fingem preservar as tradições, debruçadas nas janelas de suas mansões.  Por mais estranho que pareça, e mesmo sem saber o nível dessa gente, são elas que continuam entrelaçando, tramando e ditando suas preferências, suas cores e fazendo os milagres acontecerem. São elas que flutuam nos salões, falando em seus celulares imaginários, testemunhando através de gerações os destinos dos outros e  garantindo os seus próprios tesouros. É inútil debater essa questão. Tenho pena das pessoas, que usam telefones antigos tentando resgatar o que já se perdeu no mundo. Faço parte dessa parcela flutuante da população que fica observando essa gente que freqüenta mesas de bares, consomem e não são consumidas, misturam sal no café e se deliciam com pimenta no mingau. As que tecem e fiam nossas roupas, e que nos permitem observá-las através das vidraças escuras de seus carros importados. Mas um dia, tudo isso vai me modificar. Qual é o problema?


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