sábado, 16 de julho de 2011

GILDETE - A GARÇONETE

Logo que iniciou a investigação, Mauro percebeu as dificuldades que encontraria para reconstruir os fatos. Em tudo o que já havia pesquisado, nada realmente consistente havia sido encontrado, eram apenas  informações superficiais. Dono de uma excelente memória, Mauro era capaz de reviver com bastante precisão, tudo o que teria acontecido. Esse, era o seu grande trunfo, sua memória! Já havia trabalhado em outros casos, e conseguira chegar à solução, mesmo quando a trama se mostrava absolutamente impossível de ser desvendada. Em sua mesa de trabalho, acumulavam-se documentos, entrevistas feitas com pessoas envolvidas, algumas fotos,  rascunhos, rabiscos e anotações feitas por ele, na tentativa de obter uma linha que o levasse a solução daquele problema. Após dois anos de intensas investigações, o caso continuava sem ser resolvido. Ao contrário do que já ocorrera na sua última investigação, que em pouco tempo os implicados já estavam respondendo pelos delitos cometidos. Outra questão, que também era um impecilho para agilizar a solução,  era a falta de dinheiro. Não havia verba para empreender viagens, utilizar o correio e a conta de telefone ficava cada vez mais alta. Se ele pudesse contar com a ajuda de um estagiário, sem dúvida muitos pontos poderiam ser esclarecidos de forma mais rápida. Mesmo enfrentando todos esses obstáculos, Mauro sabia da sua responsabilidade. Havia um compromisso ético, assumido com a sua consciência, que nada o impediria de solucionar mais esse caso. Pontualmente, às 23 horas, ao virar a cabeça  em direção ao armário que ficava do lado direito da sua escrivaninha, reparou em uma pilha de papéis, jornais e revistas, que estavam ali, desde o início das investigações. Por ser canhoto, Mauro pouco se voltada para o que ficava à sua direita. Nesse instante ele sentiu algo estranho percorrendo o seu cérebro. Lembrou-se que no dia do acontecimento,  às onze horas da noite, recebera  através de seu telefone particular, o pedido para cuidar daquele caso. Coincidência, ou não, Mauro levantou-se e caminhou até aquela empoeirada pilha de papéis. O que mais o intrigava, era o fato de nunca ter percebido que muitas informações poderiam estar contidas nas páginas daqueles jornais e revistas. Foi nesse clima, que aleatoriamente apanhou um jornal, e sem olhar a data, viu estampada na primeira página, aquela foto. Imediatamente, sua boa memória foi acionada, para o noticiário, que ouvira numa rádio, exatamente no dia e hora que seu telefone tocou, e uma voz solicitou os seus serviços. Tanto o jornal como a rádio informavam sobre o mesmo incidente. A foto  exibia uma multidão , aparentemente excitada, avançando por uma rua. A voz do jornalista na rádio era inflamada e nervosa, ao dar a notícia. Havia uma conexão entre a foto e a voz. Agora era o momento de juntar as duas situações e tentar reconhecer naquele velho informativo, algo que pudesse levá-lo a alguma solução. Simultaneamente ao seu trabalho de investigador, Mauro mantinha um romance com a garota do bar onde diariamente tomava o seu cafezinho. Foi com o amarelado jornal nas mãos e na cabeça a voz  do radialista, que Mauro lembrou-se da Gildete, a garçonete. Deixando sobre a mesa o informativo e assoviando uma canção, fechou o escritório, adiando por mais um dia a solução daquele caso.




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